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Mondlane garante protestos nas ruas até reposição da "verdade eleitoral"

por RTP
Mondlane está em parte incerta há várias semanas Alfredo Zuniga - AFP

O candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 9 de outubro em Moçambique, anunciou que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral. Os protestos de quinta-feira provocaram três mortos e 66 feridos.

Se não houver reposição da verdade eleitoral, estas manifestações não vão parar. Vamos ocupar a cidade de Maputo até se devolver a vontade do povo. Caso contrário, a cidade de Maputo vai ficar ocupada de uma forma indefinida. Sem prazo. Até à devolução dos resultados eleitorais. É isso que queremos”, afirmou.

Sem dizer onde se encontra, Venâncio Mondlane disse que não está a participar nas marchas porque o povo lhe pediu. “Não estou aí nas marchas porque o povo pediu. O povo ordenou: ‘Venâncio não sai de onde você está’. Estou a cumprir o que o povo me está a obrigar a fazer”, justificou.

Mondlane, que fez o anúncio numa ‘live’ na rede social Facebook, acusou a polícia de estar a saquear estabelecimentos comerciais e, no bairro de Maxaquene, de ter matado duas pessoas.

 
“O povo está disponível para tomar o poder e vai tomar o poder. A hora já chegou e o povo já tomou o poder”, frisou, referindo-se aos populares que estão nas ruas da capital moçambicana.

Dirigindo-se às forças de segurança e aos militares, Mondlane instou-os a colocarem-se ao lado do povo.

Temos muitos militares que estão neste momento a ter uma ação exemplar, de patriotas. Não temos nenhum registo de um militar que tenha disparado contra o povo. Alguns polícias, nalgumas ruas, estão a colaborar com o povo. Continuem assim e passem a mensagem para outros polícias”, sublinhou.

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 9 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67 por cento dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane. Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32 por cento, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Pelo menos três mortos e 66 feridos na quinta-feira
Segundo o Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade do país, pelo menos três pessoas morreram e 66 pessoas ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira.

“Ontem, dia 7, [quinta-feira] em todas as nossas portas de entrada tivemos um cumulativo de 138 admitidos, dos quais a urgência de adultos teve 101 pacientes. Dos 101 pacientes, 66 foram vítimas dessas manifestações e os restantes foram por outras causas”, disse o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, Dino Lopes, em declarações à comunicação social.

Dados apresentados pelo responsável dão conta de que pelo menos três pessoas perderam a vida na quinta-feira, em resultado das manifestações.

“Dos 66 feridos, tivemos 57 possivelmente com lesões causadas por armas de fogo, quatro por queda, três por agressão física e dois feridos com armas brancas”, acrescentou o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM.

Adiantou ainda que do total dos feridos, quatro pacientes encontram-se em estado grave, sendo que deste número dois necessitaram de intervenções cirúrgicas e um encontra-se sobre cuidados intensivos na maior unidade hospitalar do país.

Já as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) afirmaram que ao início da noite passada a situação no país, face aos violentos protestos pós-eleitorais, sobretudo em Maputo, era estável e que estão no terreno em “apoio” às forças de segurança.

“Em momentos como este, com manifestações ocorrendo em algumas regiões, o nosso papel estende-se também ao apoio das forças de segurança na manutenção da ordem e tranquilidade públicas, sempre atuando de forma subsidiária e em coordenação com as autoridades civis”, afirmou o general Omar Saranga, em representação das FADM.

Garantiu que os militares no terreno estavam, ao início da noite, a remover pneus queimados e outros destroços de barricadas das avenidas da capital onde manifestantes deixaram as vias praticamente intransitáveis, após violentos confrontos com as forças policiais, que durante todo o dia dispararam tiros e gás lacrimogéneo na tentativa de desmobilizar estes grupos.

Nós, digo todas as Forças de Defesa e Segurança, estão a controlar a situação. E os moçambicanos estão a compreender que a prioridade não é destruir, a prioridade é construir. E a nossa presença, com outras forças, é exatamente para contribuir para esse efeito”, garantiu na mesma declaração, em Maputo, o general Omar Saranga, Chefe do Estado-Maior do Comando no Teatro Operacional Norte.

O estado geral da Nação é estável. Está controlado. As instituições públicas, embora não estejam a funcionar na sua maior força - se hoje não o fizeram é porque as condições não o permitiam – porque há que salvaguardar a vida desses moçambicanos”, acrescentou, sublinhando que “o direito de uns não deve impedir o direito de outros”.

“Nos próximos dias é continuar a agir como agimos hoje [quinta-feira]. Mostrar que estamos firmes na construção de um Moçambique forte e unido”, acrescentou. 

Milhares de manifestantes tentaram invadir o centro da capital de Moçambique durante mais uma marcha contra os resultados eleitorais. A polícia voltou a usar gás lacrimogéneo para dispersar o protesto em Maputo.
Tiago Contreiras - RTP

Na noite de quinta-feira, o oitavo dia das greves convocadas por Venâncio Mondlane, o centro de Maputo apresentava um rasto de destruição, mas a situação estava mais calma, o comércio permanecia fechado e as ruas desertas, como contou o correspondente da RTP em Moçambique, Tiago Contreiras.
  No entanto, no centro de Maputo mantinham-se os bloqueios dos militares e da polícia, principalmente junto à zona da Presidência da República.

Em declarações ao jornalista João Couraceiro da Antena 1, o sociólogo João Feijo, que está na capital moçambicana, afirmou que é nos subúrbios de Maputo que a revolta popular tem mais expressão.

Consulado de Portugal cria canal de comunicação direta O Consulado-Geral de Portugal em Maputo criou um grupo na rede social Whatsapp “para disponibilizar um canal de comunicação direta adicional”, tendo em conta a “atual situação de instabilidade” em Moçambique, revelou à Lusa fonte diplomática.

 
Este canal é exclusivamente destinado à comunidade portuguesa na área de jurisdição do Consulado-Geral para contactos em contexto de situações de crise”, explica o Consulado-Geral.

A divulgação da criação do grupo foi feita na página do Consulado-Geral na rede social Facebook e na mensagem publicada são recordados tanto o número de emergência do Consulado-Geral - +258 843987647 -, como os números de emergência disponíveis e o endereço eletrónico gec@mne.pt do Gabinete de Emergência Consular: +351 217 929 714 (atendimento 24 horas) e ainda o +351 961 706 472.

Por cá, o Presidente da República e o primeiro-ministro apelaram à “tranquilidade” em Moçambique.

O primeiro-ministro não esconde a preocupação com a situação política em Moçambique, e pede tranquilidade na reação aos resultados eleitorais.
O mesmo apelo foi feito pelo presidente da República, que assume que neste momento Portugal não deve ir além dos apelos à paz em Moçambique.

Na noite de quinta-feira, dezenas de manifestantes concentram-se a noite passada em Lisboa, num protesto contra a situação em Moçambique. A marcha começou na embaixada de Moçambique e rumou à Praça do Comércio.
  Os manifestantes pediram o fim da violência policial, assassinatos e raptos no país.

c/Lusa
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