Mortalidade infantil e materna sobe no sul da Ásia com efeitos colaterais da pandemia
Diariamente são reportados os novos casos e o número de vítimas mortais da Covid-19, mas a quantidade de pessoas afetadas indiretamente pela pandemia pode ser bastante superior ao que sabemos. Esta quarta-feira, as Nações Unidas revelaram que, com a suspensão de serviços de saúde nos últimos meses, podem ter morrido cerca de 239 mil crianças e mulheres grávidas no sul da Ásia.
Um dos problemas é que os sistemas de saúde, que já estavam sobrecarregados na região, não estavam preparados para se ajustar rapidamente a esta nova realidade. Dessa forma, "mulheres e crianças começaram a deparar-se com "limitações no acesso às instituições" de saúde.
De acordo com este estudo da agência das Nações Unidas para a defesa dos direitos das crianças, registaram-se cerca de 228 mil mortes a mais de crianças com menos de cinco anos nestes países, devido à suspensão dos serviços essenciais - de saúde e sociais, que garantiam também a nutrição e imunização de muitas famílias. Estes dados são baseados em mudanças reais observadas e na comparação dos valores atuais com dados pré-pandemia do sul da Ásia, onde, só em 2019, morreram 1,4 milhões de crianças com menos de cinco anos, das quais quase dois terços (63 por cento) eram recém-nascidas.
O relatório revela ainda que se registaram menos 80 por cento de crianças em tratamento para a desnutrição grave no Bangladesh e no Nepal, e que a vacinação infantil - contra a difteria, o tétano e a tosse convulsa - desceu 35 por cento na Índia e 65 por cento no Paquistão.
Para agravar, os dados indicam que a mortalidade infantil na Índia aumentou 15,4 por cento e no Bangladesh 13 por cento. Já a mortalidade materna aumentou 21,5 por cento no Sri Lanka e 21,3 por cento no Paquistão.
"O declínio desses serviços essenciais teve um impacto devastador na saúde e nutrição das famílias mais pobres", afirma o diretor regional da Unicef, George Laryea-Adjei, no relatório. "É absolutamente vital que esses serviços sejam totalmente restabelecidos para crianças e mães que precisam desesperadamente deles e que tudo seja feito para que as pessoas se sintam seguras quando usam esses serviços", acrescentou.
A ONU revela que a pandemia também terá provocado quase 11 mil mortes maternas e 3,5 milhões de gravidezes indesejadas, nos últimos meses, devido à falta de acesso aos cuidados de saúde maternos e até de contraceção entre os jovens.
O problema é que esta situação ameaça promover o aumento de casamentos infantis e aumentar em cerca de 400 mil o número de gravidezes de adolescentes, assim como fazer crescer o número de mortes maternas e neonatais ou mesmo provocar uma subida da taxa de crianças com atrasos de desenvolvimento.
"O abandono da escola está associado ao casamento precoce, especialmente para as meninas", esclarece o relatório, que acrescenta que "há provas de que o número de gravidezes na adolescência aumentou durante os últimos meses com o encerramento das escolas".
Com os dados em questão, os especialistas prevêem que os casos de gravidez na adolescência aumente 28 por cento no próximo ano, com as restrições da Covid-19. Em consequência, estimam que também o risco de mortalidade neonatal aumente nove por cento e o nascimentos de bebés desnutridos aumente 42 por cento.