"Não interferimos". Moscovo desmente impulso a coletes amarelos

por Carlos Santos Neves - RTP
“Respeitamos a soberania de França”, garantiu o porta-voz do gabinete de Vladimir Putin, Dmitri Peskov Maxim Shemetov - Reuters

O gabinete do Presidente russo veio esta segunda-feira negar ter desempenhado, até ao momento, qualquer papel de instigação das sucessivas vagas de protesto dos coletes amarelos em França. Segundo a imprensa britânica, Moscovo estaria a alimentar centenas de falsas contas nas redes sociais. O Kremlin queixa-se de “difamação”.

“Não interferimos e não iremos interferir em assuntos internos de qualquer país, incluindo a França”, quis garantir o porta-voz do Kremlin, para insistir na posição de que o atual contexto de contestação à Presidência de Emmanuel Macron constitui “um assunto exclusivamente interno” dos franceses.Os órgãos de comunicação da Rússia conotados com o Kremlin sustentam que “o enfraquecimento de Macron” vai ao encontro “do interesse de Trump”.

“Respeitamos a soberania de França e estamos gratos quando a França nos responde, neste plano, com reciprocidade. Qualquer alegação sobre uma participação da Rússia não é mais do que difamação”, acentuou Dmitri Peskov. 

Esta tomada de posição da Presidência russa surgiu depois de o diário britânico The Times ter noticiado a existência de centenas de falsas contas nas redes sociais alegadamente alimentadas por serviços de Moscovo.

O jornal cita dados da empresa de cibersegurança New Knowledge, segundo os quais cerca de duas centenas de contas no Twitter difundiram fotografias ou vídeos de presumíveis manifestantes feridos pela polícia francesa. Imagens que não estarão relacionadas com os acontecimentos das últimas semanas em França.

As autoridades francesas ainda não se pronunciaram sobre as informações reportadas pelo Times.“Do interesse de Trump”

Na semana passada a imprensa russa mais conotada com o Governo aventara a tese da mão dos Estados Unidos, mais concretamente da Administração Trump, na ampliação dos protestos em solo francês.

“O enfraquecimento de Macron, e com um pouco de sorte a sua demissão, é do interesse de Trump”, escrevia na passada terça-feira o diário Rossiyskaya Gazeta, considerando mesmo “suficiente”, referindo-se ao Presidente francês, “lembrar que o chefe da V República reivindicou recentemente a sua posição de líder da União Europeia, defendeu a ideia de um exército europeu independente dos Estados Unidos e defendeu ativamente o acordo nuclear iraniano”.

O quadro de crise em França tem suscitado posições públicas não só do Presidente norte-americano mas também de atores internacionais como o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que questionou a forma como a polícia francesa tem reprimido as manifestações.

Uma vez mais, Donald Trump recorreu ao Twitter para uma aparente tentativa de retirar dividendos políticos do momento francês, ao considerar que “talvez seja tempo de acabar com o Acordo de Paris, ridículo e extremamente caro, e fazer chegar dinheiro às pessoas reduzindo os impostos”.


O ministro francês dos Negócios Estrangeiros respondeu no domingo à Casa Branca.

“Digo a Donald Trump e o Presidente da República já lho disse também: não tomas partido nos debates americanos, deixem-nos viver a nossa vida de nação”, devolveu Jean-Yves Le Drian.

c/ agências
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