Mugabe recusa ceder aos militares e demitir-se

por Graça Andrade Ramos - RTP
Robert MUgabe em 2016, durante um discurso ao partido, o Zanu-PF Philimon Bulawayo - Reuters

Terá sido de forma categórica que Robert Mugabe recusou esta quinta-feira a proposta para renunciar sem partilha ao poder no Zimbabué, que governa há 37 anos.

A confirmarem-se as notícias avançadas pela agência France Presse, que cita uma fonte próxima dos militares, Mugabe frustra assim os objetivos daqueles que assumiram o controlo da capital e colocaram o Presidente sob prisão domiciliária na madrugada de quarta-feira.Esta quarta-feira, de acordo com a BBC, o padre católico Fidelis Mukonori, amigo de longa data de Mugabe, esteve a tentar mediar um acordo com os generais sobre o futuro do Presidente. Ministros sul-africanos enviados pelo Presidente Jacob Zuma estiveram reunidos com o exército e os partidos políticos.

Segundo a agência Reuters, alguns aliados de Mugabe, que estiveram na sua casa em Harare, tinham já indicado “que o Presidente não pretende demitir-se voluntariamente antes das eleições agendadas para o próximo ano”.

"No interesse do povo zimbabueano, Robert Mugabe deve demitir-se" opinou entretanto Morgan Tsvangirai, líder do Movimento por uma Mudança Democrática (MDC), o principal partido da oposição.

Robert Mugabe não parece convencido a fazer-lhe a vontade nem aos militares responsáveis pelo golpe e que estão interessados em resolver a situação de forma pacífica e o mais depressa possível, de acordo com várias fontes.

Morgan Tsvangirai, líder do Movimento por uma Mudança Democrática, MDC, regressou ao Zimbabué a 16 de novembro Fonte: EPA

Mugabe reuniu-se pela primeira vez, desde o golpe, com o chefe do Exército, o general Constantino Chiwenga, na sede da Presidência em Harare.

"Encontraram-se hoje. Ele recusou demitir-se, penso que estará a tentar ganhar tempo", afirmou uma fonte anónima citada pela AFP.

Na reunião participaram igualmente dois ministros sul-africanos enviados pelo Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, mas Pretoria não revelou qualquer pormenor sobre o teor da conversa.

Imagens divulgadas pela televisão estatal sobre o encontro mostram Mugabe, de casaco azul-marinho e calças cinzentas, sentado sorridente ao lado de Chiwenga.
Luta interna no Zanu-PF
A intervenção armada ocorreu alguns dias depois do afastamento na semana passada do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, um opositor de longa data da Primeira Dama Grace Mugabe, primeira na linha de sucessão presidencial.

Soldados e carros blindados ocupam desde quarta-feira diversos pontos estratégicos da capital do Zimbabué, Harare.

Um porta-voz dos militares, o general Sibusiyo Moyo, explicou que a operação não é um golpe de estado e visa unicamente "criminosos" que alegadamente rodeiam Mugabe, sem referir que se trata provavelmente de apoiantes da mulher do Presidente.

Mugabe havia já anunciado a intenção de tentar, apesar dos seus 93 anos, a reeleição para um novo mandato como Presidente do Zimbabué, nas eleições marcadas para o próximo ano. Na semana passada desistiu em favor da candidatura da sua mulher, Grace.

Robert Mugabe e a mulher, Grace, em agosto de 2017 Fonte: EPA

A decisão terá aberto uma guerra no interior do partido Zanu-PF. A maioria do partido apoia Emmerson Mnangagwa, veterano da guerra colonial.
Rumores de acordo
Há rumores de que a proposta feita ao Presidente para se demitir previa que o "camarada Mugabe" não fosse perseguido pelas suas ações e crimes cometidos durante a sua presidência.

Mugabe deveria ainda partir de imediato para a África do Sul, aceitando o convite alegadamente endereçado por Zuma. A sua mulher, Grace, não estaria mencionada.

Após a demissão um novo Governo de transição seria nomeado em 48 horas, com eleições marcadas para a primavera de 2018.

A estrutura governamental permaneceria mas seria criado o posto de primeiro-ministro.
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