Moçambique dispõe de matérias-primas para produzir biocombustíveis em quantidade suficiente para reduzir a dependência em relação a combustíveis fósseis, refere um relatório consultado hoje pela Lusa.
"O estudo enfatiza o potencial do bioetanol e do biodiesel para contribuir para a matriz energética de Moçambique e reduzir a sua dependência de combustíveis fósseis", lê-se no relatório do "Estudo de Viabilidade do Mercado de Biocombustíveis", encomendado pelo Governo moçambicano.
O grande potencial de produção da cana-de-açúcar e de mandioca constitui uma oportunidade para a geração de bioetanol, enquanto oleaginosas como a soja e o girassol poderiam ser cruciais para o biodiesel, avança-se no documento.
O relatório também destaca "a necessidade de investimento na produção agrícola e infraestrutura e traça uma linha de investimentos visando fomentar parcerias entre agricultores locais e investidores internacionais".
O estudo aponta que a capacidade agrícola substancial de Moçambique constitui uma das principais forças para o desenvolvimento de uma indústria de biocombustíveis.
"O país tem mais de 80 milhões de hectares de terra, com apenas uma pequena percentagem atualmente em cultivo", observa o documento.
Sublinha ainda que o setor de biocombustíveis podia criar milhares de empregos, especialmente para pequenos agricultores envolvidos na produção de matérias-primas.
Também melhoraria a balança de pagamentos, reduzindo a necessidade de importação de combustíveis, destaca-se no documento.
Por outro lado, "a indústria de biocombustíveis tem o potencial de gerar benefícios económicos significativos, particularmente em áreas rurais onde a agricultura é a principal fonte de emprego".
Embora o país já possua capacidade para armazenamento e distribuição de combustíveis, a integração de biocombustíveis exigirá investimentos adicionais em infraestrutura, aponta o estudo.
Nesse sentido, "recomenda-se a localização estratégica de instalações de produção de biocombustíveis perto de centros de consumo, especialmente nas regiões sul e centro, para reduzir os custos de transporte e garantir uma distribuição eficiente".
O relatório enfatiza que os esforços de Moçambique para estabelecer uma indústria de biocombustíveis remontam ao início dos anos 2000, mas iniciativas anteriores enfrentaram vários obstáculos.
Entre os referidos desafios estão os direitos sobre a terra, competição com a produção de alimentos e preocupações de sustentabilidade.
No entanto, com a introdução do Decreto 61/2023, que estabelece a obrigatoriedade de misturar biocombustíveis produzidos internamente com combustíveis importados, o país renovou o compromisso com o desenvolvimento de biocombustíveis, salienta o relatório.
O estudo, desenvolvido em colaboração com a Corporação Financeira Internacional (IFC), foi concluído como um passo significativo na estratégia de transição energética do país, sob o Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE), que visa o estímulo económico do país.