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Norte rico deve apoiar pobres do Sul que têm de investir mais no seu povo, diz PR timorense

por Lusa

 O Presidente timorense defendeu hoje em Singapura um aumento do apoio dos mais ricos e industrializados aos países pobres do Sul, vincando que estes devem saber investir melhor em educação e na melhoria de vida dos seus povos.

"Se o Sul global não for apoiado de forma significativa para recuperar os seus meios de subsistência, nenhum muro será suficientemente espesso e alto para impedir que milhões de indigentes e desesperados continuem a afluir para o Norte privilegiado", disse José Ramos-Horta em Singapura.

"Muitos no Sul global deveriam assumir a responsabilidade pela sua situação, por não investirem no seu próprio povo, na educação e nos serviços de saúde de qualidade, na agricultura e na segurança alimentar, na preservação das florestas e das fontes de água", vincou.

José Ramos-Horta falava em Singapura na abertura da 6.ª sessão plenária do Diálogo de Shangri-La, considerada uma das principais cimeiras da região sobre segurança e defesa e onde intervêm, entre outros, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas e o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius.

Também a ministra da Defesa Nacional de Portugal, Helena Carreiras, está em Singapura a participar na cimeira, segundo anunciou o seu gabinete.

O chefe de Estado timorense jantou no sábado com a presidente de Singapura, Halimah Yacob e ao início da manhã de hoje reuniu-se com o ministro da Defesa singapuriano Ng Eng Hen.

Perante delegados de dezenas de países, Ramos-Horta considerou que o mundo "está sem líderes, e as instituições multilaterais estão enfraquecidas, marginalizadas pelas superpotências".

Um contexto, argumentou, em que os que querem ocupar lugares no Conselho de Segurança da ONU, no G7 e no G20, "não mostraram a sabedoria e a liderança necessárias para forjar parcerias regionais e globais de ação para resolver as muitas catástrofes provocadas pelo homem que assolam comunidades e nações inteiras em todo o mundo".

 Defendendo mais ações de `soft power`, com estratégias e ações preventivas, em vez das ferramentas de `hard power` disponíveis para os países mais ricos, Ramos-Horta disse que as nações mais poderosas continuam a "desperdiçar recursos em rivalidades estreitas e egoístas, cada uma inclinada para a influência e supremacia regionais".

Uma situação que levou a que, apesar da riqueza anual do planeta ter crescido significativamente, continue a haver centenas de milhões de pessoas sem acesso a água potável.

"Surpreendentemente, nunca há dinheiro suficiente para água potável e saneamento, para agricultura sustentável, segurança alimentar e nutrição infantil e materna. Nunca há dinheiro suficiente para cuidados de saúde universais e hospitais totalmente equipados na maior parte do Sul global", considerou.

"Mesmo perante dezenas de milhões de seres humanos atirados de volta para a agonia da pobreza, a maioria dos países credores e os bancos comerciais em todo o mundo recusaram-se a anular a dívida dos países agora criticamente empobrecidos", sublinhou.

José Ramos-Horta disse que o planeta tem hoje aldeias onde "a maioria sobrevive em bairros de lata" e uma minoria em "casas palacianas de Alice no País das Maravilhas", sendo, porém, que todos são igualmente vulneráveis a pandemias ou ao impacto de conflitos como a guerra na Ucrânia.

Os contrastes, vincou, evidenciaram-se na resposta à crise financeira de 2008-2009, com "medidas de austeridade extrema aos trabalhadores e classe média, particularmente à Grécia e a Portugal, e ao mesmo tempo canalizando centenas de milhares de milhões de dólares para salvar os bancos europeus".

"Da mesma forma, milhares de milhões de dólares continuam a ser despejados na guerra da Ucrânia e em apoio aos milhões de refugiados ucranianos na Europa", afirmou.

"No entanto, não houve mobilização semelhante de compaixão para ajudar os países em desenvolvimento amarrados pela dívida externa, as trágicas consequências da pandemia da covid, a quebra dos mercados, o aumento extremo dos custos de transporte, a inflação, ou outras", afirmou.

O Presidente renovou o apelo ao aumento da assistência ao desenvolvimento internacional, que continua especialmente reduzida desde a crise financeira de 2008, pedindo mudanças na forma como essa ajuda é canalizada "com menos emaranhados jurídicos e burocráticos, menos exigências e intrusões, menos intermediários envolvidos na cadeia de desembolso da ajuda".

"Se o Norte rico deseja recuperar a confiança do Sul global, tem de haver uma estratégia mais sábia, mais honesta e determinada para apoiar as centenas de milhões que, durante décadas, humildemente fizeram fila para receber ajuda ocidental, grande parte da qual não foi gasta nos países supostamente necessitados, mas sim em estudos intermináveis,  missões, peritos internacionais", afirmou.

Foram dirigidos também recados também para o Sul, que não pode continuar a apontar o dedo aos países mais ricos e deve "fazer a sua parte" para melhorar as condições de vida das populações mais empobrecidas.

"Os bilionários do Sul global devem-se unir para apoiar um fundo do Sul global para a educação e saúde, para apoiar projetos como levar água potável a todas as comunidades, agricultura sustentável, segurança alimentar, emprego jovem e erradicação da acrobacia infantil e da desnutrição", disse ainda.

"Tudo isto faz parte dos novos desafios regionais e globais em matéria de segurança", sublinhou.

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