Morte de Ismail Haniyeh. Retaliação contra Israel com luz verde do líder supremo do Irão

por Cristina Sambado - RTP
NurPhoto via AFP

O líder supremo do Irão promete vingar a morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, abatido na quarta-feira em Teerão. O ayatollah Ali Khamenei terá mesmo dado ordem para “atacar diretamente Israel”, segundo o jornal norte-americano The New York Times, que cita três funcionários iranianos familiarizados com as ordens.

Khamenei terá dado a ordem numa reunião de emergência do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão logo na manhã de quarta-feira, pouco depois de o Irão ter anunciado que Haniyeh havia sido morto, afirmaram os três funcionários iranianos, dois dos quais membros da Guarda Revolucionária.O Irão e o Hamas acusaram Israel do assassínio. Israel, que está em guerra com o Hamas na Faixa de Gaza, não reconheceu nem negou ter assassinado Haniyeh, que estava em Teerão para a tomada de posse do novo presidente do Irão. Israel tem um longo historial de matar inimigos no estrangeiro, incluindo cientistas nucleares ou comandantes militares iranianos.

Ao longo de quase dez meses de guerra em Gaza, o Irão tem tentado encontrar um equilíbrio, pressionando Israel com um aumento acentuado dos ataques dos seus aliados e das suas forças por procuração na região, evitando ao mesmo tempo uma guerra total entre as duas Nações.

Em abril, o Irão fez o seu maior e mais ostensivo ataque a Israel em décadas de hostilidades, lançando centenas de mísseis e drones em retaliação após um ataque israelita ao complexo da sua embaixada em Damasco, na Síria, que matou vários comandantes militares iranianos.

Os comandantes militares iranianos estarão a considerar outro ataque combinado de drones e mísseis contra alvos militares nas imediações de Telavive e Haifa, mas farão questão de evitar ataques a alvos civis, acrescentaram os responsáveis iranianos. Segundo o New York Times, uma opção que está a ser considerada é um ataque coordenado do Irão e de outras frentes onde tem forças aliadas, incluindo o Iémen, a Síria e o Iraque, para obter o máximo efeito.

Khamenei, que tem a última palavra em todos os assuntos de Estado e é também o comandante em chefe das Forças Armadas, terá dado instruções aos comandantes militares dos Guardas Revolucionários e do exército para prepararem planos de ataque e de defesa no caso de a guerra se expandir e Israel ou os Estados Unidos atacarem o Irão, afirmaram os responsáveis.

Na sua declaração pública sobre a morte de Haniyeh, Khamenei deu a entender que o Irão retaliaria diretamente.

O líder supremo prometeu “punição severa” pelo assassínio. “Consideramos que é nosso dever vingar o seu sangue derramado no território da República Islâmica”, declarou.

As declarações de outros responsáveis iranianos, incluindo o novo presidente, Masoud Pezeshkian, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, os Guardas e a missão do Irão na ONU, deixam também claro que o Irão retaliará contra Israel e que invocam o direito de defesa contra uma transgressão da soberania.O Irão e as forças regionais que o país apoia - o Hamas, o Hezbollah no Líbano, os houthis no Iémen e várias milícias no Iraque - formam aquilo a que chamam o “eixo da resistência”. Os líderes desses grupos estiveram em Teerão para a tomada de posse de Pezeshkian, na terça-feira. Haniyeh foi assassinado cerca das 2h00, hora local, depois de ter participado na cerimónia e de se ter avistado com Khamenei.

De acordo com os meios de comunicação social iranianos, Ismail Haniyeh “encontrava-se numa das residências especiais para veteranos de guerra no norte de Teerão quando foi morto por um projétil aéreo”.

Analistas ouvidos pelo New York Times consideram que a retaliação iraniana é necessária para vingar a morte de Haniyeh, mas também para dissuadir Israel de matar outros inimigos poderosos, como Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah, ou o general Ismail Qaani, o comandante das Forças Quds que supervisiona os grupos militantes fora do Irão.Funeral de Haniyeh em Teerão
O funeral oficial do líder político do movimento radical palestiniano Hamas começou na madrugada desta quinta-feira no centro da capital.

O líder supremo da República Islâmica, Ali Khamenei, preside a uma cerimónia de orações em memória de Ismail Haniyeh, que saudou como “um notável combatente da resistência palestiniana”, antes do seu funeral na sexta-feira no Catar, onde vivia no exílio.
O assassinato do líder político do Hamas, de 61 anos, e um ataque israelita na terça-feira, que matou o chefe militar do Hezbollah libanês, Fouad Chokr, perto de Beirute, suscitaram o receio de um alastramento da guerra que se desenrola há quase dez meses na Faixa de Gaza entre Israel, inimigo declarado do Irão, e o Hamas, apoiado por Teerão.

Apesar de todas as tentativas de mediação terem falhado, a guerra aumentou as tensões no Médio Oriente entre Israel, por um lado, e o Irão e os seus aliados no Líbano, Iémen, Iraque e Síria, incluindo o movimento islâmico libanês Hezbollah, por outro.
Israel preparado para qualquer cenário
Em conferência de imprensa, na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita não comentou a morte do líder político do Hamas. Benjamin Netanyahu quis, todavia, reiterar que quem ameaçar o Estado hebraico pagará um preço alto.

O primeiro-ministro israelita considera que o país tinha infligido “golpes severos” aos seus “inimigos” nos últimos dias, mencionando explicitamente a eliminação de Fouad Chokr.
“Eliminámos o braço direito de Hassan Nasrallah”, o líder do Hezbollah, "que foi o responsável direto pelo massacre de crianças", declarou na televisão, referindo-se à morte de 12 crianças e adolescentes mortos no sábado num ataque atribuído por Israel ao movimento xiita libanês. Israel, por seu lado, não fez qualquer comentário sobre o ataque de Teerão.

Netanyahu destacou também que as forças militares do seu país estão prontas para enfrentar “qualquer cenário”, num contexto de crescente tensão com as milícias pró-iranianas na região.

"Continuamos unidos e determinados a enfrentar qualquer ameaça. Israel cobrará um preço muito alto por qualquer agressão de qualquer horizonte", destacou o chefe do Governo, após realizar uma reunião com o seu gabinete de segurança que durou quase três horas.

O primeiro-ministro israelita garantiu que Fouad Chokr, principal comandante do Hezbollah, foi “diretamente responsável" pelas mortes no ataque à cidade drusa de Majdal Shams, nos Montes Golã ocupados por Israel na Síria.Fonte próxima do Hezbollah confirmou à AFP, na quarta-feira, que o corpo de Fouad Chokr foi encontrado sob os escombros do edifício visado, nos subúrbios do sul de Beirute, um reduto do movimento pró-iraniano.

Chokr morreu após um “ataque seletivo” executado pelo Exército israelita contra o quartel-general de um grupo no sul da capital libanesa, Beirute.

No seu discurso, Netanyahu deu os parabéns a todos os que participaram na operação.

"Era um dos terroristas mais procurados do mundo. Os Estados Unidos colocaram-lhe na cabeça um prémio de cinco milhões de dólares e não em vão", indicou, recordando também o seu papel nos ataques perpetrados em 1983, em Beirute, contra uma base norte-americana, onde morreram 241 soldados.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, advertiu na quarta-feira que a situação poderia “ficar fora de controlo” após o ataque perto de Beirute.

Várias companhias aéreas suspenderam os voos para a capital libanesa. Na quarta-feira, Washington reforçou a sua recomendação de “não viajar” para o Líbano.

O Hezbollah, aliado do Hamas, abriu uma frente contra Israel na sua fronteira norte com o Líbano, na sequência do ataque sem precedentes do movimento palestiniano em solo israelita, a 7 de outubro, que desencadeou a guerra na Faixa de Gaza.

O ataque causou a morte de 1.197 pessoas, na sua maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas.

Das 251 pessoas raptadas na altura, 111 continuam detidas em Gaza, 39 das quais morreram, segundo o exército.

c/ agências
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