Netanyahu apela ao apoio norte-americano e alerta para "eixo do terror" do Irão no Médio Oriente

por Andreia Martins - RTP
Foto: Craig Hudson - Reuters

Na quarta vez em que discursa perante o Congresso norte-americano, o primeiro-ministro israelita afirmou que Estados Unidos e Israel "têm de permanecer juntos", denunciou o "eixo do terror" concebido pelo Irão no Médio Oriente e criticou os manifestantes anti-Israel, considerando que são "idiotas úteis" ao serviço de Teerão. Benjamin Netanyahu lembrou o ataque do Hamas a 7 de outubro e garantiu que não irá "descansar" até à libertação de todos os reféns.

A intervenção do líder israelita perante os congressistas norte-americanos já estava envolta em polémica ainda antes de ter começado. Junto à entrada do Capitólio, em Washington D.C, milhares de manifestantes juntaram-se em protesto contra a guerra na Faixa de Gaza, envergando bandeiras e motivos palestinianos.

Lá dentro, dezenas de congressistas norte-americanos decidiram boicotar o evento e faltar à sessão solene com o discurso de Joe Biden, a começar pela vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, que atua como presidente do Senado e que alegou motivos de agenda para justificar a ausência.

Outros nomes do Partido Democrático como Bernie Sanders ou Nancy Pelosi também não assistiram ao discurso de Netanyahu, que se tornou esta quarta-feira no líder estrangeiro que mais vezes discursou numa sessão conjunta do Congresso norte-americano, num total de quatro vezes. 
O ataque do Hamas, a 7 de outubro, provocou mais de 1.200 mortos e 250 pessoas foram tomadas como reféns pelo grupo palestiniano. Desde então, os ataques israelitas em Gaza provocaram mais de 39 mil mortos nos últimos nove meses, segundo a contabilização efetuada pelas autoridades locais.
No discurso propriamente dito, Benjamin Netanyahu começou por afirmar que o conflito em curso no Médio Oriente "não é um confronto entre civilizações, é um confronto entre a barbárie e a civilização".

O primeiro-ministro israelita apelou à permanência dos EUA "ao lado de Israel" e assegurou que Telavive irá vencer o conflito.

Seguiu-se depois uma longa descrição do ataque perpetrado pelo Hamas, a 7 de outubro de 2023. Netanyahu comparou mesmo esta data ao 7 de dezembro de 1941, com o ataque a Pearl Harbor, ou ainda ao 11 de setembro de 2001, com o ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque.

Foi mais longe ao afirmar que o ataque de 7 de outubro em Israel seria o equivalente ao 11 de setembro ocorrer por 20 vezes no mesmo dia nos Estados Unidos, tendo em conta a população das suas nações.

"É um dia que jamais esqueceremos", vincou o chefe de Governo israelita, com descrições de momentos significativos do ataque do Hamas e também vários louvores a familiares de reféns e membros do Exército israelita presentes na sala.

Sobre os reféns, assegurou que não irá "descansar" enquanto não os conseguir libertar e afirmou estar "confiante" quanto ao resultado das negociações em curso.
"Idiotas úteis"
Em linha com o último discurso que fez perante o Congresso norte-americano em 2015, o Irão voltou a ser um dos principais alvos de Netanyahu. Se na altura a preocupação central era a aproximação de Washington e Teerão com o acordo sobre o programa nuclear, desta vez o primeiro-ministro israelita focou-se em criticar as forças regionais que recebem apoio iraniano.

"O eixo de terror do Irão desafia os Estados Unidos, Israel e os nossos amigos árabes", declarou Netanyahu.

No entanto, não deixou completamente de parte a questão nuclear, alertando que qualquer ação de Israel para impedir Teerão de desenvolver armas nucleares será "para se proteger e para proteger os Estados Unidos", convidando os norte-americanos ao estabelecimento de uma "aliança de segurança" no Médio Oriente para conter esta ameaça.

"Quando Israel combate o Hamas, estamos a combater o Irão. Quando combatemos o Hezbollah, estamos a combater o Irão. Quando combatemos os Houthis, combatemos o Irão", afirmou.

Em resposta à onda de protestos provocada pela visita aos EUA e pelo próprio discurso no Congresso, Benjamin Netanyahu considera que os manifestantes se transformaram nos "idiotas úteis" ao serviço do Irão e "deveriam ter vergonha", acusando Teerão de patrocinar estes protestos.

“A clareza começa por saber a diferença entre o bem e o mal. No entanto, muitos manifestantes anti-Israel, muitos optam por apoiar o mal. Estão com o Hamas, estão ao lado de violadores e assassinos", acusou ainda.

Lembrou as manifestações durante vários meses nos campus universitários nos Estados Unidos, criticando os "académicos confusos" que se recusaram a condenar as ações de protesto que apelavam "ao genocídio de judeus".

Mantendo-se no tom de crítica, Benjamin Netanyahu acusou o Tribunal Penal Internacional de tentar "algemar Israel" e impedir a autodefesa do país no combate ao terrorismo. Em maio, o TPI emitiu mandados de captura para o primeiro-ministro Israelita e também para o líder do Hamas em Gaza sob acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Elogios a Biden e a Trump

Poucos dias depois de Joe Biden ter anunciado que iria retirar a candidatura a um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, o primeiro-ministro israelita agradeceu ao líder norte-americano pelo "meio século de amizade com Israel"e reconheceu os seus "esforços incansáveis" na tentativa de libertação de reféns.

Mencionou ainda a visita de Joe Biden ao país após o ataque de 7 de outubro. "Veio a Israel para estar ao nosso lado num dos momentos mais difíceis. Essa visita nunca será esquecida", afirmou.

Netanyahu deixou ainda palavras de reconhecimento ao ex-presidente e atual candidato republicano, Donald Trump, por "tudo o que fez por Israel", recordando que foi durante o seu mandato que os EUA reconheceram Jerusalém como capital do país e a ordenaram a transferência da Embaixada norte-americana para essa mesma cidade.

Acrescentou ainda que os israelitas ficaram "aliviados" quando Donald Trump sobreviveu à tentativa de assassinato a 13 de julho, num comício na Pensilvânia.

E num apelo aos congressistas mas também ao futuro presidente norte-americano, Benjamin Netanyahu instou os Estados Unidos a acelerarem a ajuda prestada a Israel de forma a "acelerar" o fim da guerra em Gaza e acautelar uma guerra de âmbito regional no Médio Oriente.

Tal como noutras ocasiões, o chefe de Governo israelita garantiu que a guerra em Gaza irá continuar até que todas as capacidades militares do Hamas em Gaza estejam neutralizadas e até que todos os reféns regressem a casa. Sobre o futuro do enclave palestiniano, afirmou:

"A minha visão (...) é a de uma Gaza desmilitarizada e deradicalizada. Israel não quer instalar-se em Gaza, mas devemos manter um maior controlo de segurança para evitar que o terror volte a aparecer e garantir que Gaza nunca mais voltará a representar uma ameaça para Israel", resumiu.
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