Morte de trabalhadores humanitários. Israel resolve a questão despedindo oficiais responsáveis pelo ataque
As narrativas oficiais de Israel continuam a dar uma imagem negativa do IDFD (Israel Defense Force – Forças de Defesa de Israel na sigla original), seja por incompetência, seja por manifesta crueldade. Depois de ter atribuído a morte de sete trabalhadores humanitários a um erro, esta sexta-feira Telavive anunciou que foram despedidos os dois oficiais responsáveis por autorizar o ataque. Não foi anunciado qualquer processo civil ou militar, apenas o fim de uma relação de trabalho após o ataque mortal dirigido contra os funcionários da organização humanitária World Central Kitchen (WCK).
Com os balanços do Ministério palestiniano da Saúde a apontar para quase 33.000 palestinianos mortos e mais de 75.000 feridos pelos ataques de Israel, foi necessário que morressem sete trabalhadores humanitários da organização não-governamental WCK para que os parceiros de Israel começassem a exigir rigor na forma como o exército israelita acautela os direitos dos civis nesta invasão brutal ao território palestiniano.
A explicação poderá estar nas nacionalidades dos trabalhadores humanitários da WCK: um polaco, um canadiano-norte-americano, uma australiana e três ingleses, além de um palestiniano.
A WCK chamou de heróis aos sete funcionários da ONG: Saifeddine Issam Ayad Aboutaha, 25 anos, palestiniano; Lalzawmi (Zomi) Frankcom, 43 anos, australiana; Damian Sobol, 35 anos, polaco, Jacob Flickinger, 33 anos, americano-canadiano; e John Chapman, 57 anos, James (Jim) Henderson, 33 anos e James Kirby, 47 anos, britânicos.Morreram até ao momento na guerra de Israel contra o Hamas, como lembrou esta semana o secretário-geral das Nações Unidas, “196 trabalhadores humanitários, sendo 175 funcionários das Nações Unidas”. Eram contudo palestinianos que trabalhavam para organizações internacionais, pelo que a morte de quase 200 destes elementos da ajuda humanitária não foi suficiente para “indignar” os parceiros de Israel até esta última segunda-feira, quando foi atingida a comitiva da WCK, como é agora o caso dos Estados Unidos.
A WCK chamou de heróis aos sete funcionários da ONG: Saifeddine Issam Ayad Aboutaha, 25 anos, palestiniano; Lalzawmi (Zomi) Frankcom, 43 anos, australiana; Damian Sobol, 35 anos, polaco, Jacob Flickinger, 33 anos, americano-canadiano; e John Chapman, 57 anos, James (Jim) Henderson, 33 anos e James Kirby, 47 anos, britânicos.Morreram até ao momento na guerra de Israel contra o Hamas, como lembrou esta semana o secretário-geral das Nações Unidas, “196 trabalhadores humanitários, sendo 175 funcionários das Nações Unidas”. Eram contudo palestinianos que trabalhavam para organizações internacionais, pelo que a morte de quase 200 destes elementos da ajuda humanitária não foi suficiente para “indignar” os parceiros de Israel até esta última segunda-feira, quando foi atingida a comitiva da WCK, como é agora o caso dos Estados Unidos.
“Ficámos indignados ao tomar conhecimento do ataque das IDF que matou vários trabalhadores humanitários da World Central Kitchen”, declarou John Kirby, o porta-voz da Casa Branca.
Mais a braços com um problema de imagem e propaganda do que de um problema do decurso da ofensiva, Israel procura agora desenvencilhar-se nesta questão com a demissão de dois oficiais que diz terem sido os responsáveis por dar luz verde aos três ataques sucessivos contra as viaturas da organização humanitária WCK.
Trata-se de um procedimento que consta da cartilha israelita para situações desta natureza. Quando em maio de 2022 a jornalista Shireen Abu Akleh, de dupla nacionalidade palestiniana e norte-americana, foi assassinada com um tiro na cabeça por um sniper do exército israelita durante uma reportagem no campo de refugiados de Jenin, levou vários meses até que Telavive assumisse a responsabilidade pela morte da jornalista da Al Jazeera. O militar que premiu o gatilho ainda não foi julgado.
Neste caso, o guião repete-se. Após informar que os oficiais acreditaram estar a visar elementos do Hamas nas viaturas quando deram a ordem do ataque contra a coluna de viaturas da WCK, apesar de esta estar identificada com os logos da ONG, o IDF disse esta sexta-feira que demitiu um coronel e um major responsáveis pela ordem de fogo.
Acrescenta o exército que os dois oficiais fizeram uma leitura incorrecta das informações que lhes chegaram, violando as regras do IDF para accionar ataques. Uma investigação interna “descobriu que as forças [de Israel] identificaram um atirador num dos veículos de ajuda” que levou à descoberta de outro.
“É uma ação grave pela qual somos responsáveis, e não deveria ter acontecido, e vamos garantir que não aconteça novamente”, disse o porta-voz militar israelita Daniel Hagari.
“É uma ação grave pela qual somos responsáveis, e não deveria ter acontecido, e vamos garantir que não aconteça novamente”, disse o porta-voz militar israelita Daniel Hagari.
De acordo com o relato dos militares israelitas, depois de os veículos terem saído de um armazém onde a ajuda do WCK tinha sido descarregada, “um dos comandantes assumiu erradamente que os atiradores estavam dentro dos veículos que os acompanhavam e que se tratava de terroristas do Hamas”. O relatório classificou o ataque à coluna de veículos “um erro grave decorrente de uma falha grave devido a uma identificação errada, erros na tomada de decisões e um ataque contrário aos Procedimentos Operacionais Padrão”.
Israel fala em engano, mas o que aconteceu esta segunda-feira pode ser apenas consequência natural dos procedimentos da sua máquina de guerra, como é o caso da introdução de tecnologia de Inteligência Artificial na estratégia de combate com, por exemplo, o sistema Lavender, que, de acordo com oficiais que o utilizaram, é um programa que se afadiga em indicar alvos do Hamas e da Jihad Islâmica para abater.
O próprio fundador da WCK, José Andrés, declarava recentemente a uma televisão, após os dramáticos acontecimentos desta semana, que” os drones israelitas estavam constantemente [nos céus de Gaza] por cima de nós, por toda a parte, a toda a hora”, à espera dessas ordens de ataque.
Numa declaração emocionada, José Andrés acusou Israel de ter matado deliberadamente os trabalhadores da WCK, “que eram seus amigos” e com quem tinha estado em Gaza: “Israel tem o direito de se defender, mas isso não significa matar toda a gente à volta”.
A World Central Kitchen, que tem sede nos Estados Unidos, vê as “desculpas de Israel pelo assassínio ultrajante dos nossos colegas como um fraco conforto” e pede uma investigação independente sobre o ataque. “Israel deve tomar medidas concretas para garantir a segurança dos trabalhadores humanitários”, exigiu o CEO da WCK, Erin Gore, indicando que as operações da ONG em Gaza se mantêm assim suspensas.