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OLÍMPICOS - CRÓNICA DE BASTIDORES "Corredor olímpico"

por João Pedro Silva - RTP
RTP

Como uma nanopartícula nos virou do avesso. Os costumes. Os hábitos. As viagens. Os sentidos e os sentimentos. É verdade. O vírus maldito invadiu-nos sem pedir licença. Abarcou tudo. Até fez adiar competições. Olhem, os Jogos Olímpicos.

Sim, vivemos o presente mas chamamos à competição, logo a seguir a Tóquio, passado. Dizemos 2020. Estamos atrasados no presente, a remediar agora, sem povo, o que não arrancou lá atrás.

O desporto está metido numa caixa. Com um buraco para poder respirar. É o que acontece agora. À vida também. Respiramos a competição mas com máscara. Enfiada na cara e nas restrições. Em todo o lado.

Mas o comum mortal lá arranja forma, mesmo que as amarras ainda sejam fortes, de contornar a Covid e as proibições. Não se pode fazer lá fora? Faz se dentro.

E lá me cruzei com ele, num dia perto da hora do jantar. Foi no décimo andar. Não o meu. Tinha ido lá “arejar”, sacudir mais uma conversa com o João e o Marco. Eis senão quando lá surge ele, talvez jornalista. Talvez farto que o vírus o mande estar fechado. Fartou-se.

Não sei a nacionalidade. O nome. Nada. Sei que vi ali no corredor de um hotel, no centro de Tóquio, e em passo de atleta alguém a transportar a rua para junto da porta do quarto. Todo de preto, máscara pois claro, e sapatilha a preceito. Deu voltas e mais voltas. Não sei se atingiu os mínimos para se qualificar. Não sei nem quis saber. Só tive tempo de lhe tirar esta fotografia e ele, já transpirado e em passo lento, esticou dois dedos da mão esquerda em forma de agradecimento.

Testemunhei, naquele corredor, um jornalista olímpico. Corredor. Não ia atrás de ninguém naquele momento. Mas aposto que no dia a seguir ia correr atrás das notícias destes Jogos tão estranhos. Dos Jogos a quem a nanopartícula fechou a porta ao público na cara. A mesma que tem uma máscara que nos tapa o nariz e a boca há quase dois anos.

Fui-me embora para o quarto. Deixei-o cortar a meta na porta 1025. Eu entrei no 834. Sem pressas.
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