A ex-eurodeputada Ana Gomes considera que a escolha do advogado Robert Abela para primeiro-ministro de Malta, após a demissão de Joseph Muscat do cargo, envolvido num complexo processo criminal, é uma "evolução na continuidade".
Ana Gomes dá o benefício da dúvida a Robert Abela, apesar de ele ser um elemento muito próximo de Muscat, que deixou a liderança do Partido Trabalhista de Malta e o cargo de primeiro-ministro, na sequência de denúncias de interferências no inquérito ao homicídio, em 2017, da jornalista Daphne Caruana Galizia.
"Vamos ver o que acontece", disse Ana Gomes à agência Lusa, no dia em Robert Abela assume o cargo para os restantes dois anos e meio de mandato de primeiro-ministro de Malta.
Ana Gomes - que, como eurodeputada, acompanhou de perto a situação de crise política em Malta - diz que se perceberá "um pouco melhor" se Abela quererá distanciar-se dos casos que levaram ao afastamento de Joseph Muscat, quando se souber onde ele colocará vários dos ministros que eram próximos do antigo chefe de Governo e que foram cúmplices da situação criminal.
"É preciso perceber o que acontece, por exemplo, a Conrad Mizzi", explicou Ana Gomes, referindo-se ao antigo ministro da Energia do Governo de Malta, bem como a outras figuras relevantes do regime, como o procurador-geral.
"Mas temo que seja uma evolução na continuidade", lamenta a ex-eurodeputada socialista, recordando que o adversário de Robert Abela na liderança do Partido Trabalhista de Malta, Chris Fearne, prometia mais afastamento ao Governo anterior e mais profundas reformas no regime abalado por vários casos.
Em 01 de dezembro passado, Joseph Muscat anunciou a demissão do cargo de líder partidário e do Governo, na sequência de manifestações de movimentos cívicos e da família de Daphne Caruana, que acusaram o chefe de Governo de proteger colaboradores próximos, como o chefe de gabinete Keith Schembri.
"Contudo, o problema não está só nas pessoas. Está no sistema", alerta Ana Gomes, recordando que Malta está controlada por "várias Máfias" que controlam e manipulam o poder, pelo que, diz a ex-eurodeputada, não basta alterar os rostos no poder.
Ana Gomes refere que muito desse poder subterrâneo está ligado ao controlo do jogo, nas suas diferentes vertentes -- apostas desportivas, jogo `online`, `videogaming` -- que tem um enorme poder na ilha.