A farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, que fabrica uma vacina contra a Mpox, anunciou que solicitou à Agência Europeia de Medicamentos que alargasse a utilização do seu soro a adolescentes dos 12 aos 17 anos.
Na quinta-feira, a Bavarian Nordic disse que estava pronta para produzir até 10 milhões de doses de vacinas até 2025. A empresa farmacêutica possui neste momento cerca de 500 mil doses armazenadas.“A apresentação baseia-se nos resultados provisórios de um estudo clínico (NCT05740982), patrocinado pelos Institutos Nacionais de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID) dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), em 315 adolescentes com 12-17 anos de idade e 211 adultos com 18 anos ou mais, demonstrando não inferioridade das respostas imunitárias, bem como um perfil de segurança semelhante, entre ambos os grupos etários após a vacinação com duas doses padrão da vacina MVA-BN”, lê-se no comunicado.
Na quarta-feira, a OMS declarou a doença uma emergência global de saúde, o seu nível de alerta mais elevado, com mais de 500 mortes confirmadas, apelando para ajuda internacional para travar a disseminação do vírus. A farmacêutica dinamarquesa recorda que, nos Estados Unidos, durante a epidemia anterior de mpox (conhecida como a varíola dos macacos), em 2022, a agência norte-americana para a Alimentação e Medicamentos (FDA) autorizou a utilização de emergência da vacina para adolescentes.
O forte ressurgimento da doença em África deve-se principalmente a uma nova estirpe, o clade 1b, mais transmissível e mais perigosa do que as anteriores.
O Paquistão anunciou esta sexta-feira o primeiro caso de Mpox no seu território, anunciou o porta-voz do Ministério da Saúde, em comunicado, acrescentando que a pessoa infetada veio de um país do Golfo.
A epidemia circula em parte através de relações sexuais, mas o vírus também é transmitido através de contactos não sexuais, ameaçando igualmente as crianças nas quais a doença parece mais perigosa.
China reforça controlo nas fronteiras
Esta sexta-feira, Pequim reforçou as medidas de vigilância nas fronteiras para evitar a propagação do vírus monkeypox, obrigando todos os aviões e navios provenientes de zonas afetadas pela doença a cumprir medidas sanitárias.
A Administração Geral das Alfândegas do país asiático decidiu aplicar estas medidas em resposta à declaração de emergência sanitária internacional emitida pela Organização Mundial de Saúde.
As autoridades chinesas estabeleceram protocolos de rastreio para os viajantes provenientes de regiões com surtos ativos da doença. Os novos controlos centram-se na deteção de sintomas como febre, dores de cabeça e erupções cutâneas nos viajantes.
Vão ser ainda efetuados controlos sanitários minuciosos aos veículos, contentores e mercadorias provenientes das zonas afetadas.
Estas medidas, que vão estar em vigor durante os próximos seis meses, visam evitar a propagação na China da “varíola dos macacos”.
A decisão surgiu devido à crescente preocupação mundial com o aumento do número de casos de Mpox, especialmente em África, onde foram registados milhares de infeções e centenas de mortes.
Primeiro caso fora de África
O primeiro caso fora de África no atual surto de mpox foi detetado quinta-feira na Suécia, na região de Estocolmo, anunciou o ministro dos Assuntos Sociais sueco, e trata-se de uma pessoa que esteve na zona africana mais afetada.
“É claro que é algo que levamos a sério”, afirmou Jakob Forssmed, em conferência de imprensa, segundo a agência noticiosa sueca TT.
A diretora-geral interina da Agência de Saúde Pública, Olívia Wigzell, assegurou que a pessoa infetada com o vírus “recebeu tratamento e regras de comportamento (a seguir) de acordo com as recomendações atuais”, acrescentando que o registo deste caso não aumenta o risco para a população sueca nem requer medidas adicionais de controlo.
“O caso é o primeiro causado pelo Clade I que foi diagnosticado fora do continente africano. A pessoa afetada também foi infetada durante uma estadia numa zona de África onde há um grande surto de Mpox Clade I”, acrescentou ainda a responsável, acrescentando que o registo deste caso não aumenta o risco para a população sueca nem requer medidas adicionais de controlo.
Mais casos importados na Europa nos próximos dias
Os representantes europeus da OMS afirmaram, entretanto, que se espera que sejam detetados mais casos na Europa, importados nos “próximos dias”.
“A confirmação do subtipo mpox Clade 1 na Suécia reflete claramente a interligação do nosso mundo (...). É provável que mais casos importados sejam registados na região europeia nos próximos dias e nas próximas semanas", afirmou a OMS em comunicado.
Emergência de saúde pública
A Organização Mundial de Saúde declarou na quarta-feira o surto de Mpox em África como emergência global de saúde, com casos confirmados entre crianças e adultos de mais de uma dezena de países e uma nova variante em circulação.
No início da semana, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC África) anunciou que o surto de Mpox era uma emergência de saúde pública, com mais de 500 mortes confirmadas, apelando para ajuda internacional para travar a disseminação do vírus. “Isto é algo que nos devia preocupar a todos… O potencial para uma disseminação além África é muito preocupante”, disse o diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
O continente africano tem poucas vacinas disponíveis de momento.
O diretor-geral da OMS já tinha anunciado que tinha prolongado por um ano as recomendações permanentes contra o risco crónico do vírus Mpox em vários países africanos, na sequência do novo surto.
"Decidi prolongar as recomendações permanentes por mais um ano para ajudar os países a responder ao risco crónico de varíola", disse Ghebreyesus na reunião do comité de emergência da OMS sobre o novo surto da chamada “varíola dos macacos” na República Democrática do Congo (RDCongo), mas também no Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda, que até agora não tinham reportado casos da doença.
O CDC África disse que o Mpox foi detetado em 13 países este ano, e que mais de 96 por cento dos casos e mortes são no Congo.
O número de casos subiu 160 por cento e o de mortes 19 por cento comparado com o mesmo período do ano passado. Até ao momento foram registados mais de 14 mil casos e 524 pessoas morreram.
“Estamos agora numa situação em que o Mpox representa um risco para muito mais vizinhos na África Central e à sua volta”, disse Salim Abdool Karim, um especialista em doenças infeciosas sul-africano que preside ao grupo de emergência do CDC África.Durante o surto global de mpox em 2022 que atingiu mais de 70 países morreram menos de 1% das pessoas infetadas.
Para o especialista, a nova variante do vírus vinda do Congo aparenta ter uma taxa de mortalidade de cerca de 3% a 4%.
Segundo o CDC África, quase 70 por cento dos casos no Congo são crianças menores de 15 anos, que também representam 85 por cento das mortes. A epidemia de Mpox matou 548 pessoas na República Democrática do Congo (RDC) desde o início do ano e afeta agora todas as províncias.
A Mpox foi descoberta pela primeira vez em humanos em 1970, no que é hoje a RDC (antigo Zaire), com a disseminação de um subtipo sobretudo limitada desde então aos países da África Ocidental e Central. O diretor-geral da OMS frisou que as autoridades enfrentam surtos de Mpox em vários países com “diferentes modos de transmissão e diferentes níveis de risco”.
A agência das Nações Unidas acrescentou que o vírus monkeypox foi recentemente identificado pela primeira vez em quatro países do leste africano: Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda. Todos esses surtos têm ligação a um no Congo.
Na Costa do Marfim e na África do Sul as autoridades de saúde reportaram surtos de uma estirpe diferente e menos perigosa do vírus, que se disseminou globalmente em 2022.
Já este ano, cientistas tinham reportado o surgimento de uma nova forma de uma estirpe mais letal de Mpox, que pode matar até 10% dos infetados, detetada numa cidade mineira do Congo, receando que se pudesse espalhar mais facilmente.
O Mpox transmite-se sobretudo pelo contacto próximo com pessoas infetadas, incluindo por via sexual. Ao contrário de surtos anteriores, em que as lesões eram visíveis sobretudo no peito, mãos e pés, a nova estirpe causa sintomas moderados e lesões nos genitais, tornando-o mais difícil de identificar, o que significa que as pessoas podem infetar terceiros sem saber que estão infetadas.
Esta nova estirpe, denominada “clade 1b", foi detetada na República Democrática do Congo em setembro de 2023 e mais tarde foram reportados casos em vários países vizinhos.
Em 2022 a OMS declarou o Mpox como emergência global depois de se ter espalhado para mais de 70 países que não tinham qualquer historial de contacto com o vírus até então, tendo afetado sobretudo homens gays e bissexuais. Antes disso, a doença foi sobretudo detetada em surtos ocasionais na África central e ocidental quando as pessoas entravam em contacto com animais selvagens infetados.
Os países ocidentais contiveram o surto e a disseminação do vírus com a ajuda de vacinas e tratamento aos quais África praticamente não tem acesso.
A OMS está a pedir aos fabricantes de vacinas que apresentem dados que garantam que as vacinas são seguras, eficazes, de qualidade assegurada e adequadas para as populações-alvo.
As autoridades congolesas solicitaram quatro milhões de vacinas contra o Mpox, para inocular sobretudo crianças e jovens até aos 18 anos e os Estados Unidos e o Japão posicionaram-se para serem os fornecedores dessas vacinas à RDCongo.
c/agências