Negacionismo. Milei ordena retirada da delegação argentina da COP29 e abandona negociação

por RTP
Liesa Johannssen - Reuters

Os representantes da Argentina receberam ordens do presidente do país para abandonar a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, COP29, em Baku, retirando-se assim das negociações. Além de negar as mudanças climáticas, Javier Milei mostra-se convencido de que as medidas para mitigar o aquecimento do planeta fazem parte de uma agenda "politizada" da ONU.

Segundo uma fonte do Ministério argentino dos Negócios Estrangeiros, o grupo de trabalho presente na capital do Azerbaijão para participar na COP29 recebeu instruções para voltar à Argentina, por ordem do presidente Javier Milei.

Foi também travada a viagem de mais delegados que se preparavam para seguir para Baku, disse fonte sob anonimato à CNN.

De acordo com a publicação argentina La Nación, os três técnicos enviados a Baku pela Secretaria de Meio Ambiente participaram durante os dois primeiros dias nas sessões , com “perfil extremamente discreto e sem intervir nas primeiras discussões”, testemunharam outros delegados.

Outros testemunhos, tanto de repórteres como de membros de algumas ONG presentes na COP29, revelaram que a comitiva argentina "evitaram interagir e não aceitaram conversas privadas por medo”.
Cientistas do clima são “socialistas preguiçosos”, teoriza Milei
O presidente da Argentina tem deixado claro que defende uma posição anti-clima.

Em setembro passado, durante a Assembleia Geral da ONU, Milei acusou as Nações Unidas de tentar “impor uma agenda ideológica” e procurou distanciar a Argentina da Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030 patrocinada pela Organização.

“Estamos no fim de um ciclo. O coletivismo e a moral elevada da agenda woke (movimento de consciencialização pro-clima) colidiram com a realidade, e não oferecem soluções confiáveis para os problemas do mundo”, afirmou Milei no discurso na ONU.

Até mesmo durante a campanha presidencial acentuou que as “políticas que vinculavam as alterações climáticas às ações humanas eram falsas” e acusou mesmo os cientistas do clima de serem “socialistas preguiçosos”.
"Não apoiar o que for decidido"
Segundo o jornal argentino, membros da embaixada de um país europeu - não identificado - mostraram-se surpreendidos com a falta de diálogo das autoridades argentinas para "alinhar critérios sobre a cimeira", como costumava acontecer em outras cimeiras.

“Não sabemos como vão votar”, afirmaram os membros da delegação europeia. 

Porém, em reuniões preparatórias, a Argentina já tinha expressado por escrito uma posição que deixava antever o não consenso nos documentos e planos de ação que estão a ser desenvolvidos entre os países.

“O sistema climático não deve se tornar a imposição de regras e compromissos a todos os países de forma igualitária. Isso vai contra os princípios da Convenção Quadro e do seu Acordo de Paris”, escreveram os representantes argentinos.

Entretanto, fonte da diplomacia com conhecimento da estratégia argentina, citado na Globo, alega: "A Argentina retirou-se para não apoiar o que for decidido".
Reação do Brasil
Até ao momento, não houve qualquer justificação oficial para a ordem de abandono da COP29 ao terceiro dia.  O que se sabe é que Milei alinha com Donald Trump neste capítulo e, agora, à sombra da eleição do republicano para a Presidência dos Estados Unidos, paira sobre a COP29 alguma inquietação sobre o futuro do acordo climático - desde logo, a já difícil missão de limitar o aquecimento global a 1,5ºC.Trump retirou o país do Acordo de Paris quando foi presidente pela primeira vez e pode voltar a fazê-lo.

Perante os eventos climáticos extremos, como a seca que está a afetar o Brasil e a Argentina, Marina Silva, ministra brasileira do Meio Ambiente, alertou para que “qualquer redução nos esforços para cumprir os compromissos do Acordo de Paris é uma declaração contra o equilíbrio climático, mas também um enfraquecimento da proteção da vida, dos sistemas agrícolas, dos sistemas agrícolas, dos sistemas energéticos”

“Por consequência, serão geradas perdas económicas, sociais e ambientais incalculáveis e irreparáveis para todos”, acrescentou, após ter sabido da retirada da delação argentina.

A COP29 segue até dia 22 de novembro.
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