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"Nós, palestinianos, vivemos 56 anos sob terrorismo diariamente". Entrevista ao representante da Palestina em Portugal

por RTP

Nabil Abuznaid, chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal, lembrou que os palestinianos estão a ser alvo de terrorismo há mais de meio século. Numa entrevista exclusiva à RTP esta quinta-feira, Abuznaid frisou ainda que os palestinianos "não vão substituir Israel", até porque já aceitaram viver lado a lado com esse Estado, numa "pequena porção" do território.

“Julgo que a ocupação é a mais elevada forma de terrorismo. Nós, os palestinianos, vivemos há 56 anos sob ocupação, sob terrorismo, diariamente. Na minha vida, não conheci um único dia de justiça ou paz”, lamentou Abuznaid.

“Temos, portanto, um conflito iniciado há 75 anos, estamos sob ocupação há 56 anos, e nada foi feito. Esperam que os palestinianos receberam a liberdade por correio? Têm de lutar pela liberdade e, lamento, há civis que morrem nesse processo”.

Questionado sobre se condena a intervenção do Hamas, o chefe da missão diplomática da Palestina respondeu que condena “todas as mortes”. “Veja Gaza hoje: famílias eliminadas, corpos em sacos de plástico, as pessoas não podem enterrá-los, crianças não têm medicamentos. Cortaram a água e a eletricidade”, frisou.

“Israel fechou o único ponto de saída, Rafah, para impedir que qualquer tipo de ajuda médica, ou outra, chegue a Gaza. O que chamam a isso?”.
"Questão palestiniana é questão interna nos EUA"
O representante salientou ainda que o povo palestiniano não apoia necessariamente o Hamas, mas destaca a importância da democracia.

“O Hamas considera que a nossa abordagem não é a melhor, então escolheu outra. Nós acreditamos na democracia, como vocês em Portugal. Têm todos os partidos, que não concordam uns com os outros, mas às vezes a democracia acaba por prevalecer, e é essa a situação com o Hamas”, elucidou.

Quanto às reações ocidentais ao conflito, Nabil Abuznaid condenou o facto de “os israelitas que agora destroem Gaza terem um porta-aviões vindo dos Estados Unidos para os proteger”. E deixou uma pergunta ao secretário de Estado norte-americano: “quando fala da segurança de Israel, deve declarar onde deverá existir segurança; será nos territórios ocupados?”.“Porque é que este conflito não pode terminar? Todos os conflitos no mundo terminaram pela ação humana, porque os conflitos são causados por seres humanos”, frisou Abuznaid.

Para o diplomata, “a questão palestiniana é uma questão interna nos Estados Unidos: para vencer eleições, para ganhar o apoio do lobby judaico”. Além disso, acredita que “a América é o único interveniente que pode trazer paz ao Médio Oriente”.

Abuznaid usou ainda o exemplo de António Guterres, que “constantemente pede um fim para este conflito e diz que os palestinianos já sofreram demasiado”.
Parlamento português "empolgou-se demasiado"
Sobre as cores da bandeira de Israel na fachada do Parlamento português, o responsável considera que os responsáveis políticos se “empolgaram demasiado quando souberam que 40 bebés foram mortos e que mulheres foram violadas”.

“Foi de facto revoltante, mas confirmou-se que afinal não era verdade. Nem os israelitas confirmaram estas notícias falsas”, recordou, referindo-se ao facto de uma fonte do Ministério israelita dos Negócios Estrangeiros ter dito à AFP na quarta-feira que não podia confirmar tais factos.

Abuznaid disse estar, no entanto, grato ao Governo português “pela sua posição de apoio aos palestinianos todos estes anos”.

O representante da Palestina em Portugal acredita que os próximos tempos serão “dolorosos para todos”, sendo que a única solução “é parar esta guerra”.

“As guerras não têm vencedores. Penso que as guerras vão trazer mais destruição, mas encontram-se sempre pretextos para as guerras e os seus heróis. O melhor é ter heróis da paz”, defendeu.

Por último, deixou uma garantia: “Os palestinianos não vão substituir Israel. Nós aceitamos viver lado a lado com Israel, numa pequena porção da Palestina, apenas 22 por cento da Palestina histórica. Que melhor oferta precisam os israelitas que lhes façamos?”, questionou.
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