"Movidas como peões". Guerra deslocou 90% das pessoas na Faixa de Gaza

por Joana Raposo Santos - RTP
No total, serão cerca de 1,9 milhões as pessoas deslocadas em Gaza em quase nove meses de guerra. Foto: Mohammed Salem - Reuters

Desde 7 de outubro do ano passado, dia em que se reacendeu a guerra entre Israel e o Hamas, cerca de 90 por cento da população da Faixa de Gaza foi deslocada, alerta a agência humanitária das Nações Unidas. A informação surge numa altura em que o primeiro-ministro israelita poderá estar a ponderar uma proposta de cessar-fogo do Hamas.

“Estimamos que nove em cada dez pessoas na Faixa de Gaza tenha sido deslocada internamente pelo menos uma vez, mas às vezes até dez vezes, infelizmente, desde outubro”, disse quarta-feira aos jornalistas Andrea de Domenico, chefe do Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.
No total, serão cerca de 1,9 milhões as pessoas deslocadas em Gaza em quase nove meses de guerra.
“Antes estimámos que fossem 1,7 milhões, mas desde então tivemos a operação em Rafah, o que levou a deslocações adicionais”, explicou Domenico. “Além disso, tivemos operações no norte que também levaram à retirada de pessoas”.

O responsável da ONU alertou que estas sucessivas operações militares forçaram a população a recomeçar a sua vida uma e outra vez. “Por trás destes números, há pessoas com medos e perdas. Provavelmente tinham sonhos e esperanças. Hoje em dia, infelizmente, temo que tenham cada vez menos”, lamentou.

Para Domenico, “nos últimos nove meses as pessoas têm sido movidas como peões num tabuleiro de xadrez”.

A ONU avisou ainda que a Faixa de Gaza foi cortada em duas partes pelo exército israelita e que entre 300 mil a 350 mil pessoas a viver a norte do território estão impedidas de se deslocar para sul.

Desde o início da guerra, apenas cerca de 110 mil pessoas conseguiram deixar a Faixa de Gaza e atravessar a passagem de Rafah até ao Egito, antes de esta ser fechada no início de maio. Segundo as Nações Unidas, parte dessas pessoas permanecem até agora no Egito, enquanto outras se deslocaram para outros países.
Netanyahu pesa propostas do Hamas
Entretanto, esta quinta-feira o primeiro-ministro israelita deverá convocar uma reunião com o seu gabinete de segurança para discutir propostas do Hamas sobre um possível acordo de cessar-fogo em Gaza, revelou à agência Reuters uma fonte do gabinete de Benjamin Netanyahu.

Segundo a mesma fonte, antes da reunião o líder israelita vai encontrar-se com a sua equipa de negociações de cessar-fogo.

A guerra entre Telavive e o Hamas foi reacendida a 7 de outubro, quando o grupo islâmico atacou o sul de Israel e matou quase duas mil pessoas, essencialmente civis. Além disso, o Hamas fez 251 reféns, 116 dos quais continuam em Gaza. Outros 42 terão morrido.

A resposta israelita já matou, por sua vez, quase 38 mil palestinianos, a maioria dos quais também civis, segundo o Ministério da Saúde da região ocupada.

c/ agências
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