Níveis perigosos de arsénico encontrados em alimentos à base de arroz para bebés

por RTP
Michaela Rehle - Reuters

Um estudo realizado pela Universidade Queen's de Belfast concluiu que 50 por cento dos produtos de arroz para bebés contêm níveis ilegais de arsénico inorgânico.

Quase três quartos de bolos e outros alimentos à base de arroz destinados a bebés e crianças jovens contêm níveis perigosamente elevados de arsénico que têm sido associados a problemas de saúde, incluindo cancro.

Os resultados levantam dúvidas sobre a eficácia das regras da União Europeia, introduzidas no ano passado com o objetivo de reduzirem a quantidade de produtos químicos tóxicos que podem prejudicar o desenvolvimento físico e mental do bebé.

De acordo com a pesquisa realizada pelos especialistas da Universidade Queen's de Belfast, os níveis perigosos de arsénico inorgânico são também encontrados, frequentemente, em crianças que foram criadas com leite de fórmula, especialmente em versões não lácteas.

"Esta pesquisa demostrou uma evidência direta de que os bebés estão expostos a níveis ilegais de arsénico, apesar da regulamentação da União Europeia para abordar especificamente o desafio da saúde", disse Andy Meharg, o professor de ciências da planta e do solo da Universidade, que liderou o estudo.

"Os bebés são particularmente vulneráveis aos efeitos nocivos do arsénico, que podem impedir o desenvolvimento saudável, o crescimento, o QI e o sistema imunitário da criança”, acrescenta.

O professor refere ainda que "produtos como bolos e cereais de arroz são comuns na dieta do bebé. Este estudo descobriu que quase três quartos dos bolos, especificamente comercializados para crianças, excederam a quantidade máxima de arsénico".
“Pouco mudou desde a lei da Comissão Europeia” A Comissão Europeia introduziu novas regras, em janeiro de 2016, estabelecendo a quantidade máxima legal de arsénico inorgânico que os fabricantes de alimentos podem colocar no arroz e noutros produtos à base do mesmo. Contudo, Meharg e os outros investigadores descobriram que a composição de alimentos à base de arroz não é saudável, apesar da mudança.

De acordo com o estudo publicado na revista científica “Plos One”: "pouco mudou desde que esta lei foi aprovada, e 50 por cento dos produtos de arroz infantil ainda contêm um nível ilegal de arsénico inorgânico”.

Já a Agência "Food Standards" é da opinião que "é impossível eliminar o arsénico da nossa comida. No entanto, ter muito arsénico na nossa dieta pode ser prejudicial para a saúde".

O arroz contém, normalmente, dez vezes mais arsénico inorgânico do que outros alimentos e o seu consumo tem sido associado a problemas de desenvolvimento, diabetes, danos no sistema nervoso e problemas cardíacos.

Os autores disseram que havia uma necessidade urgente dos fabricantes de alimentos reduzirem a quantidade de arsénico nos seus produtos destinados a bebés e crianças. Já os pais devem procurar os produtos de arroz com o menor teor de arsénico "para proteger este grupo vulnerável".

Meharg e os seus colegas basearam as suas descobertas em amostras de urina coletadas em 79 crianças, testadas antes e depois do desmame, e ainda na análise de produtos de marca não identificados.

“Os produtores de alimentos podem reduzir os níveis de arsénico até 85 por cento se percolarem o arroz antes de usá-lo”, disse o investigador.

"Medidas simples podem ser tomadas para reduzir drasticamente o arsénico nesses produtos. Por isso, não há desculpa para os fabricantes venderem produtos alimentares para bebés com estes níveis nocivos desta substância cancerígena", acrescentou.
“Os alimentos têm níveis de arsénico compatíveis com os da União Europeia”A Agência “Food Standards” recomenda que "os consumidores comam uma dieta equilibrada, variada e saudável. Arroz e produtos de arroz podem fazer parte disso, inclusive para crianças pequenas. No entanto, nós aconselhamos que as crianças e crianças pequenas não devem subsitituir o leite materno, a fórmula infantil ou o leite de vaca por bebidas de arroz".

A Associação Britânica Especialista em Nutrição (BSNA), representante dos fabricantes de alimentos complementares destinados a crianças com menos de três anos, insistiu que se os produtos dos seus membros fossem testados agora, eles seriam compatíveis com os níveis de arsénico da União Europeia. Referindo que os alimentos estudados foram adquiridos em fevereiro de 2016, um mês depois da nova política entrar em vigor.

Um porta-voz da Associação garante que "a segurança dos produtos é a principal prioridade para os membros da BSNA. Os fabricantes selecionam cuidadosamente e rigorosamente todas as suas matérias-primas para garantir que são seguras e que se encontram estritamente em conformidade com os regulamentos de segurança alimentar atual. A indústria tem vindo a trabalhar proativamente na redução dos níveis de arsénico nos alimentos. A Associação trabalha em toda a indústria e com os reguladores do Reino Unido e da Europa".
Tópicos
PUB