Morte de Mahsa Amini. Governo do Irão determinado a silenciar jornalistas

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Jornalistas iranianos pagam um preço elevado por investigarem a morte de Mahsa Amini. Luis Cortes - Reuters

Os jornalistas iranianos, especialmente as jovens, que revelaram e investigaram o caso de Mahsa Amini, cuja morte há quase um ano inflamou o Irão, estão a ser vítimas de uma "repressão aterradora", denunciou a Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

A jovem curda iraniana, Mahsa Amini, morreu há quase um ano, no dia 16 de setembro, depois de ter sido detida pela polícia da moralidade por não ter respeitado as rigorosas regras islâmicas de vestuário.

A morte controversa de Amini, de 22 anos, originou fortes manifestações por todo o mundo e sobretudo no Irão, onde acabaram depois de uma forte repressão estatal, que causou pelo menos a morte 500 pessoas e detenção de dezenas de jornalistas.


Desde então que os jornalistas têm sido sistematicamente perseguidos pelas autoridades iranianas, em especial as mulheres, um alvo particularmente visado dessa repressão. Apenas no último ano, foram detidos 79 jornalistas no Irão, dos quais doze continuam atrás das grades, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Mulheres jornalistas, alvo de repressãoNiloufar Hamedi, uma jornalista de 29 anos do diário Shargh, foi detida menos de uma semana após a morte de Mahsa Amini. A causa foi ao hospital onde Amini morreu e publicou uma fotografia da família em luto nas redes sociais. "A coragem e o empenho de Niloufar Hamedi devem ser recompensados e não punidos", afirmou Jonathan Dagher, responsável da RSF, num comunicado de imprensa.

Elahe Mohammadi, 36 anos, jornalista do diário Ham Mihan, foi detida semanas depois da morte de Amini, por se ter deslocado à Saqquez, a cidade natal da jovem falecida, para cobrir o seu funeral.

Ambas estão detidas, e a ser julgadas por violação da segurança nacional, acusações que negam categoricamente. "A prisão durante quase um ano ilustra a terrível repressão da República Islâmica do Irão sobre os jornalistas e a sua rejeição da liberdade de imprensa e de uma informação fiável", acrescentou Jonathan Dagher.

Também Elnaz Mohammadi, a irmã gémea de Elahe, também jornalista, foi detida no início de setembro e condenada a três anos de prisão, a maior parte dos quais suspensa, por conspiração. De acordo com o seu advogado, cumprirá menos de um mês de prisão, na condição de frequentar uma formação “ética” supervisionada por agentes dos serviços secretos iranianos e não está autorizada a sair do país."O governo iraniano está determinado a silenciar estas duas irmãs jornalistas e as mulheres cujas vozes elas representam", condena o responsável da RSF.

Como reconhecimento pelo trabalho corajoso das jornalistas, a Clooney Foundation for Justice (CFJ), fundada pela advogada Amal Clooney e pelo seu marido, o ator George Clooney, atribuiu este ano às duas irmãs o Prémio Justiça para as Mulheres. "O seu trabalho corajoso ajudou a tirar da sombra a morte de Mahsa Amini", reconheceu a Clooney Foundation for Justice.

Vários grupos de defesa dos Direitos Humanos denunciam a repressão de que os jornalistas iranianos são alvo e a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), com sede em Paris, apela ao fim das “sanções indiscriminadas” contra todos os jornalistas do país.

c/agência France Presse (AFP)
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