Menos de 24 horas depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado a nova estirpe do vírus Mpox como "emergência de saúde pública global", foi confirmado o primeiro caso fora de África. O atual surto foi detetado esta quinta-feira na Suécia, na região de Estocolmo. De acordo com o Governo sueco, a pessoa infetada esteve na zona do continente africano mais afetada. A OMS adverte para risco de mais casos na Europa "nos próximos dias".
A pessoa em causa foi infetada quando esteve numa região do continente africano onde houve um grande surto da doença, explicou à comunicação social Olivia Wigzell, diretora-geral da Agência sueca de Saúde Pública.
Wigzell assegurou que a pessoa infetada já está a receber tratamento e instruções de acordo com as recomendações da OMS.
“O caso é o primeiro causado pelo Clade I que foi diagnosticado fora do continente africano. A pessoa afetada também foi infetada durante uma estadia numa zona de África onde há um grande surto de Mpox Clade I”, disse ainda a responsável, acrescentando que o registo deste caso não aumenta o risco para a população sueca nem requer medidas adicionais de controlo.
"É claro que é algo que levamos a sério", afirmou também Jakob Forssmed, em conferência de imprensa, segundo a agência noticiosa sueca TT.
Os representantes europeus da OMS afirmaram, entretanto, que se espera que sejam detetados mais casos na Europa, importados nos “próximos dias”.
Esta é a segunda vez em dois anos que a doença infecciosa é considerada uma potencial ameaça para a saúde internacional, um alerta que foi inicialmente levantado em maio do ano passado, depois de a sua propagação ter sido contida e a situação ter sido considerada sob controlo.
No início da semana, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) anunciou que o surto de mpox era uma emergência de saúde pública, com mais de 500 mortes confirmadas, apelando para ajuda internacional para travar a disseminação do vírus.
O que se sabe sobre a Monkeypox?
A varíola é uma doença que é transmitida dos animais para os seres humanos, com casos frequentemente encontrados perto de florestas tropicais onde existem animais portadores do vírus. Foram já encontradas provas de infeção pelo vírus da mpox em animais como esquilos, ratos da Gâmbia, arganazes, diferentes espécies de macacos e outros.
O mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual. Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos genitais, tornando-o mais difícil de identificar, o que significa que as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.
Esta nova estirpe, denominada "clade 1b", foi detetada na República Democrática do Congo em setembro de 2023 e mais tarde foram reportados casos em vários países vizinhos. Segundo a OMS, esta provoca doença mais grave do que a anterior e daí a necessidade de classificar como uma emergência mundial. A nova variante pode ser, além disso, facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de contacto sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.
Em 2022, a OMS declarou o mpox como emergência global depois de se ter espalhado para mais de 70 países que não tinham qualquer historial de contacto com o vírus até então, tendo afetado sobretudo homens homossexuais e bissexuais. Antes disso, a doença foi sobretudo detetada em surtos ocasionais na África central e ocidental quando as pessoas entravam em contacto com animais selvagens infetados.
Os países ocidentais contiveram o surto e a disseminação do vírus com a ajuda de vacinas e tratamento aos quais África praticamente não tem acesso.
A OMS está a pedir aos fabricantes de vacinas que apresentem dados que garantam que as vacinas são seguras, eficazes, de qualidade assegurada e adequadas para as populações-alvo.
As autoridades congolesas solicitaram quatro milhões de vacinas contra o mpox, para inocular sobretudo crianças e jovens até aos 18 anos e os Estados Unidos e o Japão posicionaram-se para serem os fornecedores dessas vacinas à RDCongo, segundo adiantou à AP Cris Kacita Osako, do comité de resposta ao mpox neste país.