O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, revelou que continua "determinado a levar a cabo uma invasão terrestre da cidade de Rafah", no sul da Faixa de Gaza - onde muitos palestinianos deslocados se encontram abrigados - apesar das dúvidas do presidente dos EUA, Joe Biden.
O gabinete de Netanyahu anunciou que viajará até aos EUA o ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e o conselheiro de Segurança Nacional, Tzachi Hanegbi, bem como um representante do braço do Ministério da Defesa que trata dos assuntos civis na Cisjordânia e em Gaza.
"Por respeito ao presidente [Biden], chegámos a acordo sobre a forma como nos poderiam apresentar as suas ideias, especialmente no que diz respeito à vertente humanitária. Obviamente, partilhamos plenamente do desejo de facilitar uma saída ordenada da população [de Rafah] e da prestação de ajuda humanitária à população civil", afirmou Netanyahu, horas antes, na abertura da Comissão de Assuntos Externos e Segurança do Knesset, o Parlamento israelita.
Na segunda-feira, durante o primeiro telefonema entre os dois líderes desde há um mês, Biden pediu a Netanyahu que enviasse o mais rapidamente possível uma equipa de "peritos militares, dos serviços secretos e humanitários" para discutir alternativas à ofensiva terrestre de Rafah. Para Netanyahu, essa é uma ofensiva inegociável e acrescentou que o exército já elaborou um plano de ação para a levar a cabo.
"Deixei o mais claro possível ao presidente que estamos determinados a completar a eliminação desses batalhões em Rafah, e não há forma de o fazer sem uma incursão terrestre", reiterou Netanyahu sobre a conversa telefónica com o Joe Biden.
O primeiro-ministro israelita acrescentou que ainda se permanecem quatro batalhões grupo islamita palestiniano Hamas em Rafah e que é necessário eliminar essa ameaça.
"Temos um debate com os americanos sobre a necessidade de entrar em Rafah, não sobre a necessidade de eliminar o Hamas", acrescentou Netanyahu.
Segundo as autoridades israelitas a cidade de Rafah, situada na fronteira com o Egito, é o último grande reduto do Hamas. Estima-se que 1,5 milhões de palestinianos - mais de metade da população de Gaza - se refugiaram em Rafah depois de fugirem dos combates noutras zonas do território. "O presidente [Biden] rejeitou mais uma vez que mostrar preocupação com Rafah seja o mesmo que questionar a necessidade de acabar com o Hamas", afirmou na segunda-feira o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, após o telefonema entre Biden e Netanyahu.
Segundo o responsável dos EUA, "uma grande operação terrestre será um erro e levará a mais mortes de civis”, acrescentando que “os objetivos que Israel quer atingir em Rafah podem ser alcançados por outros meios".
No final da tarde de terça-feira, um ataque aéreo israelita matou 30 pessoas de grupos que se tinham juntado para garantir a entrada de camiões de ajuda humanitária na cidade de Gaza, segundo os meios de comunicação social do Hamas.
Ontem, os EUA afirmaram que as restrições israelitas à entrada de ajuda humanitária em Gaza podem constituir um crime de guerra de fome deliberada.
"A extensão das restrições contínuas de Israel à entrada de ajuda em Gaza, juntamente com a forma como continua a conduzir as hostilidades, pode equivaler à utilização da fome como método de guerra, o que é um crime de guerra", afirmou Volker Turk, o alto-comissário da ONU para os direitos humanos.
Blinken no Médio Oriente pela sexta vez
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, regressa ao Médio Oriente esta quarta-feira para a sua sexta visita desde o início da guerra de Israel com o Hamas, para pressionar por um acordo que garanta uma pausa temporária nos combates e a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.
Blinken vai encontrar-se com os líderes sauditas em Jeddah e com os líderes egípcios no Cairo para discutir as conversações mediadas pelo Egipto e pelo Catar sobre um acordo, bem como os esforços para obter mais ajuda para Gaza, revelou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, num comunicado.
As conversações sobre um cessar-fogo estão a ser retomadas esta semana no Catar, mas semanas de duras negociações ainda não conseguiram forjar um acordo entre Israel e o Hamas que Washington espera que ajude a aliviar a crise humanitária que assola Gaza.
Blinken disse que também iria prosseguir as conversações sobre acordos para a governação, segurança e desenvolvimento de Gaza pós-conflito.
"Temos trabalhado muito desde janeiro, em particular com os nossos parceiros árabes, e vamos prosseguir essas conversações, bem como discutir qual é a arquitetura certa para uma paz regional duradoura", afirmou Blinken numa conferência de imprensa durante uma paragem anterior em Manila.
O chefe da diplomacia norte-americana acrescentou que iria discutir "os esforços para alcançar um acordo de cessar-fogo imediato que garanta a libertação de todos os reféns restantes", bem como "intensificar os esforços internacionais para aumentar a assistência humanitária a Gaza e a coordenação pós-conflito em Gaza".
As ONG e as agências da ONU estão constantemente a fazer soar o alarme sobre o risco iminente de fome no território palestiniano, em especial na zona norte, de difícil acesso, onde vivem atualmente mais de 300 mil pessoas.
"Cem por cento da população" de Gaza encontra-se "numa situação de grave insegurança alimentar", declarou o secretário de Estado norte-americano. "É a primeira vez que uma população inteira é classificada desta forma”.
As conversações intensificaram-se nos últimos dias, nomeadamente com a visita do chefe da Mossad, os serviços secretos externos de Israel, ao Catar, país mediador com os Estados Unidos e o Egipto, e após uma mudança de posição do Hamas, que abriu a porta a uma pausa de várias semanas nos combates, depois de ter exigido, sem sucesso, um cessar-fogo definitivo.
No entanto, o líder do movimento islamita palestiniano, Ismaïl Haniyeh, acusou na terça-feira Israel de "sabotar" estas negociações ao levar a cabo uma operação de grande envergadura contra o hospital de al-Shifa, na cidade de Gaza. O exército israelita afirmou ter matado "dezenas" de combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica no complexo hospitalar e nas suas imediações, tendo detido "mais de 300 suspeitos".
c/ agências
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