"Nova era" de relações bilaterais. Xi Jinping visita a Rússia na próxima semana

por Carlos Santos Neves - RTP
Xi Jinping e Vladimir Putin avistaram-se pela última vez em setembro, no Uzebequistão Sergey Bobylev - Sputnik via Reuters

O presidente chinês, Xi Jinping, vai visitar a Rússia na próxima semana, entre os dias 20 e 22 de março, confirmaram esta sexta-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China e o Kremlin, que anunciou também, desde já, a assinatura de uma declaração sobre o advento de uma "nova era" das relações bilaterais.

"A convite do presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, o presidente Xi Jinping vai realizar uma visita de Estado à Rússia, entre 20 e 22 de março", adiantou o Ministério chinês em comunicado.

Segundo Wang Wenbin, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, aquela que será a primeira deslocação de Xi Jinping a solo russo em quase quatro anos visará, em parte, promover “a paz”. Todavia, da capital chinesa não sai qualquer referência direta à guerra na Ucrânia: o mesmo porta-voz apontou para uma lacónica troca de impressões sobre importantes temas regionais e internacionais, o robustecimento da “confiança bilateral” e o aprofundamento das “parcerias económicas”.

Xi Jinping e Vladimir Putin avistaram-se pela última vez em setembro, no Uzebequistão, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai.

A visita do líder chinês a Moscovo acontece depois de Pequim ter divulgado, no mês passado, um plano de 12 pontos tendo em vista uma “resolução política para a crise da Ucrânia”, olhando à proteção das populações civis e ao respeito mútuo pela soberania. Iniciativa rapidamente desvalorizada pela generalidade das chancelarias ocidentais.Na quinta-feira, um alto diplomata chinês renovou o apelo a negociações entre russos e ucranianos durante uma conversa telefónica com o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba.


Estados Unidos e demais aliados da NATO questionam a credibilidade do plano chinês, uma vez que este não é acompanhado por uma clara condenação, por parte de Pequim, da invasão da Ucrânia, que continua a ser classificada pelo Kremlin como uma “operação militar especial”.
“Cooperação estratégica”
Em comunicado, a Presidência russa veio entretanto sinalizar que Xi Jinping e Vladimir Putin se preparam para debater “tópicos de desenvolvimento de relações alargadas de parceria e cooperação estratégica entre a Rússia e a China”. Quanto à situação da Ucrânia, Moscovo saúda o que considera ser "a contenção" da China.Alguns meios de comunicação internacionais noticiaram que o presidente chinês deverá conversar ao telefone com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, após a deslocação a Moscovo. Oficialmente, porém, Pequim não o confirma.


China e Rússia proclamaram, em fevereiro de 2022, dias antes da invasão da Ucrânia, uma parceria “sem limites”. Desde então, os laços bilaterais têm sido sucessivamente reforçados, com as trocas comerciais entre os dois países em aceleração – recorde-se que a China é maior importador do petróleo russo.

Análise de Filipe Vasconcelos Romão, comentador de assuntos internacionais

No atual contexto da guerra, o espaço para quaisquer negociações mediadas é praticamente inexistente: Moscovo insiste que Kiev deve anuir à anexação de quatro regiões do leste e do sul da Ucrânia, a somar à Crimeia, península do Mar Negro ocupada em 2014; o Governo ucraniano só aceita conversações se houver a garantia, à partida, de uma retirada russa para lá da linha de fronteira que resultou do colapso da União Soviética, em 1991.

c/ agências

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