A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denunciou hoje a situação "dramática" dos direitos humanos e concretamente de perseguição à comunidade cristã na Nigéria, onde o rácio de civis mortos é de 7,6 cristãos para um muçulmano.
A situação piorou no último ano e está em foco no Relatório de 2023 da Fundação AIS sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, pelo país em si, mas também porque, com mais de 200 milhões de habitantes, a Nigéria é o maior do continente e "desempenha um papel fundamental na geopolítica da África subsariana", sublinha a instituição.
Vitima de nacionalismo étnico-religioso e de extremismo islâmico, a população cristã -- quase metade do total do país - é "a mais visada no meio de um agravamento da violência contra civis" por parte de "terroristas, grupos armados `jihadistas` e criminosos nacionais e transnacionais", que atinge também a população "muçulmana e de religiões tradicionais".
A AIS fundamenta a avaliação em dados como os do Relatório sobre a Violência na Nigéria (2019-2022), publicado em fevereiro pelo Observatório da Liberdade Religiosa em África, que revelou que "o rácio global de cristãos/muçulmanos mortos é de 7,6/1".
Isto, refere, deve-se em muito às medidas legais que apoiam a discriminação da comunidade cristã nos estados do norte -- o direito islâmico (`sharia`) foi introduzido e vigora há anos em 12 dos 36 estados da Nigéria.
Nessas regiões, a situação agravou-se, uma vez que "a etnia e a religião se tornaram efetivamente um meio de obter poder, recursos e privilégios da Nigéria", destaca o relatório.
A fundação lembra casos em que, além da legislação, houve brutalidade por presumíveis comportamentos "blasfemos" como em 12 de maio de 2022, quando uma jovem cristã de 22 anos, Deborah Samuel Yakubu, no estado de Sokoto, foi "brutalmente assassinada por colegas estudantes muçulmanos que queimaram o seu corpo" ou o do clérigo islâmico Xeque Abduljabar Nasir Kabara, condenado à morte por blasfémia por um tribunal da `sharia` em Cano.
A Fundação AIS condena também a "narrativa prevalecente" pelas autoridades nacionais, mas igualmente pela comunidade internacional, frequentemente limitada às "alterações climáticas e tensões intercomunitárias", que considera negar "a realidade e os verdadeiros fatores de violência no terreno, em particular o facto de visar especificamente os cristãos".
"O Governo federal recusa-se sistematicamente a empregar o termo `terrorista` para reconhecer a natureza terrível dos atos, bem como os seus autores, apesar dos repetidos apelos de organizações da sociedade civil nacionais e internacionais, académicos, representantes políticos e líderes religiosos", escrevem os autores do relatório.
A instituição diz que a violência é "muitas vezes indescritível" com "atrocidades cometidas por grupos armados (Boko Haram, Estado Islâmico na África Ocidental, ou ISWAP, e milícias da etnia Fulani) movidos por uma mistura de motivações tóxicas, incluindo o ganho territorial, a criminalidade, a etnicidade e o terrorismo de radical islâmico, que, em certos estados, se aproxima de uma violência com elementos genocidas".
Em 2022, a Nigéria ocupava o sexto lugar no Índice Global de Terrorismo atrás do Afeganistão, Iraque, Somália, Burkina Faso e Síria, e ficou em 143.º lugar entre um total de 163 países no Índice Global da Paz.