"Não frequentar a escola é tão mortal como fumar ou beber muito", diz estudo

por RTP
Nuno Patrício - RTP

É o primeiro estudo que associa diretamente a educação a ganhos de longevidade e expectativa de vida. Concluir o ensino primário, secundário e superior equivale a uma vida inteira de alimentação saudável, reduzindo o risco de morte em 34 por cento, afirmam os investigadores.

Os dados são provenientes de países industrializados, como o Reino Unido e os EUA. Foi ainda analisada informação de estados em desenvolvimento, como a China e o Brasil.

O estudo publicado na revista The Lancet Public Health concluiu que o risco de mortalidade de um adulto diminuiu dois por cento por cada ano no ensino a tempo inteiro.

Os investigadores observaram que o aumento do investimento na educação apresenta-se como uma “evidência convincente” para reduzir as desigualdades nas taxas de mortalidade globais.

“A educação é importante por si só, não apenas pelos seus benefícios para a saúde, mas agora ser capaz de quantificar a magnitude deste benefício é um crescimento significativo”, sublinha Terje Andreas Eikemo da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU), coautor do estudo.

Defende ainda que quem concluir o ensino primário, secundário e superior equivale "a uma vida inteira de alimentação saudável, reduzindo o risco de morte em 34 por cento". O estudo argumenta que a escolaridade acrescenta longevidade e expectativa de vida em comparação com aqueles sem educação formal.
Tão mau como fumar dez cigarros por dia
No sentido inverso, os autores da investigação sustentam que “não frequentar a escola em nenhum momento torna-se tão prejudicial para a saúde dos adultos como consumir cinco ou mais bebidas alcoólicas todos os dias ou fumar dez cigarros por dia durante uma década”.

As pessoas que abandonam a escola precocemente perderão anos dos níveis futuros de esperança de vida. O estudo deixa claro que as melhorias na longevidade são semelhantes nos países ricos e pobres, independentemente do sexo, classe social e demografia.

Os investigadores da NTNU e da Universidade de Washington, em Seattle assinaram a primeira análise que permite calcular o número de anos de educação e as correlações com a esperança de vida, que implicará a redução da mortalidade.

A análise dos dados foi apoiada pelo fundo de investigação do governo norueguês e pela fundação Bill & Melinda Gates.
Benefícios ligeiros
David Finch, diretor assistente da Health Foundation, especialista em assuntos de esperança vinca: “Temos desigualdades realmente grandes no Reino Unido. A diferença na esperança de vida entre as áreas menos e mais carenciadas em Inglaterra é 9,4 anos para os homens e 7,7 anos para as mulheres, e não é surpreendente que se observe uma diferença significativa quando se compara por nível de qualificação”.

Finch, que não esteve envolvido na elaboração do estudo, afirma que um maior nível de educação trouxe uma melhoria na esperança de vida através de benefícios “ligeiros” e sem serem financeiros.

“Uma melhor educação ajuda as pessoas a construírem melhores relações sociais. Ao nos dar melhor acesso e compreensão das informações, pode ajudar as pessoas a fazerem melhores escolhas", realça Finch.

Por sua vez, mais escolaridade "pode ajudar cada pessoa a sentir-se fortalecida e valorizada. Podem ser coisas ligeiras mas importantes e podem ajudar todos”, reitera.

"A educação é um canal fundamental que leva a rendimentos mais elevados ao longo da vida e isso, por sua vez, ajuda-o a ter acesso a  coisas que são realmente importantes, como uma melhor qualidade de habitação e uma melhor alimentação”, alega o especialista.

Porém, Finch deixa uma questão não respondida por este estudo: “As trajetórias de rendimentos profissionais dos jovens serão as mesmas que eram para as pessoas de 30 ou 40 anos atrás, na mesma idade?”. As perspetivas não são tão animadoras”, até porque os benefícios como os conhecemos hoje, "poderão perder validade".

Neil Davies, professor de estatística médica na University College London, externo à análise, devolve uma reflexão que considera mais realista: “Honestamente, as ligações entre a educação e a mortalidade são a menor das nossas preocupações relativamente ao aumento das taxas de absentismo escolar – as consequências no mercado de trabalho serão provavelmente piores”. 

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