"Mulher, Vida, Liberdade". Mulheres detidas no Irão cumprem dia de greve de fome

por Graça Andrade Ramos - RTP
Manifestação em Itália em prol do movimento iraniano "Mulheres, Vida, Liberdade" Babak Bordbar - AFP

Trinta e quatro detidas iranianas fizeram este domingo greve de fome para assinalar o segundo aniversário do movimento "Mulher, Vida, Liberdade" e a morte, sob detenção, de Mahsa Amini, em 16 de setembro de 2022.

A prémio Nobel da Paz 2023, a ativista iraniana Narges Mohammadi, detida desde 2021, foi a porta-voz da iniciativa, pela "derrota do despotismo teocrático".

Já na noite de sábado, dezenas de mulheres concentraram-se no pátio da prisão de Evin, onde estão detidas algumas das principais figuras do movimento iraniano de defesa dos direitos femininos, clamando Mulher, Vida, Liberdade, o grito do movimento criado após a morte da jovem Mahsa Amini, aos 22 anos.

Amini havia sido detida a 13 de setembro, em plena rua, pela polícia da moralidade, por não estar a seguir as regras de colocação do véu islâmico, o hijab, obrigatório para as mulheres no Irão.

A sua morte levou a meses de protestos generalizados, durante o outono e o inverno de 2022 e 2023.

Sob as palavras de ordem Mulher, Vida, Liberdade, milhares de manifestantes foram além da abolição da obrigatoriedade do hijab e exigiram o fim do regime teocrático iraniano, sendo a destruição pública de véus islâmicos um dos maiores símbolos da luta contra o governo e a polícia da moralidade.

No Irão, os protestos foram brutalmente reprimidos pelas autoridades, com um balanço de 500 mortes, dez execuções e 22 mil detenções, homens e mulheres.

"Hoje, a 15 de setembro de 2024, 34 prisioneiras políticas detidas na prisão de Evin, cumpriram uma greve de fome em comemoração do segundo aniversário do movimento Mulher, Vida, Liberdade e do assassínio da Mahsa (Jina) Amini", escreveu a ativista.


"No segundo aniversário do movimento Mulheres, Vida, Liberdade, reafirmamos o nosso compromisso para alcançar democracia, liberdade e equidade e a derrota do despotismo teocrático. Hoje, elevamos as nossas vozes mais alto e reforçamos a nossa resolução", acrescentou Mohammadi numa segunda publicação três horas depois.

Dois anos de luta
Em Itália, em França e na Alemanha, a comunidade iraniana exilada saiu também à rua durante o fim-de-semana, em solidariedade com o movimento e lembrando Mahsa Amini e outras vítimas da repressão.

"Mais de 25 prisioneiras políticas na cadeia de Evin juntaram-se no pátio do pavilhão das mulheres e penduraram cartazes com palavras de ordem e gritaram os lemas nos corredores e no pátio", informara também sábado Narges Mohammadi, na sua conta na rede social Instagram, associando-se aos protestos europeus.

As prisioneiras protestaram nomeadamente contra as políticas opressoras da república islâmica contra as mulheres. Simbolicamente, queimaram véus no pátio da prisão.

A Nobel da Paz disse ainda que as manifestantes reivindicaram o fim da pena de morte no Irão, onde, segundo as Nações Unidas, este ano já foram executadas cerca de 400 pessoas.

"As mulheres de Evin permanecem unidas e decididas até à abolição da pena de morte", vincou Mohammadi. "Podem perder-se vidas, podem rolar cabeças, mas a liberdade nunca morrerá", prometeu.

A iraniana é uma das vozes mais importantes na defesa dos direitos humanos no Irão, condenada em seis ocasiões a um total de 13 anos e três meses de prisão e 154 chicotadas.

com Lusa
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