Presidentes da Meta, TikTok e X testemunharam esta semana no comité judiciário do Senado dos Estados Unidos, com legisladores e pais preocupados face aos efeitos das redes sociais em crianças e jovens. Mark Zuckerberg pediu desculpa a famílias de vítimas.
Predadores sexuais, recursos viciantes, suicídio e transtornos alimentares, padrões de beleza irrealistas ou assédio moral são apenas algumas das questões com que os jovens lidam nas redes sociais, e defensores de crianças e legisladores dizem que as empresas não estão a fazer o suficiente para protegê-las.Durante o evento, que durou duas horas, pais que perderam os filhos por suicídio seguraram silenciosamente as fotos dos mortos.
“Eles são responsáveis por muitos dos perigos que nossos filhos enfrentam online”, acusou Dick Durbin, da maioria democrata no Senado dos EUA, que preside ao comité, no discurso de abertura.
“As vossas escolhas de design, as vossas falhas em investir adequadamente em confiança e segurança, a vossa busca constante por aliciamento e lucro em detrimento da segurança básica puseram os nossos filhos e netos em risco”, acrescentou.
Segundo Durdin, as plataformas de redes sociais e aplicações de mensagens “deram aos predadores novas e poderosas ferramentas para explorar sexualmente as crianças” e que a exploração sexual dos menores na internet “é uma crise na América”.
O senador da Carolina do Sul Lindsay Graham, principal republicano no comité judiciário, fez eco dos sentimentos de Durbin e disse estar preparado para trabalhar com os democratas para resolver a questão.
“Depois de anos a trabalhar nesta questão, cheguei à seguinte conclusão: as empresas de redes sociais, tal como são projetadas e operam atualmente, são produtos perigosos”, afirmou Graham.
O senador disse aos executivos que as suas plataformas enriqueceram vidas, mas que é hora de lidar com “o lado negro” e acusou as empresas de redes sociais de “destruírem, vidas e ameaçarem a própria democracia”."Sei que não querem que seja assim, mas têm sangue nas vossas mãos", disse aos presidentes executivos.
Com o Senado repleto de famílias de crianças e defensores da causa, Lindsey Graham realçou: "Temos uma grande audiência, a maior que já vi nesta sala”.
Senadores republicanos e democratas uniram-se numa rara demonstração de concordância durante a audiência, embora ainda não esteja claro se isso será suficiente para aprovar legislação como a Lei de Segurança Online para Crianças, proposta em 2022 pelos senadores Richard Blumenthal (democrata), do Connecticut, e Marsha Blackburn (republicana), do Tennessee.
“Peço desculpa por tudo o que passaram”
Num momento surpreendente durante a audiência no Congresso, o presidente executivo da Meta, Mark Zuckerberg, virou-se para os pais das vítimas no Senado e pediu desculpa.
"Peço desculpa por tudo o que passaram", afirmou Zuckerberg enquanto os pais mostravam fotografias dos filhos que morreram na sequência de exploração sexual ou assédio através das redes sociais.
"Ninguém deve passar pelas coisas que as vossas famílias sofreram e é por isso que investimos tanto e vamos continuar a fazer esforços em toda a indústria para garantir que ninguém tenha que passar pelas coisas que as vossas famílias tiveram que sofrer”, acrescentou Mark Zuckerberg. O CEO da Meta revelou que a empresa introduziu mais de 30 ferramentas para gerir as experiências online das crianças e atenuar os danos, nos últimos oito anos, entre as quais controlos que permitem aos pais estabelecer limites de tempo para a utilização de aplicações e ver quem os seus filhos seguem e com quem se envolvem.
"Estamos empenhados em proteger os jovens contra abusos nos nossos serviços, mas este é um desafio contínuo", afirmou. "Quando melhoramos as defesas numa área, os criminosos mudam as suas táticas e temos de encontrar novas respostas."
Numa acalorada sessão, o senador republicano do Estado do Missouri Josh Hawley perguntou ao CEO da Meta se compensou pessoalmente alguma das vítimas e suas famílias pelo que passaram. “Acho que não”, respondeu Zuckerberg.
O senador sublinhou que estavam presentes famílias de vítimas e questionou o fundador do Facebook se gostaria de lhes apresentar desculpas. Enquanto os pais se levantavam e mostravam as fotos, Zuckerberg pediu-lhes desculpas pelo que passaram.Desde 2016, a empresa de Zuckerberg gastou mais de 20 mil milhões de dólares em segurança e proteção e empregou cerca de 40 mil pessoas para dar resposta a essas preocupações.
O senador continuou a pressionar Zuckerberg, perguntando se assumiria responsabilidade pessoal pelos danos que a sua empresa causou e o CEO manteve a mensagem e repetiu que o trabalho da Meta é “construir ferramentas líderes do setor” e capacitar os pais. “Para ganhar dinheiro”, interrompeu Hawley.
"O conjunto de trabalhos científicos existentes não demonstrou uma relação causal entre a utilização das redes sociais e o agravamento da saúde mental dos jovens", defendeu-se Zuckerberg. A Meta está a ser processada por dezenas de Estados norte-americanos que a acusam de projetar deliberadamente recursos no Instagram e no Facebook que viciam crianças nas suas plataformas.
E-mails internos entre executivos da Meta divulgados pelo escritório de Blumenthal mostram Nick Clegg, presidente de assuntos globais, e outros pedindo a Zuckerberg que contrate mais pessoas para fortalecer o “bem-estar em toda a empresa”, à medida que crescem as preocupações sobre os efeitos na saúde mental dos jovens.
A Meta reforçou seus recursos de segurança infantil nas últimas semanas, anunciando no início do mês que começará a ocultar conteúdo impróprio de contas de adolescentes no Instagram e no Facebook, incluindo publicações sobre suicídio, automutilação e distúrbios alimentares. Também restringiu a capacidade de menores de receber mensagens de qualquer pessoa e adicionou nudges [incentivos] para desencorajar os adolescentes de navegar em vídeos ou mensagens do Instagram durante a noite. “Lamento que não tenhamos conseguido evitar tragédias”
O presidente executivo da Snap Inc, Evan Spiegel, apresentou, por sua vez, condolências semelhantes aos pais cujos filhos tiveram acesso a drogas ilegais no Snapchat.
Os pais de mais de 60 adolescentes entraram com uma ação no final de 2023 contra o Snapchat por supostamente facilitar a aquisição de drogas por seus filhos que foram usadas em overdoses.
"Lamento muito que não tenhamos conseguido evitar estas tragédias. Trabalhamos exaustivamente para bloquear todos os termos de pesquisa relacionados a drogas em nossa plataforma", acrescentou Spiegel.
A Snapchat antecipou-se e apoia um projeto de lei federal para a criação de responsabilidade legal para aplicações e plataformas sociais que recomendem conteúdo prejudicial para menores. O CEO da rede social, Evan Spiegel, pediu à indústria para apoiar o projeto.
Zuckerberg e Spiegel estavam entre os cinco executivos que foram interrogados no Congresso na quarta-feira, numa audiência intitulada Big Tech and the Online Child Sexual Exploitation Crisis.
A audiência foi convocada para "examinar e investigar a praga da exploração sexual de crianças em linha", de acordo com um comunicado do comité judicial do Senado dos EUA. Estiveram também presentes diretores executivos como Linda Yaccarino do X (antigo Twitter), Shou Zi Chew do TikTok e Jason Citron do Discord.
O presidente da TikTok, Shou Zi Chew, revelou que a empresa está vigilante em fazer cumprir a sua política que proíbe crianças menores de 13 anos de usar a aplicação.
Linda Yaccarino disse que a X não de destina a crianças – “Não temos um ramo de negócios dedicado às crianças”, considerou –, e avançou que a empresa também apoiará o Stop CSAM Act, um projeto de lei federal que torna mais fácil às vítimas de exploração infantil processarem empresas de tecnologia.
No entanto, os defensores da segurança infantil dizem que as ações das empresas foram insuficientes.
O canal de vídeos YouTube da Google esteve ausente da lista de empresas convocadas para a audiência do Senado, embora mais crianças usem o YouTube do que qualquer outra plataforma, de acordo com o Pew Research Center.
O centro de pesquisa descobriu que 93 por cento dos adolescentes norte-americanos usam o YouTube, com o TikTok num distante segundo lugar, com 63 por cento.
c/ agências internacionais