Nobel da Paz iraniana Narges Mohammadi saiu temporariamente da prisão por motivos médicos

por RTP
Os filhos de Narges Mohammadi receberam o Nobel da Paz em nome da mãe a 10 de dezembro de 2023, em Oslo. Foto: Fredrik Varfjell / NTB / AFP

A ativista iraniana foi libertada por três semanas no seguimento de uma indicação médica, segundo anunciou o advogado. Narges Mohammadi, laureada com o Nobel da Paz em 2023, está numa prisão de Teerão desde 2021 e encontra-se num estado de saúde "muito frágil" após uma intervenção cirúrgica realizada em novembro.

“Com base na indicação do médico que a examinou, o procurador público suspendeu a pena de prisão contra Narges Mohammadi por três semanas e ela foi libertada da prisão”, disse o advogado Mostafa Nilli na rede social X.

De acordo com o marido, Taghi Rahmani, a ativista foi libertada na manhã de quarta-feira e entoou as palavras de ordem dos recentes protestos no Irão: “Mulher, Vida, Liberdade”, sendo uma das principais figuras deste movimento.

“Ela saiu [da prisão] num bom estado de espírito, num estado combativo, apesar do seu estado de saúde muito frágil”, acrescentou Tahi Rahmani em declarações aos jornalistas.

Os apoiantes e a família de Narges Mohammadi consideram que esta libertação temporária é inadequada, insuficiente e tardia. “Exigimos que Narges Mohammadi seja libertada imediatamente e de forma incondicional, ou pelo menos uma extensão da libertação por três meses”, apelam.

A fundação Narges Mohammadi acrescenta que a ativista foi submetida a uma intervenção cirúrgica em novembro depois de ter sido identificado um tumor numa perna, possivelmente cancerígeno, tendo sido levada de volta para a prisão apenas dois dias após a operação.

Tal aconteceu “contra a vontade do seu médico e contra o pedido feito pela equipa de jurídica", quando ainda "não conseguia andar ou sequer sentar-se”. Desde então, Narges Mohammadi sofreu “um rápido desenvolvimento de escaras e dores intensas nas costas e nas pernas”.

Para além disso, destaca a fundação, esta “baixa médica” não será contabilizada no cumprimento da pena. Ou seja, a suspensão da pena por três semanas implica que Narges Mohammadi cumpra três semanas de prisão adicionais, quando regressar.

ONU exige libertação "incondicional" da ativista

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos pede a "libertação imediata e incondicional" de Narges Mohammadi, mas reconhece que a libertação temporária foi "importante".

"Reiteramos o nosso apelo à libertação imediata e incondicional de Mohammadi, assim como de todos os iranianos que estão presos por terem exercido legitimamente a sua liberdade de expressão e outros direitos do homem", adiantou o porta-voz do Alto Comissariado da ONU, citado pela agência France Presse.

A ativista iraniana está detida na prisão de Ervin, em Teerão, desde novembro de 2021, tendo sido condenada por fazer campanha no país contra a pena de morte e o uso obrigatório do hijab.

Depois de ter sido laureada com o Nobel da Paz, em 2023, Mohammadi foi condenada a mais 15 meses de prisão, acusada de “espalhar propaganda” contra o Estado iraniano a partir da prisão.

Na altura, os filhos de Narges receberam o Prémio Nobel em nome da mãe, em Oslo. A ativista enviou uma mensagem através da prisão, afirmando que acreditava na “perseverança” dos iranianos contra “a repressão e o autoritarismo”.

Ao longo dos 52 anos de vida, Narges Mohammadi já esteve aprisionada 13 vezes, foi julgada por cinco vezes e foi condenada, no total combinado, a 32 anos de prisão e a 154 chicotadas.
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