Música e emoção na despedida de diplomata e músico Ruy Mingas

por Diana Palma Duarte - RTP

O angolano Ruy Mingas faleceu aos 84 anos em Lisboa. Foi na Basílica da Estrela que familiares e amigos se despediram do pai, do amigo, do ex-ministro e diplomata, músico e cantor das independências, num adeus cantado a uma só voz.

Foi co-autor do Hino nacional de Angola e ficará para a história como o compositor do tema popularizado por Paulo de Carvalho " Os meninos de Huambo".
Chegou a ser atleta do Benfica nos anos 50 mas optou pela música e pela militância política na década de 70, tornando-se num dos principais membros do MPLA depois da independência do país.

Os amigos portugueses presentes na missa de corpo presente referem-se a Ruy Mingas como um homem que "quis construir pontes" com músicos de Portugal nos tempos conturbados da descolonização.

Na missa, que as câmaras de televisão não tiveram autorização de gravar, Gil do Carmo, filho do fadista Carlos do Carmo ( falecido a 1 de janeiro de 2021) evocou a amizade que uniu o seu pai e Ruy Mingas, uma das filhas cantou um dos temas à capela e Paulo de Carvalho encerrou a missa de corpo presente cantando " Os meninos de Huambo" enquanto as exéquias saíam da Basílica da Estrela.

Cá fora, o cantor contou à RTP como é que, há 40 anos, a sua vida se cruzou com a do músico angolano: "Conheci o Ruy Mingas quando fazia parte do grupo Os Sheiks".

Até que um dia, já depois da independência de Angola e do 25 de Abril em Portugal, chega uma encomenda a Lisboa:

"Quando o Ruy me mandou através do Carlos do Carmo uma fita de arrasto, que é uma fita antiga de gravador e antes da cassete, achou que era própria para mim. Nesse tempo eu fiz dela um fado na primeira gravação e as pessoas aderiram à cantiga. Porque as pessoas sentiam algum sofrimento! Muita gente teve de deixar Angola, Moçambique, Guiné e gostaria de ter ficado lá mas as condições não foram boas e tiveram de se vir embora."

Paulo de Carvalho de imediato gostou da música mas havia duas frases do poema que "eu tomeu a liberdade de tirar", "porque a gravei em 1985 aqui em Portugal e achei que não fazia sentido". Era " o poder popular" e as "FAPLA" que são as Forças Armadas de Angola."

Passados 50 anos desde a criação de " Os meninos de Huambo", conta o músico que o segredo de tanto sucesso só pode estar "num sentimento contraditório entre as pessoas que adoravam aquela terra e tiveram de saír de lá. Por outro lado aquilo é um hino dos pioneiros do MPLA. Muitas pessoas deitavam e deitam lágrimas ao ouvir a música e cantavam-na comigo porque adoravam Angola e sentiam aquela coisa da história, do ter que se saír de um lugar que se gosta."

Emocionado, após a missa de corpo presente , Paulo de Carvalho refere que " cantar os meninos de Huambo faz todo o sentido no dia de hoje e na cerimónia que estava a ter lugar e essa é a parte que me faz sentir contente. Por outro lado, estou triste porque é a partida de um amigo".

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