Moscovo e Minsk formalizam instalação de ogivas táticas nucleares na Bielorrússia
O Presidente russo já tinha anunciado a medida a 25 de março, durante uma entrevista à televisão estatal russa. Agora o acordo foi formalizado com o aliado bielorrusso. Mísseis táticos nucleares russos vão ser estacionados em território da Bielorrússia, como "contramedida" face ao conflito na Ucrânia.
O arsenal especial onde as ogivas nucleares vão ser armazenadas deverá estar concluído a 1 de julho. Após a assinatura do acordo, o Presidente bielorrusso, Alexander Lukachenko, anunciou que a transferência das armas já começou.
Não foi ainda digulgado o número de ogivas a colocar na Bielorrússia.
Esta é a primeira vez desde a queda da União Soviética, em 1991, que Moscovo, que detém o maior arsenal nuclear tático do mundo, coloca estas armas em território aliado. O controlo das ogivas irá manter-se em mãos russas, cumprindo tratados internacionais.
"No contexto de uma escalada extremamente acentuada de ameaças nas fronteiras ocidentais da Rússia e da Bielorrússia, foi tomada a decisão de tomar contramedidas na esfera militar-nuclear", anunciou a agência oficial de notícias russa TASS, citando o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu.
"O coletivo ocidental está essencialmente a travar uma guerra não declarada contra os nossos países" afirmou Shoigu, ao reunir-se com o seu homólogo bielorrusso, Victor Khrenin, em Minsk.
O ocidente, acrescentou, está a fazer tudo o que pode para "prolongar e escalar o conflito armado na Ucrânia".
Quase tudo prontoO acordo assinado esta quinta-feira pelos responsáveis pela área da Defesa dos dois países abrange o processo de armazenamento das armas táticas nucleares em instalações especialmente construídas para as receber.
Shoigu adiantou os mísseis Iskander-M, capazes de suportar tanto ogivas convencionais como nucleares, já foram entregues às forças armadas bielorrussas. Alguns aviões caça Su-25 foram também convertidos para poderem transportar armas nucleares, revelou.
"Os soldados bielorrussos receberam o treino adequado na Rússia", garantiu o ministro russo, citado pelo seu ministério da Defesa. Os dois países contam ainda tomar medidas acrescidas para garantir a sua segurança.
"As atividades militares da NATO tornaram-se tão agressivas quanto possível", afirmou Shoigu.
Diversos dirigentes russos, incluindo Vladimir Putin, acenaram nos últimos 12 meses com a ameaça nuclear caso a Rússia veja a necessidade de defender a sua "integridade territorial". Palavras que podem referir-se aos territórios ucranianos que Moscovo reclama para si.
Putin tem afirmado que a Rússia irá recorrer a todos os meios para se defender e tem descrito a guerra na Ucrânia como uma batalha pela sobreviência da Rússia contra a agressão ocidental.
O ocidente nega estas alegadas pretensões de destruição da Rússia e que a guerra na Ucrânia esteja ligada aos planos de Kiev para aderir à NATO, como afirma o Kremlin.
A Bielorrússia faz fronteira com três países NATO, Polónia, Lituânia e Letónia. Se Kiev levar a sua avante irá tornar-se o quarto membro da Aliança Atlântica vizinho de Minsk.
Bielorrússia "refém nuclear"
A Ucrânia acusa a Rússia de fazer da Bielorrússia sua "refém" ao colocar as armas nucleares no país vizinho.
Em março, o líder do Conselho Ucraniano para a Defesa e Segurança, Oleksy Danilov, descreveu o acordo anunciado por Putin como "um passo para a desestabilização interna" da Bielorrússia.
Defendeu ainda que amplia a "perceção negativa e rejeição pública" da Rússia e de Putin, na sociedade russa. "O Kremlin tomou a Bielorrússia como refém nuclear", escreveu na rede Twitter.
Outros analistas consideram que o estacionamento destas armas em solo bielorrusso não passa de mais uma tática de propaganda russa, para lembrar ao ocidente o tamanho do arsenal nuclear ao serviço do Kremlin.
Richard Weitz, analista em Washington, afirmou à televisão do Catar, Al Jazeera, que a Rússia não deverá beneficiar deste plano "no plano puramente militar".
"A Rússia já detém milhares de armas nucleares, algumas delas colocadas já no solo ou em aviões perto das localizações prováveis construídas especialmente na Bielorrússia. Por isso, apenas agrega mais umas localizações às que já tem".
"É um alerta político", afirmou, quanto ao risco de guerra nuclear se os países NATO derem a Kiev sistemas Patriot ou caças F-16. "É uma forma de lembrar que a Rússia é uma grande potência nuclear e que o Ocidente deve ter cautela ou arrisca tropeçar numa guerra nuclear" afirmou Weitz.
Crise mais grave desde 1962Defendeu ainda que amplia a "perceção negativa e rejeição pública" da Rússia e de Putin, na sociedade russa. "O Kremlin tomou a Bielorrússia como refém nuclear", escreveu na rede Twitter.
Outros analistas consideram que o estacionamento destas armas em solo bielorrusso não passa de mais uma tática de propaganda russa, para lembrar ao ocidente o tamanho do arsenal nuclear ao serviço do Kremlin.
Richard Weitz, analista em Washington, afirmou à televisão do Catar, Al Jazeera, que a Rússia não deverá beneficiar deste plano "no plano puramente militar".
"A Rússia já detém milhares de armas nucleares, algumas delas colocadas já no solo ou em aviões perto das localizações prováveis construídas especialmente na Bielorrússia. Por isso, apenas agrega mais umas localizações às que já tem".
"É um alerta político", afirmou, quanto ao risco de guerra nuclear se os países NATO derem a Kiev sistemas Patriot ou caças F-16. "É uma forma de lembrar que a Rússia é uma grande potência nuclear e que o Ocidente deve ter cautela ou arrisca tropeçar numa guerra nuclear" afirmou Weitz.
As armas táticas nucleares são usadas para fins específicos de ganhos no campo de batalha e são habitualmente de menor calibre do que as armas nucleares estratégicas concebidas para destruir grandes urbes ou áreas metropolitanas.
A Rússia terá cerca de 2.000 ogivas táticas nucleares, um número muito superior ao possuído pelos EUA e pela NATO.
Washington detém cerca de 200 destas armas, metade das quais, as bombas B61 com capacidade variável entre 0.3 a 170 quilotoneladas, colocadas em bases europeias, na Alemanha, na Turquia, na Bélgica e nos Países Baixos.
Os Estados Unidos têm afirmado que o mundo enfrenta a sua crise nuclear mais grave desde a dos Mísseis de Cuba em 1962, devido ao discurso adotado pelo Kremlin.
O Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares assinado pela União Soviética, atesta que nenhuma potência nuclear pode transferir armas ou tecnologia nuclear para uma potência não atómica. Permite contudo que elas sejam estacionadas em territórios de países terceiros desde que o país de origem não ceda o seu controlo.
com agências
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