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Musk debaixo de fogo após suspender contas de jornalistas do Twitter

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Reuters

Elon Musk desencadeou uma nova onda de indignação mundial depois de ter bloqueado no Twitter, sem aviso prévio, contas de vários jornalistas que escreveram artigos sobre o novo dono da rede social. Vários líderes europeus falam em “ataque à liberdade de imprensa” e ameaçam sancionar o Twitter.

Pelo menos oito jornalistas, de jornais como o New York Times e Washington Post ou CNN, viram as suas contas do Twitter bloqueadas na noite de quinta-feira.

As contas dos jornalistas foram bloqueadas sem qualquer aviso prévio ou explicação, mas no Twitter, Musk diz que foram suspensas todas as contas que partilharam coordenadas geográficas em tempo real da sua própria localização.

“Criticar-me o dia todo não tem problema, mas partilhar a minha localização em tempo real e colocar a minha família em perigo é que não”, escreveu Musk no Twitter, acrescentando que “as mesmas regras de doxxing [prática de partilhar dados pessoais sobre um indivíduo ou organização] se aplicam a ‘jornalistas’ e a todos os outros”.

Embora não sejam conhecidos os motivos exatos que levaram à suspensão das contas dos jornalistas, a decisão foi tomada um dia depois de o Twitter ter suspendido dezenas de outras contas, nomeadamente a conta de um estudante de 20 anos que estava por detrás da conta ElonJet, que monitorizava todos os movimentos do jato particular de Musk.

Todos os jornalistas visados tinham escrito sobre Musk e a eliminação do Twitter da conta da ElonJet.

“Eles partilharam a minha localização exata em tempo real, basicamente coordenadas de assassinato, numa clara violação direta dos termos de serviço do Twitter”, disse Musk.

Musk não esclareceu, no entanto, de que forma os jornalistas partilharam a sua localização exata, dado que os jornalistas não incluíram nos seus artigos nenhuma informação sobre a sua localização em tempo real ou de qualquer um dos seus familiares.

Num comunicado partilhado na rede social, o Washington Post afirma que a suspensão da conta do jornalista Drew Harwell “mina a afirmação de Elon Musk de que pretende administrar o Twitter como uma plataforma dedicada à liberdade de expressão”.


A CNN também afirmou num comunicado que a “crescente instabilidade e volatilidade do Twitter deve ser uma preocupação inacreditável para todos os que usam a plataforma”.


Depois de várias críticas e de pedidos de explicação, o Twitter quebrou o silêncio esta sexta-feira e afirmou que a empresa “reviu manualmente” todas as contas que foram suspensas.

"Entendo que o foco parece estar principalmente em contas de jornalistas, mas aplicamos a política igualmente a jornalistas e não-jornalistas”, disse Ella Irwin, chefe de Segurança do Twitter, à agência Reuters.
Onda de indignação
A decisão da empresa, que foi comprada recentemente por Musk, gerou uma onda de indignação dentro e fora do Twitter. Na rede social, são vários os utilizadores que têm criticado Musk pela suspensão da conta dos jornalistas e o multimilionário tem respondido à maioria dos comentários.

Em resposta a um norte-americano veterano da Marinha que defendia que as regras que se aplicam aos jornalistas são as mesmas “e que eles não são especiais”, Musk respondeu: “Se eles são malandros, são suspensos”.


Alexandria Ocasio-Cortez, a congressista norte-americana democrata, acusou Musk de “abuso de poder”
e deixou-lhe uma mensagem no Twitter: “Tire um tempo e largue o protofascismo. Talvez tente desligar o telemóvel”. “Você primeiro lol”, respondeu Musk a Ocasio-Cortez.

Num texto partilhado na rede social, Jason Kint, CEO da associação comercial internacional para a indústria de conteúdo digital “Digital Content Next”, pediu explicações a Elon Musk e ameaçou ir ao Capitólio exigir que o multimilionário fosse ouvido no Congresso. Musk respondeu apenas com um emoji de surpresa.


“Algum tempo longe do Twitter faz bem à alma”, escreveu Musk na sua rede social, afirmando que a suspensão das contas iria durar sete dias. Posteriormente, o fundador da Tesla partilhou uma sondagem onde pergunta aos utilizadores se a decisão da suspensão devia ser revogada agora, amanhã, daqui a sete dias ou mais.

A sondagem mostrou que a maioria dos utilizadores (43 por cento) era a favor da reativação imediata das contas, mas minutos depois, Musk disse que iria refazer a sondagem porque havia “muitas opções”, limitando-a às opções “agora” ou “daqui a sete dias”. A maioria continuou a votar na opção que defende o regresso imediato dos jornalistas suspensos à rede social.
UE ameaça com sanções
Apesar de quase todos os jornalistas silenciados pelo Twitter serem norte-americanos, a Europa não se manteve em silêncio e também protestou contra a decisão de Musk.

Alemanha, França e Reino Unido pediram explicações e a União Europeia avisou Elon Musk que há “uma linha vermelha”.

As notícias sobre a suspensão arbitrária de jornalistas no Twitter são preocupantes”, escreveu Věra Jourová, vice-presidente da Comissão Europeia, no Twitter. “A Lei de Serviços Digitais da UE exige respeito à liberdade de imprensa e aos direitos fundamentais. Elon Musk deve estar ciente disso. Existem linhas vermelhas. E sanções, em breve”, alertou.


"A liberdade de imprensa não pode ser ativada e desativada por conveniência", criticou o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão. "Por esse motivo, temos um problema com o Twitter", acrescentou.

Numa outra mensagem, o ministro da Transição Digital francês, Jean-Noël Barrot, afirmou-se "preocupado com a deriva na qual Elon Musk precipita o Twitter" e lembrou que "a liberdade de imprensa está na base da democracia".

O ministro francês da Indústria foi mais longe e anunciou que iria desativar a sua conta do Twitter. “Após a suspensão das contas dos jornalistas por Elon Musk, estou a suspender todas as atividades no Twitter”, escreveu Roland Lescure na rede social.
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