Da guerra de armas à guerra de tarifas. Trump recebe Netanyahu na Casa Branca

por Carlos Santos Neves - RTP
Netanyahu volta a encontrar-se com Trump Shawn Thew - EPA

A ofensiva sem fim à vista do Estado hebraico na Faixa de Gaza, o Irão e a guerra comercial desencadeada pela barragem de tarifas impostas a partir da Casa Branca são os temas à cabeça da agenda do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para a visita desta segunda-feira a Washington.

"Os dois líderes vão discutir as tarifas aduaneiras, os esforços para trazer de volta os reféns israelitas, as relações israelo-turcas, a ameaça iraniana e a luta contra o Tribunal Penal Internacional, que emitiu um mandado de captura contra Netanyahu”, indicou o gabinete do primeiro-ministro israelita na véspera da deslocação deste aos Estados Unidos.

Netanyahu é o primeiro líder a avistar-se com o presidente dos Estados Unidos desde que Donald Trump avançou com sucessivos pacotes de tarifas alfandegárias sobre grande parte dos produtos importados pelo seu país. Até mesmo Israel, um aliado histórico, teve direito a taxas de até 17 por cento.Espera-se que o primeiro-ministro israelita, depois de uma visita de quatro dias à Hungria de Viktor Orbán, procure persuadir o interlocutor norte-americano a fazer marcha-atrás nas tarifas.

Ao despedir-se de Budapeste, Benjamin Netanyahu deixou antever que as as discussões com Donald Trump vão passar pelo "regime aduaneiro que foi igualmente imposto a Israel".

"Sou o primeiro dirigente internacional, o primeiro dirigente estrangeiro, a encontrar-se com o presidente Trump sobre uma questão tão crucial para a economia de Israel. Penso que isto reflete a relação pessoal especial e o laço único entre os Estados Unidos e Israel, que é tão vital neste momento", frisou o governante israelita.
Telavive ainda ensaiou medidas preventivas na passada terça-feira, na antecâmara do anúncio das tarifas de Trump, ao eliminar a totalidade das taxas aplicadas a um por cento das mercadorias norte-americanas - o derradeiro conjunto.

Todavia, Trump manteve-se irredutível, invocando um importante défice comercial entre os dois países.
Faixa de Gaza e Irão
A visita de Netanyahu tem também lugar num contexto de elevada improbabilidade de uma nova trégua, na Faixa de Gaza, entre Israel e o Hamas. O chefe do Governo do Estado hebraico vai procurar cimentar o apoio da Administração Trump neste capítulo, após ter retomado, a 18 de março, a ofensiva contra o movimento palestiniano. Isto a somar ao que Telavive descreve como a crescente "ameaça iraniana".

Desde o reinício das operações militares, morreram mais de 1.330 pessoas em operações aéreas e terrestres das Forças de Defesa de Israel no território palestiniano, de acordo com o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.Das 251 pessoas levadas como reféns pelo Hamas, a 7 de outubro de 2023, 58 permanecem na Faixa de Gaza, das quais 34 estarão já mortas, segundo o exército israelita.


Quanto ao Irão, Netanyahu irá também procurar capitalizar a posição de força já assumida por Trump, que instou o regime dos ayatollahs e encetar "negociações diretas" sobre um novo acordo para circunscrever o respetiva programa nuclear. Agitou também a ameaça de bombardeamentos, caso a via das conversações fracasse.

No domingo, porém, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araghchi, veio recusar qualquer forma de diálogo direto com Washington, cenário que, nas suas palavras, "não faria nenhum sentido".

c/ agências
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