O escândalo dos Rolex está a causar uma crise política no Peru. Seis dos 18 ministros pediram a demissão na passada segunda-feira, 1 de abril, enquanto a atual chefe de Estado, Dina Boluarte, está sob investigação por alegado enriquecimento ilícito relacionado com a sua coleção de relógios Rolex e enfrenta uma pressão crescente para renunciar ao cargo.
Na origem do escândalo está a investigação do popular podcast peruano “La Encerrona” que analisou milhares de fotografias suas e revelou que a presidente peruana, de 61 anos, usou vários relógios de luxo no valor de 13 a 23 mil euros, durante
o período que esteve no governo entre 2021 e 2022, mas que não foram
declarados no registo de propriedades perante o Júri Nacional de
Eleições (JNE) peruano.
Após a divulgação da reportagem, a 15 de março, Dina Boluarte disse aos jornalistas que estava com "as mãos limpas" e que os relógios usados em cerimónias públicas são artigos “de antigamente”, confirmando que possui um relógio Rolex avaliado em 13 mil euros. “Trabalho desde os 18 anos, o que tenho é fruto do meu esforço” justificou.
Na sequência desta investigação, o Ministério Público do Peru anunciou, a 18 de março, a abertura de um “processo preliminar” contra a presidente peruana, alegadamente por não ter declarado em documentos a posse de “relógios Rolex” e por enriquecimento ilícito, de acordo com um comunicado.
A primeira presidente em exercício alvo de buscas
Na noite de sexta-feira a residência da presidente, em Lima, e o seu gabinete foram foram alvo de buscas por uma equipa de agentes da Polícia Nacional e de procuradores para cumprir um mandado de busca. A primeira vez na história do país que a polícia entrou à força na casa de um presidente em exercício, escreve o Guardian.
Os procuradores confirmaram que as buscas tinham produzido “elementos de interesse” para a investigação, mas que apesar de terem sido pedidos os relógios a Dina Boluarte, estes não tinham sido entregues, conta a Reuters. De acordo com a imprensa local, foram encontrados no Palácio do Governo oito relógios de outras marcas.
Na sequência das buscas a presidente do Peru afirmou, num discurso televisivo feito ao país no sábado, que rejeitava a forma "inconstitucional e discriminatória" como está a ser conduzida a investigação sobre um alegado enriquecimento ilícito, depois de as autoridades terem arrombado a porta da frente da sua residência na madrugada anterior.
Boluarte pediu para depor "imediatamente"
No domingo, a atual chefe de Estado pediu ao Ministério Público para depor "imediatamente", tendo em conta a "turbulência política" que o escândalo estava a causar. Antecipando assim o encontro para prestar declarações, inicialmente previsto para a próxima sexta-feira, 5 de abril. "Venho solicitar que o meu depoimento seja tomado de imediato, a fim de esclarecer os factos em investigação o mais rapidamente possível", afirmou.
Apesar de ter assumido o poder a 7 de dezembro de 2022, Dina Boluarte já sobreviveu a duas tentativas de destituição do cargo, e poderá agora enfrentar uma terceira tentativa de impeachment devido ao mais recente escândalo. Uma vez que a maioria dos deputados da oposição, de esquerda, apresentaram na segunda-feira uma moção no Congresso para iniciar o processo de destituição de Boluarte por "incapacidade moral permanente".
"Turbulência política"
Na segunda-feira, seis dos 18 ministros de Boluarte, incluindo o ministro peruano da Administração Interna, demitiram-se devido ao escândalo.
“Vou embora porque lhe pedi e a dona (Boluarte) concordou”, disse o ministro peruano da Administração Interna, Victor Torres, citando “problemas familiares”, à saída do seu último Conselho de Ministros no Palácio do Governo.
Nas horas seguintes, também os ministros peruanos da Educação, Mulheres, Desenvolvimento Agrícola, Produção e Comércio Externo anunciaram sua saída do governo. Nessa mesma noite, a presidente do Perú, Dina Boluarte, empossou seis novos ministros nomeados para substituir os membros cessantes.
c/agências