Moçambique. União Africana pede "solução pacífica" para confrontos pós-eleitorais

por Lusa

A União Africana (UA) pediu hoje uma "solução pacífica" para os confrontos pós-eleitorais em Moçambique, que se agravaram desde o anúncio, na segunda-feira, dos resultados finais das eleições gerais de 09 de outubro.

Numa declaração emitida a partir da sede da UA, em Adis Abeba, capital da Etiópia, o presidente da Comissão daquela organização, Moussa Faki Mahamat, manifestou a sua "profunda preocupação com a violência em curso, particularmente após a proclamação dos resultados finais das eleições pelo Conselho Constitucional, em que dezenas de pessoas perderam a vida".

O responsável manifestou "sinceras condolências às vítimas" e fez um "apelo à calma", instando ao mesmo tempo a polícia a exercer "contenção no uso da força no meio da violência e a manter a ordem pública".

Mahamat instou ainda o Governo e todos os atores políticos e sociais a procurarem "uma solução pacífica para resolver a atual crise e evitar mais perdas de vidas e destruição de bens".

O presidente da Comissão reafirmou o compromisso da UA em trabalhar com o Governo moçambicano e as partes interessadas, bem como com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), para acabar com a violência e salvaguardar a democracia no país.

Moçambique vive hoje o quarto dia de tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, em que morreram pelo menos 56 pessoas, nos dias 23 e 24 de dezembro. Este número soma-se aos pelo menos 130 mortos registados desde 21 de outubro nos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança, segundo a plataforma eleitoral Decide.

O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Entretanto, pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais e em que morreram 33 pessoas.

Segundo o comandante-geral da polícia, a evasão da Cadeia Central de Maputo, na cidade da Matola, a 14 quilómetros do centro da capital moçambicana e que contava com cerca de 2.500 condenados e detidos, resultou da "agitação" de um "grupo de manifestantes subversivos" nas imediações.

Numa intervenção a partir da rede social Facebook, Venâncio Mondlane acusou hoje as autoridades de terem propositadamente deixado sair estes reclusos, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.

Mondlane afirmou que as manifestações não vão parar, pedindo aos seus apoiantes que "intensifiquem" os protestos, evitando, no entanto, a destruição de bens públicos e privados: "O nosso foco não são os empresários e os seus estabelecimentos comerciais. O nosso foco são as instituições que fizeram esta fraude. É lá onde as manifestações devem ocorrer".

 

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