Novo envenenamento com Novichok. Londres pede explicações a Moscovo

por Andreia Martins - RTP
O incidente aconteceu a pouco mais de dez quilómetros de Salisbury, onde se deu o caso de Sergei Skripal em março Henry Nicholls - Reuters

Um casal britânico está em estado crítico depois de ter sido visado pelo mesmo agente nervoso usado no envenenamento de Sergei Skripal. O incidente aconteceu a pouco mais de dez quilómetros de Salisbury, onde se deu o caso do ex-espião russo no início do ano. O governo britânico já pediu explicações ao Kremlin.

Meses depois do envenenamento que provocou um incidente diplomático à larga escala entre a Rússia e vários países ocidentais, o Reino Unido volta a registar mais um caso de envenenamento em solo britânico.

Desta vez foi um casal britânico, encontrados em estado inconsciente no passado sábado, e que continuam hospitalizados em estado crítico. O incidente aconteceu a 15 quilómetros de Salisbury, a cidade onde Sergei Skripal e a filha, Yulia Skripal, foram envenenados no início de março, depois de terem sido expostos ao agente Novichok, um neurotóxico de qualidade militar, desenvolvido pela Rússia.  

Dawn Sturgess, de 44 anos, e Charlie Rowley de 45, vivem em Amesbury, a 13 quilómetros de Salisbury. Na quarta-feira, Neil Basu, o principal responsável pela unidade de contraterrorismo confirmava que os resultados das análises feitas ao casal “mostram que as duas pessoas foram expostas ao agente nervoso Novichok”, depois de análises feitas no laboratório militar de investigação de armas químicas, em Porton Down, Wiltshire.  

A polícia esclareceu entretanto que a zona residencial onde o casal foi encontrado foi analisada e entendeu que não existem riscos significativos para a saúde pública. O jornal The Independent refere que as autoridades de saúde estão a aconselhar os habitantes locais a evitar entrar em contacto com lixo ou objetos abandonados ou desconhecidos, por precaução. Também por precaução, vários locais em Amesbury foram vedados pela polícia.  

Realizou-se já esta manhã de quinta-feira uma reunião de emergência Cobra, formado por membros do Governo e forças responsáveis pela segurança, de forma a analisar este caso. Um porta-voz da primeira-ministra Theresa May revelou que este incidente está a ser tratado com “extrema seriedade”.  
"Estou à espera de um telefonema do Estado russo"
Mas apesar das incertezas que rondam o envenenamento, o Reino Unido não hesita em apontar o dedo a Moscovo. Ben Wallace, ministro britânico da Segurança, já pediu esclarecimentos ao Governo russo.  

“Estou à espera de um telefonema do Estado russo. Eles podem emendar este erro, podem dizer-nos o que aconteceu, o que fizeram, e ajudar-nos a esclarecer este caso. Eles são os únicos que poderiam ajudar a completar todas as pistas de forma a conseguirmos manter as pessoas em segurança”, referiu o ministro em declarações à BBC.  
Ben Wallace disse ainda acreditar que os dois cidadãos britânicos não foram “diretamente atingidos”, mas que foram “vítimas das consequências do ataque anterior”.  

“Não sabemos tudo o que aconteceu antes, durante e depois do ataque contra os Skripals”, declarou o ministro.  

Em declarações à imprensa britânica, vários responsáveis referiram já que  este casal não teria qualquer ligação ao antigo espião russo e que o cenário de exposição acidental ao agente Novichok seria o mais provável.  

Jeremy Hunt, ministro britânico da Saúde, refere que o incidente com o casal aparenta tratar-se de uma "infeliz efeito posterior" do ataque de março.

“Isto aparenta tratar-se de um efeito posterior muito infeliz (…) do incidente anterior. Neste momento, não estamos a especular que se tratou de uma tentativa deliberada de homicídio, mas temos de manter uma mente aberta com base no que a polícia diz”, referiu o ministro em declarações à Sky News.

No mesmo sentido, o deputado John Glen, eleito em Salisbury, acredita que este incidente resulta da “parafernália descartável” deixada pelo envenenamento de Sergei Skripal.  

“O meu instinto é que o casal de alguma forma encontrou alguma parafernália descartável do incidente dos Skripal, não há razões para acreditar que tenham sido atingidos de forma separada”, referiu.
Ajuda russa "foi rejeitada"

Na reação ao pedido de esclarecimentos por parte do ministro britânico da Segurança, o Kremlin já esclareceu esta quinta-feira que "ofereceu ajuda" na resolução do caso que envolveu Sergei Skripal, mas que essa ajuda foi declinada.

Apesar desta requisição por parte de Ben Wallace em declarações à rádio pública britânica, Moscovo refere que não foi recebido nenhum pedido de esclarecimento através dos canais oficiais.

"Para minha vergonha, não sei quem é Ben Wallace. Mas o ministro sabe muito bem que a Rússia propôs uma investigação conjunta há muito tempo. (...) Infelizmente, o lado britânico não mostrou interesse nessa proposta", referiu Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.

Moscovo nunca admitiu qualquer intervenção ou ligação no ataque de 4 março contra o ex-espião, Sergei Skripal e a filha, Yulia Skripal, a quem o Reino Unido atribuiu o envenenamento.

Em resposta ao que foi designado pelas autoridades britânicas como o primeiro ataque químico em solo europeu desde o final de II Guerra Mundial, Londres deu ordem de expulsão de vários diplomatas russos, a que se seguiu a expulsão de outros representantes diplomáticos de Moscovo em vários países aliados, incluindo nos Estados Unidos.  

No total, mais de uma centena de diplomatas russos foram expulsos, e o Kremlin decidiu responder na mesma moeda, ao expulsar representantes de vários países da Rússia.  
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