O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, reforçou hoje que não apoia qualquer intervenção militar no Níger e garantiu que "dificilmente" o país vai integrar uma força dessa natureza no âmbito da organização da África Ocidental.
Em declarações aos jornalistas na ilha do Fogo, onde se encontra de visita, o chefe de Estado voltou a pedir "muita prudência e muita inteligência" na análise da possibilidade de envio de força militar para "restaurar a ordem constitucional" no Níger.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ordenou na quinta-feira a "ativação imediata" de uma força regional para "restaurar a ordem constitucional" no Níger, na sequência do golpe de Estado de 26 de julho.
Para o Presidente da República de Cabo Verde, as crises devem ser resolvidas pela via negocial.
"Qualquer intervenção militar neste momento iria agravar a situação e tornar a região num espaço explosivo", sustentou, em declarações partilhadas pela Presidência cabo-verdiana.
"Então, não apoio qualquer intervenção militar, não apoio a resolução desse conflito pela força, penso que devemos todos trabalhar para a restauração da ordem constitucional, mas em nenhuma circunstância através da intervenção militar ou do conflito armado neste momento", reforçou.
José Maria Neves garantiu ainda que "dificilmente" Cabo Verde integraria uma força militar nesse país.
O anúncio de envio da força militar consta das resoluções lidas no final de uma cimeira extraordinária dos chefes de Estado e de Governo do bloco regional para encontrar uma solução para a crise no Níger, composta por tropas da Costa do Marfim, da Nigéria e do Benim.
O Presidente nigeriano, Bola Tinubu, que detém a presidência rotativa da CEDEAO, disse na quinta-feira que esperava "chegar a uma resolução pacífica", acrescentando que o uso da força como "último recurso" não podia ser excluído.
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, manifestou hoje o seu "firme apoio às decisões" da CEDEAO e a sua "profunda preocupação" com a "deterioração das condições de detenção" do Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, qualificando de "inaceitável" o tratamento que lhe foi reservado pelas autoridades militares que o derrubaram.
Nas Nações Unidas, o secretário-geral, António Guterres, advertiu contra "qualquer ameaça de ferir o Presidente eleito do Níger".
O Níger está sob um regime militar que emergiu depois de um golpe de Estado e apresentou os membros do Governo saído desta ação militar pouco antes do início da cimeira.
O executivo é liderado por Ali Mahaman Lamine Zeine e é composto por 20 ministros e o anúncio foi utilizado para demonstrar a transição do poder naquele país africano, mas pode ser encarado como um sinal de desafio à CEDEAO.