Já começou a nova contagem decrescente para o lançamento do foguete Artemis I, da NASA, que visa ensaiar e testar a futura viagem tripulada de regresso à Lua. Um lançamento que deveria ter acontecido na passada segunda-feira. Mas, devido a um problema detetado no arrefecimento do motor nº3, do estágio principal, a ordem foi para parar.
O lançamento do poderoso foguete SLS foi remarcado para este sábado, estando previsto que aconteça numa janela de duas horas, que começa às 19h17 minutos, hora de Lisboa (14h17 locais).
Sensor defeituoso adia lançamento
A paragem regressiva foi interrompida, esta segunda-feira, como normalmente acontece, ao minuto T-40 (minuto 40). Uma rotina obrigatória que existe para saber, da parte de todos os responsáveis na missão de controlo, se dão aval positivo sobre o estado do lançador.
Ninguém estranhou, mas, com o passar do tempo - e foram mais do que os 10 a 15 minutos habituais -, as dúvidas sobre o que estava a acontecer foram sendo levantadas.
As questões foram respondidas quase uma hora depois do horário do lançamento previsto, tendo a NASA informado que havia uma fuga de hidrogénio liquido num componente da desconexão rápida do umbilical do mastro de serviço de cauda, chamado de lata de purga. Mas esta fuga foi ajustada manualmente e resolvida.
Contudo, e segundo os engenheiros da NASA referem, não foi este o motivo pelo qual o lançamento foi cancelado.
O problema mais “grave” surgiu no sistema de kick start bleed, que despeja hidrogénio líquido para os motores RS-25, servindo este para os arrefecer antes do lançamento.
Isto não estava a acontecer normalmente num dos motores (motor nº 3), o que estava a deixar o motor ligeiramente mais quente (-230º celsius) que os outros três (-249º celsius), e os esforços para corrigir o problema falharam, levando ao cancelamento do lançamento.
Este revés, segundo o gestor do programa SLS da NASA, John Honeycutt, deveu-se a um problema com o sensor no motor.
“Estamos um pouco preocupados com um desses sensores”, porque durante o lançamento via-se “bom hidrogénio líquido gelado” a sair para fora do motor, o que não é normal.
“Entendemos a física sobre o desempenho do hidrogénio”, referiu John Honeycutt na conferência de imprensa, mas “a maneira como o sensor se comportou não se alinha com a física da situação.”
Muito embora tenha sido equacionado o retorno do SLS ao cais de montagem, para a substituição do sensor, este procedimento criaria todo um desconforto neste projecto, além do efeito económico.
Adiantar procedimentos é solução apresentada
Com as novas janelas de lançamento agendadas para dias 2 e 3 de setembro, voltar a recolher o foguete SLS foi uma solução excluída à partida.
A NASA tomou então a decisão para este sábado nos procedimentos de lançamento, de começar a injetar hidrogénio para os motores cerca de 30 a 45 minutos antes, enquanto o tanque de hidrogénio do estágio central está na fase de “abastecimento rápido”, refere a diretora de lançamento do Programa de Sistemas Terrestres de Exploração da NASA, Charlie Blackwell-Thompson.
Esta opção concretizou-se durante os testes Green Run, do estágio principal no complexo de Stennis Space Cente, no início de 2021, onde não houve os problemas de temperatura relatados.
“A única coisa que sabemos, para replicar o sucesso que tivemos em Stennis, é alterar o teste para mais cedo na linha de tempo de lançamento”, refere o gestor do programa SLS da NASA, John Honeycutt.
Se o mesmo problema da temperatura reaparecer, pode ser possível prosseguir com a contagem regressiva, isto se os engenheiros acreditarem que o sensor está com defeito e que o motor nº3 está devidamente gelado. Só nessa altura “teremos um plano para prosseguir, ou não [com o lançamento], em vez de ficarmos sentados a coçar a cabeça”, explica Honeycutt. “Temos de continuar a analisar todos os dados. De reunir a lógica do voo, antecipando desta forma que não vamos obter melhores resultados no sensor de temperatura de arrefecimento do motor nº 3.”
Um sensor que se desliga por dezenas de graus negativos, em vez de estar completamente offline, não é inesperado, como explica a diretora de lançamento do Programa de Sistemas Terrestres de Exploração da NASA, Charlie Blackwell-Thompson.
Com uma nova oportunidade de lançamento prevista para este sábado, todos os elementos ligados à missão Artemis I voltam a verificar minuciosamente que mais nada de técnico aconteça. Mas quanto à meteorologia, essa vão mesmo de ter de cruzar os dedos e “rezar”.
Mark Burger, o oficial meteorológico de lançamento do Space Launch Delta 45 da Força Espacial dos EUA, refere no boletim da missão que a probabilidade de violar as restrições climáticas, ronda os 60%. Isto porque estamos na altura em que é normal registarem-se as típicas chuvas tropicais. Nesta altura do ano, na Florida, é “algo em torno de 60%” para dia 3 de setembro. “Ainda acho que temos uma boa oportunidade, em termos de clima, para lançar no sábado.”