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Mossack Fonseca ajudou empresas de regimes sob sanções

por Inês Geraldo - RTP
Bobby Yip - Reuters

A Mossack Fonseca, firma-chave dos Panama Papers, ajudou à criação de milhares de empresas sediadas em paraísos fiscais. Muitas tinham ligações à Coreia do Norte, ao regime sírio e a outros negócios debaixo de sanções internacionais.

Foram pelo menos 33 os indivíduos ou empresas assessorados pela firma de advogados Mossack Fonseca que estavam sujeitos a sanções internacionais. Muitas das entidades tinham quartéis-generais em países como o Irão, Zimbabué ou Coreia do Norte.Os Panama Papers envolvem mais de duas centenas de empresas portuguesas.


Um dos casos agora revelados - pelo jornal britânico The Guardian e pela BBC - prende-se com a ligação de um banqueiro do Reino Unido ao programa nuclear norte-coreano.

Nigel Cowie criou em 2006 a empresa DCB Finance, com a colaboração de Kim Chol Sam. A empresa tinha sede em Pyongyang e foi colocada, pouco tempo depois, numa lista negra de sanções, por angariar fundos para o regime norte-coreano, desde logo para o seu programa nuclear.

Além da DCB Finance, Nigel Cowie era também diretor da Daedong Credit Bank, uma empresa igualmente sob sanções internacionais.

A Mossack Fonseca parece ter ignorado o facto de estas empresas terem sede na capital norte-coreana e apenas em 2010 foi questionada pela origem dos consórcios, após contactos das autoridades das Ilhas Virgens Britânicas.

Nessa mesma altura, a Mossack Fonseca desistiu de agenciar a DCB Finance de Nigel Cowie e Kim Chol Sam. Ambos vieram a público revelar que nenhuma das empresas criadas teve como objetivo de desviar fundos ou financiar negócios ilícitos.

Três anos depois, as mesmas autoridades voltaram a questionar os estudos levados a cabo para criar a apoiar a empresa sediada em Pyongyang. Em resposta, a firma do Panamá revelou que não sabe por que razão manteve laços com a DCB Finance.

Um primo de Assad
O regime sírio também está envolvido nos Panama Papers. Através de Rami Makhlouf, primo de Bashar al-Assad, cuja fortuna está avaliada em cinco mil milhões de dólares.

Em 2008 foram impostas sanções a Makhlouf, acusado de ser parte integrante do regime de Damasco, um manipulador do sistema judicial sírio e de usar os serviços secretos da Síria para intimidar rivais.



Mesmo depois da imposição de sanções, a Mossack Fonseca continuou a trabalhar com Makhlouf em seis frentes de negócios, especialmente numa empresa chamada Drex Technologies.

Uma das novas informações reveladas pelos documentos do Panamá é que os suíços da HSBC também fizeram negócios com o primo do líder sírio.

Dois anos depois de ser colocada numa lista negra, a HSBC explicou à Mossack Fonseca que a Drex Technologies era uma empresa séria. Um e-mail da firma do Panamá sugere também que o banco suíço estava consciente de quem era Rami Makhlouf e dos respetivos negócios.

Em 2011, a Mossack Fonseca cortou relações com Rami Makhlouf.O petróleo
Uma outra entidade que levantou suspeitas na revelação dos Panama Papers foi a Pangates International Corporation Limited.

A comunidade internacional acreditava que aquela empresa fornecia gasolina para aviões durante a guerra civil síria.

A ligação com a Mossack Fonseca começou em 1999 e só no ano passado cortou laços com a Pangates International Corporation, depois de perceber que a mesma estava incluída numa lista negra.
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