Mais de duas semanas depois do atentado terrorista em Moscovo que fez 145 mortos e mais de meio milhar de feridos, os sobressaltos tornaram-se frequentes na capital e outras cidades russas.
Na sequência do massacre terrorista de 22 de março na sala de espetáculos Crocus City Hall, reivindicado pelo Estado Islâmico e realizado por cidadãos tajiques, as ameaças de bomba ou de fogo posto, em estabelecimentos comerciais ou espaços públicos, têm-se multiplicado na capital, conforme testemunhado pela Lusa.
O centro comercial Fort Otradnoe, na região norte de Moscovo, foi evacuado na manhã da passada sexta-feira. Sem pânico, os clientes encaminharam-se para as escadas rolantes e dirigiram-se para uma das portas de saída. Os comerciantes desceram os estores dos estabelecimentos e acompanharam, sem sinal de nervosismo, os que procuravam o ar livre.
Num episódio já de alguma normalidade, a maior parte das pessoas ficou-se pelas imediações, conversando em grupos. Alguns minutos mais tarde, a aparelhagem sonora voltou a ouvir-se para anunciar que o acesso ao interior estava desimpedido, e que "o alarme de incêndio" se verificara falso.
A Lusa abordou no local Olga Kuzmina, do corpo de segurança do espaço, que relatou que "talvez tivesse havido um mal entendido", evitando revelar mais informações sobre o sucedido.
No dia anterior, funcionários e clientes do centro comercial e de diversão "Altufievski", a nordeste de Moscovo, tiveram também que abandonar as instalações devido a uma ameaça de bomba.
Uma mensagem anónima avisara de uma explosão a gerência daquele espaço. "Por razões de segurança, as instalações tiveram que ser evacuadas", declarou um dos responsáveis do centro, acrescentando que cerca de 300 pessoas haviam abandonado o edifício e saído para a rua.
Entretanto, a mensagem revelar-se-ia falsa: "concluímos a verificação e nenhuma bomba ou objeto suspeito foi encontrado", esclareceram os serviços operacionais.
Há uma semana, no interior da estação do metro Arbatskaia, no coração de Moscovo, a Lusa testemunhou um grupo de polícias guardando, à distância, uma mochila de criança abandonada, cercada por fitas de proteção, enquanto os passageiros passavam. Cenas do novo quotidiano da capital russa, depois de 22 de março.
A opinião corrente é de que episódios como o do "Fort Otradnoe" terão como objetivo atemorizar a população, desestabilizar a sociedade, tendo por pano de fundo o atentado do Crocus City Hall, parte de uma guerra psicológica movida por indivíduos isolados ou por grupos organizados.
Em São Petersburgo, registaram-se 11 alarmes de bomba falsos, que teriam sido colocadas para explodir em escolas e complexos comerciais.
No dia 26 de março, o diretor do centro comercial "Tolstoy Square" recebeu uma mensagem alertando-o para uma bomba que iria rebentar nas instalações. Chamou imediatamente a polícia e o edifício foi passado a pente fino, mas nada de suspeito foi encontrado.
Outros centros comerciais da mesma cidade, como o "Mega Parnas", "City Mall", "Rainbow", "Galerias", "Leto", "Balkansky" e "Kubatura" viveram as mesmas perturbações. Todavia, nem chegaram a ser evacuados. As escolas nº 231 e 165, bem como o departamento de polícia de Sestroretsk, também passaram pelo mesmo.
Se em relação ao Crocus as autoridades russas têm insistido na "pista" ucraniana, alegando envolvimento de Kiev e até dos seus parceiros ocidentais no atentado, perante a sucessão de ameaças incessantes sobre espaços públicos apontam o dedo a jovens. E ameaçam puni-los a si e às suas famílias.
Segundo a Polícia, os relatos deliberadamente falsos de atos terroristas representam um "perigo público acrescido", que paralisam as atividades normais das instituições e desviam das sua funções os serviços responsáveis pela aplicação da lei, bem como bombeiros, especialistas em minas e armadilhas, médicos e ambulâncias.
Sobre as denúncias falsas serem cometidas, sobretudo, por estudantes ou por adolescentes ociosos, as autoridades policiais reconhecem que, "sem qualquer controle dos adultos, os menores envolvem-se em ilegalidades sem pensar nas consequências".
De acordo com a legislação vigente, os pais de adolescentes menores de 14 anos que cometam infrações deste género estão sujeitos a multas e medidas administrativas. Além disso, serão informadas as instituições onde os pais trabalham e onde os adolescentes estudam, bem como os serviços de recrutamento militar e a administração distrital.