Níveis de radiação disparam após terceira explosão na central de Fukushima

por RTP
A terceira explosão na central nuclear de Fuksuhima libertou para atmosfera níveis perigosos de radioactividade ABC/EPA

Os níveis de radioatividade em torno da central nuclear de Fukushima atingiram hoje níveis perigosos para a saúde humana, depois de uma nova explosão que atingiu, desta vez, o reator dois. As autoridades nipónicas dizem que os níveis de radioatividade estão, desde aí, a baixar, mas os especialistas temem que no reator quatro um depósito de combustível nuclear usado tenha entrado em ebulição após um incendio que deflagrou esta manhã.

A explosão de hoje foi a terceira em quatro dias na central nuclear de Fukushima, que foi uma das mais afetadas pelo terramoto de sexta-feira.

Ao contrário das explosões que no sábado e segunda-feira tinham atingido os edifícios do reator um e três, este rebentamento poderá ter danificado o contentor do núcleo do reator dois, o que a confirmar-se, significa que o material radioativo poderá verter para o exterior.

Tal como nos outros, o sistema de refrigeração do reator dois também tinha falhado e os técnicos estavam a bombear água do mar e ácido bórico para o interior da câmara, num esforço desesperado para arrefecer as barras de combustível nuclear e tentar impedir que entrem em fusão, como parece estar já a acontecer.

Núcleo ficou a descobertoA Agencia Nuclear do Japão admitiu hoje que as barras de combustível do reator dois podem ter ficado a descoberto até cerca de metade: 2,7 metros.

Para piorar a situação, o quarto dos seis reatores da central parece agora estar também com problemas. Depois de um incêndio esta manhã, um depósito de combustível nuclear já gasto terá entrado em ebulição, e os níveis de água no interior do reator podem estar em queda, o que anuncia problemas semelhantes aos que já atingiram os reatores um, dois e três. O reator quatro tinha sido fechado para manutenção, mas as barras de combustível nuclear ainda se encontram no interior.

A Tokyo Electric Power Company, proprietária da central, retirou do local todo o seu pessoal não-essencial à exceção de 50 trabalhadores que vão continuar a injetar a injetar água nas tubagens.

Nível do desastre nuclear pode subir de cinco para seis Ao final da manhã de hoje a Agência Nuclear Francesa elevava de cinco para seis o nível do desastre na escala internacional que mede a gravidade dos acidentes nucleares.

Seis é semelhante ao que se registou em 1979 no acidente nuclear de Three Mile Island nos EUA. O nível máximo, sete, apenas se registou, até agora, no acidente de 1986 em Chernoybyl, na antiga União Soviética.

A Agência Nuclear Japonesa recusa-se, para já, a seguir o exemplo da sua congénere francesa, afirmando que "de momento isso não está a ser discutido".

As autoridades japonesas avisaram hoje a Agencia Internacional de Energia Atómica que a radioatividade estava a ser libertada “diretamente para a atmosfera” em torno da central.

Segundo estas informações, os níveis de radioatividade na central de Fukushima Daichi 1, podem ter chegado a atingir os 400 milisievert por hora.

Um nível 160 vezes mais elevado do aquele a que uma pessoa pode, com segurança, estar exposto ao longo de um ano, através de fontes naturais como as rochas ou o sol. É sabido que uma exposição a 100 milisievert por ano pode provocar o cancro.

Horas depois as autoridades vieram informar que os níveis de radiação junto ao portão da central, a 200 quilómetros de Tóquio, estavam a diminuir. O chefe do gabinete do primeiro-ministro, Yukio Edano, disse que os níveis registados quando eram 6H30 da manhã em Portugal Continental, eram de 596,4 microsieverts por hora. Bastante menos do que os 11,930 microsieverts que tinham sido medidos mais de seis horas antes.

Primeiro-ministro alerta as populações Num anúncio ao país pela televisão, o primeiro-ministro Naoto Kan avisou a população de que “há ainda um risco muito elevado de ser libertada mais radiação”.

O chefe do Governo japonês disse ainda que todos os que vivem no interior da zona de exclusão de 20 quilómetros em redor da central devem deixar as suas casas e advertiu os que vivem a distâncias entre 20 a 30 quilómetros de que também estão em risco e devem permanecer no interior das habitações.

A estes, o Governo aconselha a que isolem o melhor possível as casas, mantendo as janelas fechadas e desligando o ar condicionado.

O Japão também anunciou uma zona de exclusão aérea de 30 quilómetros em central dos reatores.

Tóquio com radioatividade superior à normalEm Tóquio registam-se níveis de radioatividade superiores ao normal, mas os responsáveis dizem que não constituem risco para a saúde.

A Organização Mundial de Saúde diz que à resposta do Governo japonês à crise tem sido a correta, com a distribuição de comprimidos de iodo às populações das zonas em risco, mas diz ter tudo a postos para prestar assistência, se tal se revelar necessário.

Os especialistas dizem que os materiais radioativos expulsos para atmosfera podem contaminar a água e os alimentos e que as crianças e os bebés ainda por nascer são os que mais risco têm de contraírem cancro. O risco de cancro aumenta quanto maior for a radiação a que a pessoa é exposta.

Operações de resgate prosseguemÀ parte da catástrofe nuclear continuam as operações de socorro e rescaldo do terramoto e do tsunami de há cinco dias.

O número oficial de vítimas continua a ser de 2400, mas muitas estimativas apontam para mais de dez mil mortos.

Há milhares de pessoas que ainda estão desaparecidas, incluindo centenas de turistas e as equipas de socorro ainda não chegaram a muitas das vilas e aldeias mais remotas.

Mais de 500.000 pessoas ficaram sem casa. O governo nipónico pôs no terreno mais de 100.000 soldados para ajudar nas operações de socorro.
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