O primeiro dia do novo ano pode trazer novidades à comunidade científica que estuda os objetos que orbitam o Sistema Solar. Isto porque a sonda norte-americana New Horizons, que passou por Plutão em 2015, foi reprogramada para passar por uma zona onde se encontra um grande asteróide de nome 2014 UM 69, também designada por Ultima Thule.
Este bloco rochoso espacial que se encontra a cerca de 6,6 mil milhões de quilómetros da Terra foi descoberto em 2014, durante uma busca por possíveis novos alvos para a New Horizons. Razão pela qual muito pouco se sabe sobre ele.
A imagem à esquerda é a composição de 48 exposições diferentes do Long Range Reconnaissance Imager (LORRI) da New Horizons. Cada uma com um tempo de exposição de 29,967 segundos, tirada em 16 de agosto de 2018. Creditos: NASA/JHUAPL/SwRI
Segundo Alan Stern, do Southwest Research Institute e líder da missão da NASA, esta rocha em formato de oito, semelhante a duas batatas coladas, tem um diâmetro aproximado de 30 quilómetros - menos de dois por cento do diâmetro de Plutão – o que obrigou os programadores a fazerem muitas contas, numa missão quase impossível, para levar a New Horizons até ao asteróide. Lançada a 19 de janeiro de 2006 a sonda norte-americana New Horizons teve como objetivo estudar Plutão. Uma viagem de quase cinco mil milhões de quilómetros da Terra, que passou por Jupiter (2007), para ganhar balanço até Plutão, onde chegou em 2015.
"É muito mais difícil do que ir a Plutão", diz Alan Stern. "É que em vez de estarmos a programar a sonda para um local do tamanho do continente norte-americano, o UM 69 é do tamanho de Boston. E ser 100 vezes menor significa que as hipóteses são 10 mil vezes mais fracas."
Um outro fator a ter em conta é o facto de o asteróide estar apenas a ser monitorizado há quatro anos, sabendo-se muito pouco sobre o comportamento e trajetória efetuada por este corpo rochoso. Logo, um alvo muito mais complicado.
Se tudo correr como o programado, a New Horizons irá passar a cerca de 3500 quilómetros da superfície de Ultima Thule, a mais de 14 quilómetros por segundo, tirar umas quantas fotos, entre outras coisas.
New Horizons já trabalha há 13 anos
Lançada a 19 de janeiro de 2006, a sonda norte-americana New Horizons teve como objetivo estudar Plutão. Uma viagem de quase cinco mil milhões de quilómetros da Terra, que passou por Jupiter (2007), para ganhar balanço até Plutão, onde chegou em 2015.
A pequena sonda de 2,7 metros foi também o primeiro equipamento terrestre a estudar o Cintura de Kuiper e a pequena lua Charon, na órbita do catalogado planeta anão. Motivos que têm obrigado a New Horizons a trabalhar e a gastar as pequenas baterias de plutónio que a mantêm viva e ativa. Um asteróide é uma grande rocha espacial. Uma especie de 'sobra' da formação do Sistema Solar e dos planetas rochosos como Terra e Marte. Com formato irregular, a maioria dos asteróides tem cerca de um quilómetro de diâmetro, mas alguns podem chegar a centenas de quilómetros.
Esta nova missão, já fora da programação inicial, obrigou os cientistas a gerir melhor os recursos energéticos ainda existentes. Pois não é todos os dias que se tem uma sonda funcional nos confins do Sistema Solar, com a oportunidade de estudar um objeto rochoso espacial, longínquo, e ao qual se pode chegar. Por isso, todos os ‘atomos energéticos’ são preciosos. Segundo Alan Stern, a bateria, neste momento, apenas alimenta o equivalente a três lâmpadas comuns.
A New Horizons está já programada para fotografar o asteróide, mas esta simples tarefa será um pouco como tirar uma foto dentro de um carro em movimento, a um mosquito a pairar ao lado da estrada, e com a agravante de estar tão longe do Sol, tão longe, que a luz refletida pelo objeto será praticamente nula.
Mas a dificuldade não termina aqui. Há ainda o risco de o asteróide não estar no local previsto durante a passagem da sonda e apenas existir um imenso vazio.O asteróide Ultima Thule pode ensinar e mostrar como era composto os
primórdios do Sistema Solar e seus planetas. Rochas como esta foram os
precursores e fundadores da Terra e dos outros planetas.
Outro problema ainda mais grave é a existência de eventuais restos de poeira, pedras ou outros detritos gelados que possam estar ao redor do Ultima Thule. Isto porque estes objetos representam um perigo para a New Horizons. "Se houver detritos em órbita, mesmo algo do tamanho de um bago de arroz, à velocidade que a sonda vai, destruiria parte desta, inutilizando-a", diz Stern. "Se ‘ela’ na manhã do voo sobre o asteróide não disser: estou aqui, está tudo bem, muito provavelmente houve colisão entre detritos e a sonda."
A equipa liderada por Alan Stern está confiante e espera receber os vários dados sobre a superfície do MU69 nos primeiros dias de 2019. Assim como as imagens, composição e temperatura.
Em última análise, refere Stern, a esperança é que Ultima Thule possa ensinar e mostrar como era composto os primórdios do Sistema Solar e seus planetas. Rochas como esta terão estado na origem de planetas como a Terra.