Nicolas Sarkozy indiciado por suspeitas de fraude e suborno de testemunha

por Graça Andrade Ramos - RTP
Nicolas Sarkozy em 2020 Reuters

O ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy foi indiciado esta sexta-feira por novas suspeitas de violação da lei, desta vez para calar o principal denunciante dos financiamentos ilegais oriundos da Líbia para a sua campanha eleitoral presidencial de 2007.

O ex-Presidente francês é acusado de mais dois crimes, para se livrar dessas mesmas suspeitas, nomeadamente "ocultação de testemunho" e "participação em associação criminosa para cometer crime de fraude num processo de quadrilha organizada".

A procuradoria começou por querer saber se Sarkozy recebeu ou não fundos do ex-Presidente e ditador da Líbia, Muammar Khaddafi, para financiar a sua campanha eleitoral em 2007. O intermediário teria sido o empresário franco-libanês, Ziad Takieddine, que admitiu ter entregue 50 milhões de euros.

A investigação foi aberta em maio de 2021, depois de Takieddine dar entrevistas públicas a retratar-se das denúncias anteriores. Os procuradores acreditam que o empresário terá sido subornado para recuar nas declarações.

Michèle Marchand, uma jornalista e mulher de negócios, considerada próxima dos casais presidenciais Sarkozy e Macron, e Noël Dubus, já condenado por fraude, terão sido os aliciantes.

O Gabinete Central da luta contra a corrupção e infrações financeiras e fiscais (OCLCIFF) de França, tenta perceber até que ponto Sarkozy estava ao corrente da interferência.

De acordo com a imprensa francesa, em maio de 2021, um dos suspeitos indiciados no caso do financiamento ilegal da campanha afirmou a um juiz que comentou a possibilidade de retração de Takieddine com o ex-Presidente e na presença de Michèle Marchand. Esta negou veemente tal circunstância.

Além de Sarkozy foram indiciadas esta sexta-feira outras nove pessoas, entre as quais Marchand e Dubus.

Se condenado, Nicolas Sarkozy, que dirigiu os destinos da França entre 2007 e 2012, enfrenta uma pena de até 10 anos de prisão.

Em comunicado enviado à Agência France Presse, os seus advogados, Jean-Michel Darrois e Christophe Ingrain, afirmaram que Nicolas Sarkozy estava "firmememente decidido a fazer valer os seus direitos, estabelecer a verdade e defender a sua honra".

Sarkozy, que deverá ser presente a tribunal em 2025, sobre a aceitação dos fundos ilegais líbios, declara-se inocente. "Não há o mínimo vestígio de provas", afirmou em 2018 numa entrevista.

O ex-Presidente conservador francês está ainda convocado enquanto testemunha por "participação numa associação de malfeitores com vista a cometer crime de corrupção ativa de pessoal judiciário estrangeiro" no Líbano, referiu o jornal Le Monde citando fontes judiciais, no quadro da investigação à retração de Takieddine.

Sarkozy, que se mantém uma figura política influente em França, enfrenta também diversos outros processos, por suspeita de ter recebido fundos públicos desviados e por corrupção passiva e associação criminosa.
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