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Morte de Mahsa Amini. Supenso chefe da "polícia da moralidade" do Irão

por Cristina Sambado . RTP
Abedin Taherkenareh - EPA

O chefe da "polícia da moralidade" do Irão foi alegadamente suspenso, numa altura em que os protestos após a morte de Mahsa Amini, uma mulher curda acusada de quebrar as regras do hijab, entraram no terceiro dia.

Vários jornais iranianos afirmam que o coronel Ahmed Mirzaei foi suspenso das suas funções após a morte da jovem de 22 anos na passada sexta-feira. A polícia de Teerão negou que o responsável tenha sido suspenso ou despedido.

Uma TAC realizada a Mahsa Amini revela uma fratura óssea, hemorragia e edema cerebral, confirmando aparentemente que a jovem morreu por ter sido atingida na cabeça.O pai de Mahsa Amini sempre negou que a filha sofresse de algum problema de saúde e acusa a polícia de encobrir a ocorrência.

A confirmação dos resultados da TAC pode representar um grande revés não só para a “polícia da moralidade”, mas também para a polícia de Teerão, uma vez que foram publicados vídeos editados sobre a sua detenção numa esquadra, destinados a revelar que a jovem de 22 anos morreu devido a um problema cardíaco ou epilepsia.

O presidente iraniano, que desde a sua eleição no ano passado apertou a lei sobre o uso do véu islâmico, falou com a família da jovem no passado domingo. “A sua filha é como a minha própria filha, e eu sinto que este incidente aconteceu a um dos meus entes queridos. Por favor, aceitem as minhas condolências”.

Ebrahim Raisi está em Nova Iorque para a Assembleia Geral da ONU, onde deve falar esta terça-feira sobre o futuro acordo nuclear com o Ocidente. Raisi espera que os protestos já tenham terminado quando falar em Nova Iorque.

Em conferência de imprensa, o comandante da polícia de Teerão, Hossein Rahimi, afirmou que Amini foi detida pela “polícia da moralidade”, conhecida como Gasht-e Ershad, quando caminhava num parque porque o seu hijab era “inapropriado”.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano Javad Zarif afirmou que estava envergonhado com o que aconteceu a Amini.
Segundo Hossein Rahimi, “não houve negligência por parte da polícia, nem sequer um pequeno deslize. Todas as acusações publicadas no ciberespaço sobre a causa da morte são pura mentira”.

“Não houve argumentos ou resistência durante a detenção de Amini. Ela até estava a brincar quando entrou na carrinha da polícia da moralidade”, acrescentou.

Reforçando as negações de qualquer ato ilícito por parte das autoridades policiais, Hossein Rahimi frisou que Amini não tinha sofrido qualquer dano físico e que a polícia “fez tudo” para a manter viva.
Este incidente foi lamentável para nós e desejamos nunca testemunhar tais incidentes”. Rahimi descreveu ainda as acusações de maus-tratos como “cobardes”.
Terceiro dia de protestos

Na última noite, os distúrbios na cidade curda de Saqez, terra-natal de Mahsa Amini, provocaram vários mortos.

O grupo de direitos curdos Hengaw afirmou na rede social Twitter que cinco pessoas morreram na segunda-feira, quando as forças de segurança abriram fogo contra os manifestantes. O grupo acrescenta que duas pessoas foram mortas em Saqez, duas em Divandarreh e uma em Dehgolan.


Nos meios de comunicação social online, havia várias imagens de motas da polícia em chamas. Grandes multidões reuniram-se para exigir um relaxamento das regras do hijab.

Na noite de segunda-feira, na capital do país, várias centenas de pessoas marcharam numa rua central, incluindo mulheres que tiraram os seu hijabs. A polícia respondeu com bastonadas e lançamento de gás lacrimogéneo.


Não houve confirmação oficial das mortes. No entanto, os relatórios não puderam ser imediatamente verificados de forma independente.

Muitas mulheres juntaram-se aos protestos, recusando-se a usar o hijab.A televisão estatal revelou que vários manifestantes tinham sido presos, mas rejeitou "algumas alegações de mortes nas redes sociais".

Os manifestantes atiraram pedras às forças de segurança na cidade de Divandarreh, no Curdistão.

Estudantes reuniram-se, inclusive nas universidades da capital Teerão e Shahid Beheshti, exigindo "esclarecimento" sobre a morte de Mahsa Amini, e um canhão de água foi visto nas ruas numa tentativa de reprimir os protestos.
As reações internacionais
Os EUA apelaram à responsabilização no caso. "A morte de Mahsa Amini após ferimentos sofridos enquanto estava sob custódia policial por usar um hijab impróprio é uma afronta terrível e flagrante aos Direitos Humanos", afirmou um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

"As mulheres no Irão devem ter o direito de usar o que quiserem, livres de violência ou assédio. O Irão deve pôr fim ao seu uso de violência contra as mulheres por exercerem as suas liberdades fundamentais", afirmou o funcionário. "Tem de haver responsabilidade pela morte de Mahsa".

Um porta-voz dos Negócios Estrangeiros da União Europeia afirmou: "É imperativo que as autoridades iranianas garantam que os direitos fundamentais dos seus cidadãos sejam respeitados e que aqueles que se encontram sob qualquer forma de detenção não sejam sujeitos a qualquer forma de maus-tratos".
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