Morreu Zhao Ziyang

por Agência LUSA
EYEPRESS

Durante a década de 80, Zhao Ziyang foi uma das principais figuras políticas da China, responsável pelas reformas capitalistas e abertura ao Mundo, passando a ser tema "tabu" no país depois de apoiar os estudantes em 1989.

Zhao Ziyang, 85 anos, falecido hoje às 07:01 (23:01 de domingo em Lisboa) num hospital em Pequim, vítima de doença, foi afastado do posto de secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), sob a acusação de "apoiar" os protestos estudantis pró-democracia de Tiananmen, em 1989.

O governo chinês quebrou hoje o habitual silêncio sobre o antigo líder reformista para dizer que o "Camarada Zhao Ziyang faleceu", num curto despacho da Agência noticiosa oficial Nova China.

Desde o afastamento do cargo de secretário-geral do PCC que Zhao Ziyang se encontrava em prisão domiciliária na sua residência em Pequim, mas nunca foi expulso do Partido.

A última aparição pública de Zhao Ziyang aconteceu a 19 de Maio de 1989, quando visitou os estudantes que se manifestavam na Praça de Tiananmen.

Rotulado como o "eleito" de Deng Xiaoping para executar os planos de reformas económicas e a abertura da China ao exterior, Zhao chegou ao governo central em 1979, para ser membro do Politburo do PCC e vice-primeiro-ministro.

Em 1980 foi nomeado primeiro-ministro, cargo que ocupou até 1987, ano em que subiu ao posto de secretário-geral do Partido Comunista Chinês, até ser deposto em Junho de 1989.

Até cair em desgraça, Zhao Ziyang foi o líder modelo para os dirigentes nacionais, lançando os planos concebidos por Deng Xiaoping, o "arquitecto" das reformas económicas e da abertura da China ao exterior.

Em declarações proferidas nos anos 90 por Zhao Ziyang, reveladas recentemente em Hong Kong, o antigo dirigente culpa Deng Xiaoping pelo massacre de Tiananmen e defende que os protestos poderiam ter sido resolvidos de um modo pacífico.

Quando Zhao visitou os estudantes disse, em lágrimas, a um grupo de manifestantes que faziam greve de fome: "Vim tarde demais".

Um dia depois da deslocação de Zhao a Tiananmen para falar com os estudantes, o governo chinês declarou a Lei Marcial.

Na noite de 03 para 04 de Junho, o Exército avançou sobre os manifestantes, matando centenas, senão milhares de pessoas, num balanço de vítimas nunca revelado oficialmente.

Numa pouco cerimoniosa mensagem, três semanas após o massacre, a 24 de Junho, o PCC anunciou ao país a deposição de Zhao Ziyang.

"O camarada Zhao Ziyang cometeu sérios erros em apoiar os tumultos e gerar divisão dentro do partido. Teve a responsabilidade pela formação e desenvolvimento dos tumultos", referiu o comunicado de então.

Ao lado de Zhao Ziyang, quando este visitou os estudantes, estava o seu então assessor directo, Wen Jiabao, o actual primeiro- ministro chinês.

Quando assumiu o cargo de chefe de governo, em Março de 2003, Wen Jiabao foi questionado, em conferência de imprensa, se iria ajudar o seu antigo líder, mas o primeiro-ministro limitou-se a afirmar que "a estabilidade" do país é a sua principal prioridade.

Zhao Ziyang ascendeu ao governo central, após o sucesso da "experiência de Sichuan", província onde chefiou o PCC, a partir de 1975, e aplicou os "novos métodos de gestão económica" no modo de exploração agrícola, para acabar com o sistema de comunas.

A "experiência de Sichuan" tornou-se num modelo para o país.

Em 1989 não foi a primeira vez que Zhao caiu em desgraça.

Durante a violenta Revolução Cultural (1966-1976), Zhao Ziyang, então chefe do PCC, na província de Guangdong (sul), foi julgado na praça pública pelos "guardas vermelhos" e foi deportado para um campo de reabilitação, em 1967, durante quatro anos.

Em 1971, Zhao foi reabilitado e conduzido para a chefia do PCC na província da Mongólia Interior.

Filho de uma família de grandes proprietários agrícolas, nascido em 1919, na província central de Henan, Zhao aderiu ao PCC em 1932 e nos anos 50, após a tomada do poder na China pelos Comunistas, foi responsável por reformas agrícolas e políticas em Guangdong.

Pouco se sabe sobre a sua vida privada, além do facto de que foi casado duas vezes, tem quatro filhos, uma filha.

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