A polícia nigeriana anunciou a libertação de 259 pessoas, detidas num alegado centro de reabilitação administrado por uma mesquita no bairro de Ojoo, em Ibadan, no sudoeste do país. "Homens, mulheres e crianças estavam reféns num centro de detenção ilegal", esclareceu Fadeyi Olugbenga, porta-voz da polícia do estado de Oyo.
Esta foi a mais recente de uma série de operações policiais realizadas desde setembro passado em vários pontos da Nigéria, para encerrar este tipo de estabelecimentos religiosos, que retêm pessoas em condições miseráveis e muitas vezes sob tortura, ali internadas para alegada reabilitação.
No caso do centro de Ibadan, foi a fuga de um rapaz de 18 anos que levou à intervenção "rápida" das autoridades.
Ao todo "estavam ali encerradas 259 pessoas, que imploravam auxílio, quando chegamos", revelou o porta-voz da polícia, citado pela Agência France Presse.
Imagens divulgadas pelos media mostraram homens jovens e rapazes, de caras emaciadas e corpos esqueléticos, sentados no exterior do edifício onde haviam estado retidos.
"Alguns estavam ali há anos e tinham problemas de saúde, estão a receber cuidados médicos", afirmou Olugbenga. "Os que interrogamos contaram que eram alimentados uma vez a cada três dias, por vezes ainda menos", referiu.
O proprietário e outras oito pessoas foram detidas, mas "as investigações prosseguem, para se obterem mais detalhes", acrescentou o porta-voz.
Tortura e sevícias
Uma dúzia de intervenções das forças de segurança permitiu encerrar outras tantas "casas de correção" e escolas islâmicas na Nigéria, desde setembro. Num delas, em Lagos, a polícia libertou 15 pessoas acorrentadas num local de oração.
No final de setembro, em Kaduna, centenas de rapazes adolescentes foram libertados de uma escola islâmica, com cicatrizes e sinais de castigos corporais e de torturas.
Muitas das centenas de pessoas libertadas nas últimas semanas sofrem de doenças mentais ou toxicodependência. Todas denunciaram condições de detenção atrozes, algumas vezes sob tortura e incluindo abusos físicos e sexuais.
Os centros de reabilitação privados - muitas vezes informais - estabelecidos por comunidades religiosas, estão espalhados por toda a Nigéria, o país mais populoso de África, com elevados níveis de pobreza e escassos serviços públicos.
As altas taxas de consumo de drogas e a falta de instalações de reabilitação empurram as famílias a inscrever os seus filhos nestes centros. Em outubro, após mais uma das operações policiais para desmantelar estas comunidades, o Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, condenou com firmeza as condições de funcionamento.
"Nenhum Governo democrático responsável poderá tolerar a existência de câmaras de tortura e de sevícias físicas contra detidos em nome da reabilitação", afirmou.
O Governo não está contudo isento de críticas e a diretora do Centro para a Democracia e o Desenvolvimento, Hassan Idayat, considera-o mesmo responsável, de certa forma, pela situação revelada desde setembro.
"Este fenómeno espalhou-se devido à falta de instituições de saúde mental", afirmou à AFP. "O Governo tem de investir urgentemente na saúde mental".