O líder da Fraternidade Pio X, fundada por monsenhor Lefèbvre, revelou hoje em Fátima que vai ser recebido na próxima semana por Bento XVI, numa primeira aproximação com que o grupo ultra-conservador espera abrir caminho a reabilitação papal.
No início de um encontro que reúne dois mil fiéis deste movimento, que mantém ritos anteriores ao Concílio Vaticano II, D. Bernard Fellay explicou que existem contactos com o Vaticano no sentido de ultrapassar o diferendo entre a Fraternidade e a hierarquia católica.
"Tenho uma audiência com o Papa na próxima semana e já há algumas relações com Roma", explicou o bispo à Agência Lusa, mostrando- se confiante numa maior abertura de Bento XVI ao movimento.
"Esperamos que o actual Papa seja mais aberto ao conservadorismo", afirmou o prelado, embora reconhecendo que ainda existem problemas anteriores que impedem uma rápida reintegração na hierarquia.
"Não espero uma rápida resolução, mas tudo depende do Santo Padre", disse, considerando que o facto de Bento XVI vir de uma linha mais conservadora está a gerar expectativas em vários sectores da Igreja.
"Ainda é cedo demais para saber (se essa abertura vai existir), mas é essa a nossa expectativa e a expectativa de muitos católicos", disse.
Em Fátima, tem hoje início uma peregrinação do movimento integrista católico, que reúne cerca de dois mil fiéis (a maior parte alemães e franceses), mas a Fraternidade Pio X não poderá celebrar dentro do recinto do Santuário, ficando circunscrita a um terreno na cidade, onde será celebrada uma missa campal.
"Não nos é permitido celebrar. Pedimos ao Santuário e parece que haverá tolerância para as nossas orações, mas não para uma missa e isso foi também o que nos disse Roma", explicou o bispo.
De acordo com D. Bernard Fellay, esta peregrinação está subordinada ao tema da "expiação dos pecados", um "conceito essencial" da mensagem de Fátima que deve ser revalorizada pelos católicos de todo o mundo.
Mais duros nas palavras são alguns religiosos deste movimento, que criticam a abertura da Igreja ao ecumenismo e ao diálogo inter- religioso, defendendo um regresso aos valores tradicionais.
Para o seminarista alemão Marian Kowalski, "os católicos têm de regressar ao básico, porque a fé não se muda por causa dos homens".
"Roma tem de regressar ao tradicional para limpar os seus pecados, que levam à perda de vocações e de fiéis", considerou o seminarista, criticando várias correntes da Igreja Católica como os movimentos Teologia da Libertação, o Modernismo ou o Ecumenismo.
"Nós não somos fundamentalistas, mas não podemos dialogar com quem não acredita no mesmo Deus", disse, mostrando-se esperançado numa maior abertura de Bento XVI, que enquanto Cardeal Joseph Ratzinger acompanhou o início da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, fundada por Marcel Lefèbvre.
Este movimento opôs-se ao Concílio Vaticano II e às novas regras da missa, instituídas por Paulo VI, e sagrou, sem licença do Papa, quatro Bispos.
Excomungado por João Paulo II, Marcel Lefèbvre veio a morrer sem pacificar as relações com a Igreja Católica, sucedendo-lhe D.
Bernard Fellay.
A partir do ano 2000, foram realizados alguns contactos entre o movimento e a hierarquia, que autorizou os seguidores de Lefèbvre a fazerem uma peregrinação a Roma, sem, porém, poderem rezar a missa tradicional nas igrejas.
Maria da Conceição, uma das poucas fiéis portuguesas do movimento, espera também muito de Bento XVI, considerando-o um sinal do "regresso à fé de Cristo" num momento em que a Igreja "caiu nas mãos dos apetites dos homens".
Exemplo disso é o facto de o Santuário de Fátima promover abertura a outras religiões e estar a construir uma igreja com traços orientais.
Posição semelhante tem Alberto Oliveira, que considera o novo templo "uma praça de touros" para fiéis de todas as religiões, construído "para a glória dos homens e não para a glória de Deus".
"O ecumenismo não é nada: Jesus Cristo disse que só por Ele há caminho para a salvação e não é por outras religiões que ela existe", considerou.