"Não estou a brincar". Trump admite cumprir terceiro mandato à frente dos EUA
O presidente norte-americano afirmou no domingo que "não está a brincar" perante a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato em 2028, sugerindo que poderá haver formas para contornar a legislação. A constituição norte-americana expressa que "nenhuma pessoa será eleita para o cargo de Presidente mais que duas vezes".
“Não estou a brincar”, afirmou Donald Trump, presidente dos EUA sobre a tentativa de cumprir um terceiro mandato. Nas entrelinhas fica a indicação de que o presidente norte-americano está a considerar maneiras de violar a barreira constitucional.
“Existem métodos que podem ser usados para fazer isso”, alegou Trump numa entrevista por telefone à NBC News, a partir de Mar-a-Lago, o seu clube privado.
Mais tarde, Trump elaborou para repórteres no Air Force One, num voo da Flórida para Washington: "Tive mais pessoas a pedirem-me para ter um terceiro mandato, o que de certa forma é um quarto mandato, porque a outra eleição, a eleição de 2020, foi totalmente uma fraude". Nessa data, o republicano Trump perdeu as eleições para o democrata Joe Biden.
Como contornar a 22ª Emenda
A 22ª Emenda, adicionada à Constituição em 1951 depois de o presidente Franklin D. Roosevelt ter sido eleito quatro vezes consecutivas, deixa claro que “nenhuma pessoa será eleita para o cargo de presidente mais de duas vezes”.
Entretanto, durante a entrevista de Kristen Welker, da NBC, foi apontado um potencial cenário para as próximas eleições presidenciais, a decorrerem em 2028. O candidato republicano ao cargo seria JD Vance, e "depois passaria a posição” para Donald Trump.
“Bem, essa é uma possibilidade”, respondeu Trump. “Mas há outras também. Há outras.”
“Poder-me-á explicar quais são as outras?”, perguntou Welker.
“Não”, declarou o presidente, sem avançar detalhes.
De acordo com a Associated Press, o gabinete de Vance ainda não respondeu a um pedido de comentário.
Mais estratégias assente na ausência de uma palavra: "consecutivos"
Num comício em Nevada em janeiro, Trump já teria insinuado que “será a maior honra da minha vida servir, não uma, mas duas ou três vezes ou quatro vezes” o país, aparentemente a brincar.
Mas desta vez, à NBC, alegou que: “Não estou a brincar”.
Steve Bannon, um dos principais aliados externos do presidente, sugeriu que Trump é elegível, já que a emenda não especifica termos “consecutivos”.
Na Câmara dos Representantes, Andy Ogles, um republicano do Tennessee, introduziu uma legislação para iniciar o longo processo de ajuste do texto da 22ª Emenda e permitir que um presidente que cumpre termos "não consecutivos" possa vir a servir um terceiro mandato de quatro anos.
A redação da proposta de Ogles exclui ex-presidentes de dois mandatos, como Barack Obama, caso ponderasse regressar da aposentação.
Alterar a 22ª Emenda exigirá dois terços de votos na Câmara e no Senado e a ratificação por três quartos dos Estados.
“Isso é ilegal. Ele não tem hipótese. Isso é tudo o que há para dizer”, realçou Michael Waldman, presidente e CEO do Centro Brennan de Justiça da Faculdade de Direito da Universidade de Nova Iorque, à CNN.
O deputado democrata, Daniel Goldman, também de Nova Iorque - que atuou como advogado principal no primeiro impeachment de Trump - sublinha: “Se os republicanos do Congresso acreditarem na Constituição, eles se oporão publicamente às ambições de Trump por um terceiro mandato.”
“Esta é mais uma escalada no esforço claro de Trump para assumir o Governo e desmantelar a nossa democracia”, alertou Goldman.
Trump acredita que os americanos vão concordar com um terceiro mandato por causa da sua popularidade. Segundo a AP, o presidente alegou ter “os números mais elevados nas sondagens comparativamente a qualquer outro republicano nos últimos 100 anos”.
Dados da Gallup (empresa multinacional de análise de opinião pública) mostram que o presidente George W. Bush atingiu um índice de aprovação de 90 por cento após os ataques de 11 de setembro de 2001. O seu pai, o presidente George H. W. Bush, atingiu 89 por cento após a Guerra do Golfo em 1991.
Trump atingiu o máximo de 47% nas sondagens da Gallup, atualmente, apesar de afirmar que está “na faixa dos 70% em muitas outras pesquisas”.
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