Morte de Khashoggi. Trump envolve príncipe saudita no “pior encobrimento que já viu”

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Leah Millis, Reuters

O presidente norte-americano endureceu o discurso e responsabilizou a hierarquia saudita pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, a 2 de Outubro, no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia. Salvaguardando o rei, Donald Trump deixou críticas a Mohammed Bin Salman, deixando pela primeira vez a ideia de que o príncipe herdeiro poderá ser o mandante da morte de Khashoggi. Para já, a administração prepara-se para revogar os vistos das duas dezenas de sauditas alegadamente responsáveis pela operação de Istambul.

Esta terça-feira foram conhecidas a partir de Washington as primeiras consequências para a Arábia Saudita do homicídio de Jamal Khashoggi, o jornalista saudita que era um crítico do regime e uma voz incómoda para o reino.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, fez saber que os Estados Unidos vão revogar as licenças de entrada no país daqueles que estão envolvidos na operação do consulado que levou à morte do jornalista do Washington Post.

“[A Administração] identificou alguns desses indivíduos”, explicou Mike Pompeo, acrescentando que também está a trabalhar com o Departamento do Tesouro com vista a aplicar sanções contra os responsáveis sauditas que poderão ir do congelamento de bens e divisas até às proibições de viajar.

Numa explicitação das medidas anunciadas por Pompeo, a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, fez saber que “21 sauditas suspeitos de envolvimento na morte de Jamal Khashoggi terão os seus visas revogados ou deixarão de poder requerer um visa para entrar nos Estados Unidos.

A identificação destes cidadãos sauditas não será revelada, acrescentaria outro porta-voz do departamento em declarações registadas pela CNN, face à confidencialidade prevista na legislação americana para estes processos.“É o príncipe que está à frente das coisas”

Depois de um discurso errático ao longo das últimas semanas, o presidente Trump pegou no caso a partir da mais do que provável participação do príncipe Mohammed Bin Salman na operação do consulado. Pela primeira vez, numa entrevista ao Wall Street Journal, Trump colocou em cima da mesa a hipótese do envolvimento do príncipe herdeiro no homicídio, sublinhando que é “o príncipe que está à frente das coisas” em Riade.

“Bom, o príncipe está à frente das coisas, lá, e ainda mais agora, nesta fase. Ele está à frente das coisas, portanto, se há alguém [que esteja envolvido na operação do consulado] será ele”, respondeu Trump quando questionado pelo WSJ sobre um envolvimento do príncipe.

Se até agora Donald Trump parecia tomar como legítima a versão da coroa saudita de que nada teve a ver com o homicídio, as cartas poderão ter mudado de forma drástica para o rumo de Mohammed Bin Salman. O presidente americano, que tem Riade por tradicional aliado e um ponto seguro no Médio Oriente, deixou cair essa predisposição que vinha mantendo desde a primeira semana de Outubro, de proteger a imagem do príncipe. Pelo contrário, continua – como fez o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan – a dar o benefício da dúvida ao rei Salman.

Falando sobre a morte de Jamal Khashoggi, o presidente referiu-se à operação para silenciar o jornalista dissidente como uma série de incidentes que são “a pior tentativa de encobrimento que já viu”.

“A tentativa de encobrimento é a pior da história das tentativas de encobrimento”, declarou Trump, apelidando o episódio de “fiasco total”.
2 de Outubro

Jamal Khashoggi, 60 anos, entrou no consulado saudita em Istambul a 2 de outubro para recolher documentos relativos à preparação do seu casamento. Não sairia do complexo com vida.

Jamal Khashoggi, a residir nos Estados Unidos desde 2017, era uma voz incómoda para o regime saudita.

Apenas nos últimos dias foi reconhecido por Riade que o jornalista foi morto no consulado de Istambul.

Na sequência do caso, foram detidos na Arábia Saudita 18 pessoas suspeitas de envolvimento no esquema que levou ao assassinato de Khashoggi.

A agência estatal de notícias saudita revelou que um conselheiro próximo do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman também foi demitido, tal como três líderes dos serviços de informações.
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