Moscovo e Washington discutem em Riade cenário de cessar-fogo na Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

A Rússia e os Estados Unidos iniciaram esta segunda-feira conversações na Arábia Saudita para discutir uma possível trégua na Ucrânia, alvo da ofensiva russa há três anos. O Kremlin descreveu, desde o início, estas negociações como "difíceis".

Segundo a agência TASS, a delegação russa é composta pelo senador e antigo diplomata Grigori Karassin e Sergei Besseda, um alto funcionário do FSB (serviços de informações russos).

A TASS, que cita fonte diplomática, adianta que os negociadores russos estão reunidos com a delegação norte-americana num hotel de Riade.As negociações ocorrem no momento em que Donald Trump intensifica o esforço para encerrar o conflito de três anos e depois de ter falado, na passada semana, com os presidentes ucraniano, Volodymyr Zelensky, e russo, Vladimir Putin.

O enviado de Donald Trump, Steve Witkoff, mostrou-se, otimista, dizendo esperar “progressos reais”, “particularmente no que diz respeito a um cessar-fogo no Mar Negro sobre os navios entre os dois países”.

“E, a partir daí, avançaremos naturalmente para um cessar-fogo total”, acrescentou o enviado americano.

Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, declarou que “o principal” tema de discussão com os americanos seria “a retoma” da aplicação do acordo sobre os cereais do Mar Negro, omitindo qualquer eventual compromisso de suspensão dos combates, limitado ou incondicional.

Para além de um cessar-fogo no Mar Negro, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Mike Waltz, revelou na CBS, que as equipas irão discutir “a linha de controlo” entre os dois países, que descreveu como “medidas de verificação, manutenção da paz, congelamento das linhas onde estão”.
Discussões com ucranianos foram “produtivas”
As conversações entre os enviados russos e americanos tiveram início esta manhã, no hotel Ritz-Carlton, em Riade, após discussões entre ucranianos e americanos que se prolongaram pela noite dentro. O ministro ucraniano da Defesa, Rustem Umerov, descreveu a reunião de domingo como produtiva.

Numa mensagem difundida pelas redes sociais, o chefe da delegação ucraniana, realçou ainda que o objetivo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é garantir uma paz justa e duradoura para a Ucrânia.

As conversações foram produtivas e concentradas. Discutimos pontos-chave, em particular a proteção de instalações de energia e infraestruturas críticas”, referiu Roustem Oumerov, acrescentando que a Ucrânia se esforça por alcançar o seu objetivo de uma “paz justa e duradoura”.

Em cima da mesa, segundo Oumerov estiveram também “medidas de construção de confiança”, incluindo o regresso de crianças ucranianas levadas pela Rússia.

O presidente dos Estados Unidos cuja aproximação a Vladimir Putin veio baralhar as cartas do conflito, afirma querer pôr fim às hostilidades e enviou os seus enviados a Riade para conversações com ambas as partes.Trump tem-se mostrado muito crítico em relação à Ucrânia, e em fevereiro na Casa Branca, houve uma altercação com Volodymyr Zelensky.

Washington e Kiev estão a pressionar no sentido de, pelo menos, suspender temporariamente os ataques às instalações de energia, que foram fortemente danificadas do lado ucraniano.

A Ucrânia diz que está “pronta” para um cessar-fogo “geral” e incondicional.

No entanto, Vladimir Putin, cujo exército está a avançar no terreno apesar das pesadas perdas, parece estar a jogar com o tempo até que os seus homens expulsem as tropas ucranianas da região fronteiriça russa de Kursk.

Nesta fase, o Kremlin insiste que apenas acordou com Washington uma moratória sobre o bombardeamento de infraestruturas energéticas.

Os europeus, por seu lado, são marginalizados nestas discussões, apesar da vontade manifestada pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer e pelo presidente francês Emmanuel Macron de fazer ouvir a voz do Velho Continente.

Está prevista uma cimeira para quinta-feira, em Paris, com a presença de Volodymyr Zelensky e dos aliados de Kiev.Ataques mútuos prosseguem
Apesar da aceleração dos esforços para aproximar as partes beligerantes sobre as formas de alcançar um cessar-fogo na guerra desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, os combates continuam com ataques mortais na Ucrânia e na Rússia.

Na última noite, a Rússia lançou o seu terceiro ataque aéreo consecutivo contra Kiev, ferindo uma pessoa e danificando várias casas na região que circunda a capital ucraniana, revelou o governador regional de Kiev na segunda-feira.

Também esta segunda-feira, os sistemas online da empresa ferroviária estatal da Ucrânia, Ukrzaliznytsia, foram alvo de um ataque cibernético em grande escala. 
A Força Aérea da Ucrânia revelou que abateu 57 de 99 drones lançados pela Rússia durante a noite.

No final do domingo, na região sudeste de Zaporizhia, o ataque da Rússia feriu uma mulher de 54 anos e danificou janelas de edifícios residenciais e de vários andares, disse a administração da região no Telegram.

Kiev, a região circundante e a metade oriental da Ucrânia estiveram sob alertas de ataques aéreos várias horas a partir da noite de domingo, de acordo com mapas da força aérea da Ucrânia.

No mesmo dia, o exército ucraniano anunciou que tinha retomado a pequena aldeia de Nadia, na região oriental de Lugansk, um êxito raro para os militares ucranianos nesta zona quase totalmente controlada pela Rússia.

Por outro lado, as forças russas afirmaram ter tomado a cidade de Sribne, também no leste da Ucrânia.

Numa altura em que os bombeiros combatem, pelo quinto dia consecutivo, um incêndio num depósito de petróleo na região russa de Krasnodar, desencadeado na semana passada por um ataque de drones ucranianos, segundo Moscovo.
O depósito é um terminal ferroviário para o abastecimento de petróleo russo destinado a um oleoduto para o Cazaquistão.
“Um dos tanques e produtos petrolíferos dentro da instalação estão a arder”, disse a administração numa publicação na rede social Telegram.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse que o ataque constituiu uma violação de um acordo para interromper os ataques às infraestruturas energéticas no âmbito dos esforços para garantir um cessar-fogo na guerra na Ucrânia.

c/ agências
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