Naufrágio no Mediterrâneo. Detidos na Grécia nove suspeitos de tráfico humano

por Carla Quirino - RTP
A polícia grega escolta os suspeitos durante a detenção Stelios Misinas - Reuters

Ao terceiro dia após o naufrágio do navio repleto de migrantes perto da costa grega, nove cidadãos do Egito foram presos. Enfrentam acusações de tráfico de pessoas. Até agora, estão confirmadas 79 mortes, mas a polícia grega acredita que haja pelo menos 500 pessoas desaparecidas. Os sobreviventes revelaram que o porão do navio transportaria uma centena de crianças.

Na noite de quinta-feira, a Skai TV noticiou que as autoridades gregas prenderam nove suspeitos de montarem uma organização criminosa responsável por planear o tráfico de pessoas.

Os detidos são egípcios e alegadamente pertenciam à tripulação da embarcação naufragada.
Antena 1

A embarcação ainda vazia deixou o Egito, seguiu para a cidade portuária de Tobruk, na Líbia, onde embarcaram os migrantes, e zarpou em direção à Itália, de acordo com fontes citadas na France 24.

A agência de notícias grega ANA informou que os egípcios foram presos no porto de Kalamata, no Peloponeso.

“Estes homens estão sob custódia e serão apresentados a um magistrado local”, respondeu Nikos Alexiou, porta-voz da guarda costeira helénica, ao Guardian. “Eles foram detidos pela guarda costeira em Kalamata”, acrescentou.

Os suspeitos enfrentam várias acusações, entre as quais de assassinato em massa. Relatos da comunicação local observam que o capitão do navio não estava entre eles. Terá morrido quando o navio afundou.
Caixão flutuante
Kalamata é também o porto onde os sobreviventes do naufrágio estão a ser socorridos.

As equipas de resgate salvaram 104 passageiros – entre egípcios, sírios, paquistaneses, afegãos e palestinianos. O número de mortos continua a subir: os dados mais recentes identificam 79.

É já considerado o pior desastre no Mediterrâneo deste ano, ou mesmo da década, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações.

O porta-voz do Governo grego, Ilias Siakantaris, admitiu na quarta-feira, a partir de relatos não confirmados, a possibilidade de o pesqueiro ter transportado certa de 750 pessoas.

No terceiro dia após o desastre, as operações de busca continuam, com aviões a lançarem sinalizadores para ajudar as equipas de busca.

“É uma das maiores operações já realizadas no Mediterrâneo”, sublinhou Nikos Alexiou à TV estatal ERT. “Não vamos parar de procurar”, vincou.

Segundo um comunicado da guarda costeira grega, o navio afundou-se em águas internacionais, 47 milhas náuticas (87 quilómetros) a sudoeste de Pylos, na costa do Peloponeso. O local fica próximo a uma das áreas mais profundas do Mediterrâneo.

A possibilidade de recuperar o navio afundado são remotas. Tal como “são mínimas” as hipóteses de encontrar mais sobreviventes, de acordo com o almirante Nikos Spanos.

“Já vimos velhos barcos de pesca como este antes da Líbia. Eles não são de todo navegáveis. Simplificando, eles são caixões flutuantes” , afirmou Spanos.
Críticas à guarda costeira que escoltou o pesqueiro
Um navio da guarda costeira escoltou a embarcação durante horas na noite anterior ao naufrágio, o que desencadeou uma onda de críticas.

As autoridades gregas argumentaram que os migrantes repetidamente recusaram assistência e insistiram em seguir para a Itália, por isso não ativaram os mecanismos de resgate, para além de o barco “navegar num curso estável”.

Era um barco de pesca lotado de pessoas que recusaram a nossa ajuda porque queriam ir para a Itália”, disse o porta-voz da guarda costeira, Nikos Alexiou. “Ficámos ao lado caso precisasse da nossa ajuda, mas continuaram a recusar”.


Esta imagem foi fornecida pela guarda costeira da Grécia a 14 de junho de 2023 e mostra um grande número de pessoas num barco de pesca danificado.

Relatos de navios mercantes dizem ter avistado o pesqueiro até o início da manhã de quarta-feira. Terá havido uma comunicação por telefone satélite relatando um problema no motor e cerca de 40 minutos depois, de acordo com o comunicado da guarda costeira, “a embarcação com os migrantes começou a balançar violentamente e afundou”.
Protestos a favor de melhores políticas de migração
Na noite de quinta-feira, milhares de manifestantes protestaram em Atenas e na cidade de Tessalónica, no norte, exigindo que as políticas de migragão da União Europeia sejam agilizadas para evitar outra tragédia.

Alguns manifestantes arremessaram cocktails molotov à polícia. As autoridades responderam com gás lacrimogéneo.

Junto ao porto de Kalamata, grupos de pessoas marcharam do lado de fora do abrigo dos migrantes. Numa das mensagens dos cartazes lia-se:"Lágrimas de crocodilo! Não ao pacto migratório da UE”.

c/ agências
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