Nova esperança no tratamento da depressão

por Agência LUSA

Investigadores franceses poderão ter aberto caminho a novas formas de tratamento da depressão ao descobrirem que a supressão de um gene torna os ratinhos resistentes à doença, segundo um novo estudo.

"Quando submetidos a condições semelhantes às da depressão humana, ratinhos a que retirámos um gene resistem ao stress como se estivessem sob os efeitos de um antidepressivo", explicou Michel Lazdunski, chefe da equipa de investigadores.

As conclusões dos trabalhos destes cientistas do Instituto de Farmacologia Molecular da Universidade de Nice vêm publicadas na última edição da revista norte-americana Nature Neurosciences.

Entre os testes mais significativos, os investigadores observaram que um ratinho posto em estado de depressão e mergulhado na água, um elemento de que não gosta, acaba por resignar-se, imobilizando-se.

Porém, ratinhos sob antidepressivos ou aos quais foi retirado um gene continuam a lutar. O gene em causa corresponde ao canal iónico TREK-1, existente em todas as regiões do cérebro envolvidas na depressão.

"Um canal iónico é um microgerador que cria os sinais eléctricos pelos quais as células nervosas comunicam entre si. Há milhares de canais iónicos por célula. São a base do nosso computador pessoal", explica o professor Lazdunski, cujo laboratório se especializou no estado desses canais.

A descoberta do gene do TREK-1 implicado no mecanismo da depressão permite designar um alvo novo para a investigação do tratamento da doença.

"Os antidepressivos utilizados actualmente só são eficazes em cerca de dois terços dos pacientes", sublinha Lazdunski. "No plano ideal, um novo medicamento deveria dar um maior alívio às pessoas, mas também agir mais rapidamente que os antidepressivos conhecidos e prevenir as recaídas".

Cerca de 20 por cento das mulheres e 10 por cento dos homens sofrem pelo menos uma vez na vida de uma depressão que requer tratamento médico. Os investigadores sabem agora que alguns pacientes podem ter uma predisposição genética à qual se junta um stress externo (luto, divórcio, desemprego, etc.) que desencadeia a doença.

"Claro que não se trata de encontrar uma aplicação desta descoberta através da manipulação dos genes humanos e da supressão do gene do TREK-1 no homem. Pode-se no entanto imaginar-se um novo medicamento que, ao bloquear esse canal iónico, teria o mesmo efeito da eliminação genética".

Esta é uma pista que não deverá ser ignorada pelos laboratórios farmacêuticos, sendo que o mercado dos antidepressivos representa actualmente "pelo menos 10 mil milhões de euros em todo o mundo".

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