Morreu Kim Ki-nam, a versão norte-coreana de Goebbels

por Cristina Santos - RTP
Kim Ki-nam (à esquerda), em 2009, no funeral do ex-presidente sul-coreano Kim Dae-jung Reuters

Kim Ki-nam, o obreiro do regime totalitário da Coreia do Norte, tinha 94 anos e morreu devido à idade e a “falha generalizada de órgãos”, adiantou a agência estatal norte-coreana KCNA. O dirigente estava hospitalizado desde 2022.

Kim Ki-nam não pertencia à família que governa a Coreia do Norte há décadas, apesar de partilhar o apelido que, no entanto, é dos mais comuns nas duas Coreias. 
De acordo com a agência sul-coreana Yonhap, Ki-nam tinha um relacionamento próximo com Kim Jong-il, pai do atual ditador Kim Jong-un, sendo ambos descritos como “companheiros de copos”.

Durante décadas, Ki-nam liderou a propaganda do regime totalitário, que tem vivido também à volta do culto da personalidade da família que governa a Coreia do Norte. 

O atual líder norte-coreano, Kim Jong-un, compareceu no funeral, na manhã desta quarta-feira, e prestou homenagem ao “veterano revolucionário que permaneceu infinitamente leal” ao regime, conta a KCNA.A Yonhap compara Ki-nam ao responsável pela propaganda da Alemanha nazi, Joseph Goebbels, amplamente conhecido por afirmar que "uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade".

Kim Ki-nam é uma das poucas autoridades norte-coreanas que visitaram o sul da península, liderando uma delegação que compareceu ao funeral do ex-presidente sul-coreano Kim Dae-jung, em 2009.

Um exemplo de como funciona a máquina de propaganda surgiu depois da morte súbita de Kim Jong-il em 2011. O desaparecimento do “pai da Coreia do Norte” acelerou a ascensão do seu filho, Kim Jong-un, como líder do país com apenas 20 anos, à época.
“Nenhuma força na terra pode impedir o avanço revolucionário do nosso partido, exército e povo sob a sábia liderança de Kim Jong-un”, clamava a KCNA após a morte de Kim Jong-il.

Em declarações à BBC, Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul, afirma que a morte de Kim Ki-nam marca “o fim de uma era” para a propaganda norte-coreana. Isto porque “procurou glorificar o regime de Pyongyang de uma forma que fosse além da Península Coreana”.

No entanto, a atual máquina de propaganda do Estado afastou-se da abordagem da “geração anterior ao nacionalismo pan-coreano”. “Agora, Kim Jong-un demoniza os sul-coreanos e depende fortemente de armas nucleares para obter legitimidade política”.

Kim Ki-nam reformou-se no final da década de 2010 e quem passou a controlar a propaganda estatal foi a irmã de Jong-un, Kim Yo-jong, mas o líder manteve Ki-nam por perto porque, tal como o seu pai, “confiava” nele, sublinha outra especialista desta região do planeta, Rachel Lee.
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