O antigo diretor de uma agência de modelos Jean-Luc Brunel foi encontrado enforcado na cela, enquanto aguardava a conclusão da investigação a suspeitas de violação e de tráfico de menores para exploração sexual. Próximo do milionário americano Jeffrey Epstein, Brunel sempre negou as acusações. Os seus advogados dizem que foi "esmagado" pelas acusações e responsabilizaram o "sistema judicial assente nos media".
Com o desaparecimento de Brunel extingue-se a ação pública no que respeita à investigação às alegadas violações de “menor com mais de 15 anos”, uma aberta em junho de 2021 e outra em dezembro de 2020, bem como a eventual “assédio sexual”. Brunel negava veementemente as acusações. Também já tinha rejeitado acusações de violação por várias antigas top models.
"A sua angústia era a de um homem de 75 anos esmagado por um sistema judicial mediático sobre o qual será tempo de nos questionarmos. Jean-Luc Brunel nunca deixou de proclamar a sua inocência. Multiplicou esforços para prová-la”, reagiram os seus advogados.
Figura conhecida da moda francesa, Brunel era um dos co-fundadores da agência de modelos Karin Models em França, em 1977. Depois de ter sido banido da agência em 1999, por alegados abusos, mudou-se para os Estados Unidos, onde fundou a MC2 Model Management com financiamento de Epstein. O milionário americano foi encontrado morto na prisão de Manhattan, em agosto de 2019, enquanto esperava para ser julgado por alegada rede de tráfico de menores para fins sexuais.
Brunel tinha sido detido no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, quando ia apanhar um voo para Dakar, Senegal.
Angariador ou injustiçado
Jean-Luc Brunel, natural de Paris, foi acusado de ter sido angariador para Jeffrey Epstein na Europa de jovens aspirantes a uma carreira na moda. O nome de Brunel apareceu na primeira investigação feita a Jeffrey Epstein, em 2007-2008. Por sua vez, o americano era proprietário de um apartamento na elegante Avenida Foch, em Paris.
A polícia da Flórida encontrou mensagens suspeitas de Brunel para Epstein, incluindo esta: “Há uma prof(essora) para ti, para te ensinar a falar russo. Ela tem 2x8 anos, não é loira”.
A polícia francesa começou a investigar a atividade em Paris, alertada pela existência de possíveis vítimas francesas em 2019. Na altura, várias antigas manequins vieram a público acusar Brunel de violação.
Alegadas vítimas de Brunel dececionadas
Uma das principais denunciantes de Epstein, Virginia Giuffre, também alegou ter sido forçada a ter sexo com Brunel.
A morte de Brunel "marca o fim de outro capítulo", reagiu na rede social Twitter. "Estou desapontada por não poder enfrentá-lo num processo para responsabilizá-lo, mas feliz por podido testemunhar no ano passado para o levar à prisão", escreveu.
“Depois de mais de dois anos e meio a lutar por justiça, desde que denunciei Brunel em setembro de 2019, é uma grande deceção que ele nunca venha a enfrentar um juiz”, disse a ex-modelo holandesa Thysia Huisman.The suicide of Jean-Luc Brunel, who abused me and countless girls and young women, ends another chapter. I’m disappointed that I wasn’t able to face him in a final trial to hold him accountable, but gratified that I was able to testify in person last year to keep him in prison.
— Virginia Giuffre (@VRSVirginia) February 19, 2022
A advogada Anne-Claire Le Jeune falou da “frustração e amargura de não poder obter justiça, como foi para as vítimas de Epstein”. “Exigiu tanta coragem tomar a palavra, ser ouvido pelos serviços de polícia e juízes de instrução, é terrível para as vítimas”, que têm a sensação que Brunel parte “com um certo número de segredos”. Terão sido realizadas cerca de 500 audiências.
Em dezembro do ano passado, a ex-namorada de Epstein, Ghislaine Maxwell, foi condenada por tráfico sexual. Foi declarada culpada por um júri americano por ter recrutado e aliciado adolescentes para Epstein entre 1994 e 2004.